Economia
Ações da Gol despencam pelo segundo dia seguido. O que pode acontecer com a companhia aérea? Veja a real situação
Empresa pediu recuperação judicial nos EUA, para ganhar uma trégua em relação às dívidas que superam R$ 20 bi, mas queda na Bolsa levantam dúvidas. A Gol vai falir? Confira respostas para essas e outras perguntas

Pelo segundo dia consecutivo, as ações da Gol derreteram na Bolsa de São Paulo, a B3, e fecharam com queda de 26% em seu último dia como integrante do Ibovespa. A desvalorização bilionária da companhia está ligada ao início de sua recuperação judicial nos Estados Unidos, que dá mais tempo para o pagamento de uma dívida de R$ 20,1 bilhões, e à decisão da B3 de retirar a companhia do seu princípal índice e de outros nove que balizam o mercado.
Tudo o que você precisa saber: Por que a Gol entrou em crise? O que muda para passageiros?
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A retirada das ações do Ibovespa é protocolar quando uma companhia ingressa nesse tipo de processo. Também a Bolsa de Nova York suspendeu a negociação de recibos de ações (ADRs) da Gol, após o pedido de ingresso no chamado Chapter 11, referência ao capítulo 11 da lei de falências dos EUA. Mas a Gol vai falir?
Ainda não há um indicador de que isso possa acontecer. A recuperação judicial é justamente uma forma de dar condições de a empresa se recuperar, como aconteceu recentemente com a rival Latam. Mas é inegável que o turbilhão sobre a Gol Linhas Aéreas começou a levantar dúvidas sobre o futuro da empresa e a capacidade de seguir atentendo ao fluxo de passageiros.
A companhia diz que não haverá qualquer prejuízo às suas operações, manterá normalmente os serviços aos passageiros e usará a trégua dos credores nos EUA para reestruturar suas finanças. No entanto, durante esse caminho, muita coisa pode mudar na empresa e no setor de aviação no Brasil.
Entenda melhor a seguir o processo pelo qual a Gol está passando.
A empresa já perdeu muito valor de mercado?
A desconfiança do mercado se acentuou na segunda-feira, quando as ações despencaram depois de divulgada a informação de que o patrimônio líquido da empresa é de R$ 23,3 bilhões, como consta em documentos entregues à Justiça americana pela empresa. Os papéis fecharam com queda de 33% na segunda, quando atingiram a menor cotação em mais de sete anos. Hoje, o novo tombo foi de 26%.
Em dois dias, a empresa perdeu nada menos que 51,5% do seu valor de mercado.
Por que a Gol pediu recuperação judicial?
A Gol afirma que recorreu ao Chapter 11 — processo que corre na Justiça dos EUA e é similar à recuperação judicial brasileira — para reestruturar suas obrigações financeiras de curto prazo e fortalecer sua estrutura de capital no longo prazo.
Para além do endividamento, pesou a dificuldade que a companhia vem enfrentando para chegar a um acordo com seus lessors (arrendadores de aviões). As conversas correm desde meados de 2023, sem acordo.
A Gol explica que precisa garantir a expansão de sua frota de aviões para ampliar operações e receitas. Do total de 15 aeronaves da Boeing previstas para serem entregues à companhia em 2023, apenas uma foi entregue, informou a Gol. A frota tem 143 aviões.
Por que decidiu fazer isso nos EUA?
Celso Ferrer, CEO da Gol, explicou que a escolha pela Justiça americana tem duas explicações principais. A primeira delas é que a maior parte dos lessors está sediada no país. Depois, esses processos são mais céleres nos EUA.
Em recuperação judicial: ações da Gol desabam pelo segundo dia na Bolsa. Mas o que muda para o passageiro?
Ele avalia ainda que a recuperação judicial da Gol — justificando se tratar de uma companhia de estrutura mais simples, com frota padronizada, e negociações com arrendadores já em andamento — dure substancialmente menos que as realizadas por outras aéreas latino-americanas, como Latam Airlines e Avianca Colômbia.
Como a Gol pretende avançar?
Ao pedir recuperação judicial, a Gol apresentou um compromisso de financiamento vindo de detentores de títulos da companhia ligados ao Abra Group — holding controladora da empresa e da Avianca — no valor de US$ 950 milhões.
Nesta segunda-feira, a Corte americana o financiamento, que será do tipo DIP, ou seja, concedido no âmbito do processo de recuperação. O valor liberado, contudo, foi de US$ 350 milhões. A soma restante somente terá o aval da Justiça sob condições determinadas e ao longo do processo.
Essa decisão ampliou a queda das ações em Bolsa, porque investidores passaram a contar com uma possível conversão de parte da dívida em ações da companhia como solução para reestruturar as finanças.
Quem são os principais credores?
Ao todo, a Gol soma mais de 50 mil credores, aí incluídos a Infraero, aeroportos brasileiros, arrendadores de aeronaves, empresas de manutenção de motores e outras.
O banco americano BNY Mellon (US$ 539,9 milhões), o Comando da Aeronáutica (US$ 222,5 milhões), a Vibra, antiga BR (US$ 91,4 milhões), o Grupo Air France-KLM (US$ 25,2 milhões) —parceiro da empresa brasileira — e a Boeing (US$ 15,2 milhões) são os maiores credores registrados pela Gol na lista dos 30 principais créditos do processo, segundo documento entregue pela empresa aérea à Justiça dos EUA.
Quais são as possíveis saídas para a companhia?
A Gol representa hoje um terço das operações da aviação civil no mercado doméstico, com 33,3% de participação de mercado, segundo dados de dezembro de 2023 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Vem atrás da Latam (38,7%) e seguida pela Azul Linhas Aéreas (27,5%).
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O Chapter 11 permite que as empresas fiquem protegidas contra execuções enquanto negociam acordos com credores que permitam equacionar os gargalos financeiros. Para sanar o problema, uma gama de soluções pode ser adotada.
Para Alessandro Oliveira, professor e pesquisador do Núcleo de Economia do Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), a Gol tem condições para se recuperar, considerando uma companhia de grande porte, com mais de 20 anos de experiência no mercado brasileiro.
— A empresa tem tudo nas mãos para se recuperar. Mas se tiver de fazer ajustes muito fortes é possível abrir espaço para outras empresas ocuparem, incluindo suas principais rivais — diz. — O processo também poderia levar a algum tipo de fusão, que também é um caminho de reestruturação.
Ele destaca que a pandemia — quando os aviões de companhias de todo o planeta foram aterrados — deixou como legado um passivo que as empresas terão de resolver em médio e longo prazo. Por isso, mesmo com o restabelecimento da demanda, é difícil arrancar na oferta.
No ano passado, a Azul conseguiu concluir um plano de reestruturação de dívida, enquanto a Latam recorreu a um processo de recuperação judicial também nos EUA.
O governo prepara um pacote de apoio ao setor aéreo, com a criação de um fundo com até R$ 6 bilhões em recursos, o que também pode acelerar a recuperação da Gol.
Enquanto isso, os voos serão atingidos?
A Gol afirma contar com caixa para manter a operação enquanto passa pela reestruturação. A expectativa é que o processo não gere mudanças no dia a dia da companhia e nem afete os passageiros. Voos, venda de bilhetes, operação do Smiles, programa de fidelidade, estão mantidos de forma regular.
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