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Membro de gangue de motoqueiros foi contratado para matar dissidentes iranianos, afirma Justiça dos EUA

Segundo a denúncia, canadense que integra os Hells Angels foi abordado por homem ligado aos serviços de inteligência do Irã e receberia mais de US$ 350 mil pelo crime

Agência O Globo - 30/01/2024
Membro de gangue de motoqueiros foi contratado para matar dissidentes iranianos, afirma Justiça dos EUA
EUA - Foto: reprodução

O Departamento de Justiça dos EUA indiciou três pessoas — dois canadenses e um iraniano — por supostamente participarem de um plano para assassinar dois dissidentes iranianos no estado de Maryland. Um dos canadenses que aparece no processo é integrante dos Hells Angels, uma das mais conhecidas e violentas gangues de motoqueiros dos Estados Unidos.

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Segundo a denúncia, Naji Sharifi Zindashti, que vive no Irã, usou no final de 2020 um aplicativo criptografado e com frequência associado a atos criminosos para recrutar pessoas dispostas a viajar para os EUA, monitorar as vítimas — um casal de dissidentes — e eventualmente assassiná-las. Em janeiro de 2021, Zindashti começou a conversar com um dos canadenses indiciados, Damyon Patrick John Ryan sobre os detalhes do plano, incluindo sobre o pagamento: US$ 350 mil (R$ 1,735 milhão, na cotação atual) pelo serviço, e US$ 20 mil (R$ 99,2 mil) em despesas de viagem.

Ryan sugeriu a participação de mais uma pessoa, Adam Richard Pearson, e os dois chegaram a discutir como matariam os dois dissidentes. Em uma das conversas obtidas pelo investigadores, Ryan chega a afirmar a Zindashti que montou uma equipe de quatro pessoas para a operação, que aconteceria nas primeiras semanas de 2021, mas jamais saiu do papel. Não há informações sobre as demais pessoas que supostamente integrariam o bando.

"Graças ao trabalho dos promotores federais e de agentes da lei, essa conspiração para um assassinato por encomenda foi quebrada, e os réus vão enfrentar a justiça", afirmou o promotor federal Andrew Luger, citado na nota do Departamento de Justiça.

No indiciamento, os três são acusados de conspiração para cometer um assassinato por encomenda, que pode levar a uma pena de dez anos de prisão. Pearson também responderá a acusações de posse ilegal de armas de fogo — ele foi preso pelo FBI em 2021 e extraditado ao Canadá no ano seguinte, onde está está preso e sendo processado pelo assassinato de um homem em 2019.

Ryan, que é membro dos Hells Angels, uma gangue de motoqueiros famosa mundo afora por seu envolvimento em episódios de violência, foi preso em fevereiro do ano passado por posse ilegal de armas de fogo e é investigado por uma suposta participação em uma quadrilha de tráfico internacional de drogas. Em nota à imprensa, o Departamento de Justiça afirma que trabalha em conjunto com as autoridades canadenses.

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Longe das autoridades americanas, Naji Sharifi Zindashti foi incluído na lista de sanções aplicadas pelos governos dos EUA e Reino Unido, e acusado de liderar uma organização que atua a serviço dos serviços de inteligência em Teerã para matar dissidentes iranianos pelo mundo. Segundo o Departamento do Tesouro, a rede comandada por Zindashti deixou vitimas no Canadá, Emirados Árabes Unidos e Turquia.

"A rede de Zindashti realizou numerosos atos de repressão transnacional incluindo assassinatos e sequestros em várias jurisdições, em uma tentativa de silenciar os críticos do regime iraniano. A rede também planejou ações nos Estados Unidos", diz comunicado do Departamento do Tesouro.

Segundo autoridades federais americanas, este foi o terceiro caso recente envolvendo planos para a contratação de matadores de aluguel ligado sao Irã desde 2022: os outros "alvos" eram a jornalista Masih Alinejad, que vive em Nova York, e o ex-conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton.