Economia
Como esticar o salário até o fim do mês? Trabalhadores e especialistas em Finanças contam estratégias
Organização familiar e mudanças de hábitos são fundamentais para gastar menos
Esticar o dinheiro até o fim do mês é o desafio de grande parte dos brasileiros. Cada um tem uma receita na ponta da língua. Vale tudo: de pedir desconto na consulta médica a tomar banho frio, passando por tirar os eletrodomésticos da tomada ao sair de casa e fazer compras semanais para evitar o desperdício de alimentos. Para contar essas experiências, o EXTRA lista a seguir algumas estratégias de consumidores e dicas de especialistas para ajudar na economia.
Para Alex Modesto, diretor de Gestão da Agir Contábil, as principais estratégias para redução de gastos fixos em casa envolvem comprometimento de todos e muito diálogo:
— Para quem mora sozinho, é mais fácil acender menos luzes, gastar menos água ou ter um plano de internet que atenda melhor às necessidades. Para famílias maiores, o ideal é que todos contribuam e, em acordo, tracem planos para evitar contas altas.
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Luciano Bravo, CEO da Inteligência Comercial e gerente nacional da Savel Capital Partners, cita a necessidade de se criar uma reserva financeira. Mas, para garantir a quitação das despesas mensais essenciais e ainda reservar parte do salário, é preciso que se defina um objetivo, alerta ele:
— Planeje quitar uma dívida longa, comprar um carro ou um apartamento ou custear um estudo. Com um objetivo, inicia-se a adequação financeira para realizar o sonho, com economias mensais.
Nem sempre, porém, o orçamento da família vem do emprego de carteira assinada. Para os empreendedores, esticar o dinheiro é um duplo desafio — dentro do negócio e na vida familiar, e sem misturar essas finanças.
— É direito e dever abrir uma conta separada para a empresa. Assim, os ganhos pessoais entram na conta aberta com o CPF, e o que é do negócio entra na conta do CNPJ — diz o coordenador de Capitalização e Serviços Financeiros do Sebrae Rio, Marcos Mendes: — Deve-se estipular um salário ou um mínimo viável para o empreendedor, com a noção do quanto a empresa suporta de retirada. Afinal, é dela que ele vai tirar seu sustento e, para isso, o negócio deve estar saudável.
Leia os depoimentos
Jaqueline Matos: ‘Faço compras semanais para evitar desperdício’
Ela é administradora e motorista, de 42 anos
"Eu trabalhava com uma empresa de eventos até a chegada da pandemia. Foi quando o negócio fechou por causa do isolamento social, e precisei me reinventar. Já fazia renda extra trabalhando como motorista de aplicativo, e a atividade adicional virou a principal fonte de renda da minha casa. Ao trabalhar com transporte de passageiros, fui percebendo uma necessidade que havia no mercado de transporte: a segurança. Segurança para as motoristas mulheres e segurança também para os passageiros e as passageiras. Então, eu e minha sócia, Jussara, criamos um coletivo de mulheres que fazem transporte por agendamento para outras mulheres, seus filhos, seus parentes idosos etc. O orçamento familiar tem que ser bem justo para acomodar todos os gastos, incluindo os que tenho com minha filha de 12 anos. Outras medidas que adoto no dia a dia é evitar fazer compras de mês no supermercado. Prefiro fazer compras semanais para evitar o desperdício de alimentos. Além disso, quando viajo com minha filha, evito compra de passagem e hospedagem em períodos de alta temporada para não pagar mais caro. Compras de vestuário e calçados, nós só fazemos quando estamos realmente precisando. Outra questão é sempre que possível evitar compras parceladas, prefiro o pagamento à vista."
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Jussara Barcelos: ‘Não faço gastos com restaurantes e cinema’
Ela é auxiliar administrativa, de 62 anos
"Trabalhei como auxiliar administrativa por mais de 20 anos em uma universidade, mas sempre fiz trabalhos extras para aumentar a renda da família. Quando deixei a universidade, o transporte de passageiros por aplicativos deixou de ser somente um complemento do orçamento da família. Eu acho que a melhor forma de equilibrar o orçamento é trabalhar, e trabalhar muito. Não paro de trabalhar nem diminuo o ritmo para não faltar dinheiro. Como trabalho com transporte e ajudei a criar a empresa de mulheres motoristas — a Sua Motorista Oficial —, continuo fazendo corridas, mas também faço agendamentos, distribuo com a equipe e ajudo na organização burocrática, entre outras funções. Para ter o próprio negócio e trabalhar com transporte, é preciso ter organização, porque é um gasto e um investimento constante no meio de trabalho, que é o carro. Temos gastos com limpeza, com manutenção, com seguro, e temos que ter disciplina para economizar e trocar o veículo com alguma frequência. Para isso, eu não faço gastos com lazer, restaurantes, cinema, nada disso."
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Amélia Regina: ‘Tomo banho gelado para economizar luz’
Ela é auxiliar administrativa, de 70 anos
"Nas compras de mês, parei de comprar diversos itens que, anos atrás, eu botava no carrinho. Hoje em dia, deixo de fora muitas coisas, como biscoito, doce, leite achocolatado, azeite, queijo. O principal corte foi o da carne, que deixei de comer todos os dias, para ver se economizava mais um pouco. E tento fazer render a comida dentro de casa, para não ter que repor as coisas antes da hora e gastar o pouco dinheirinho que sobrou. Quando pago tudo o que preciso, me sobram uns R$ 50 para segurar o mês. A gente tem que fazer milagre para sobreviver. Comer fora de casa? Nem pensar. Só quando é “0800”. A conta de luz me assusta também. Há uns anos, eu comecei a tomar banho gelado. Pode estar quente, pode estar frio... Porque chuveiro elétrico puxa muita luz. Também tomo banhos bem curtos, para não gastar muita água. Além idsso, ao sair para trabalhar, tiro todos os eletrodomésticos das tomadas. Meu filho diz que é paranoia, mas não acho. Também tem os remédios que preciso comprar para o coração e para a trombose. Meus problemas de saúde são bem sérios, e os medicamentos são muito caros. Então, pesquiso bem antes de comprar. Gosto de ir de farmácia em farmácia para comparar os preços."
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Orlando Maciel: ‘Vendi o freezer e cortei o uso do ar-condicionado’
Ele é técnico de Enfermagem, de 66 anos
"Ganho cerca de R$ 100 a mais do que gasto. Quando quito as contas mensais, pouco sobra. Então, para completar meu salário, trabalho no mercado informal sempre que tenho oportunidade, nas horas vagas da minha função como técnico de enfermagem. Sou estofador e trabalho com reformas de sofás. Também faço almofadas decorativas, bolsas e mochilas. Não tenho loja aberta. Os trabalhos aparecem por encomenda de amigos, parentes. Então, como eu trabalho só por indicações de conhecidos, faço uma ou duas reformas por mês. Esse valor ajuda a cobrir gastos que não estavam previstos. A maioria é com remédios. Por isso, vendi meu freezer e cortei o uso do ar-condicionado, para reduzir o custo da conta de luz, que estava muito alta. Também cortei totalmente os passeios. Não vou mais ao cinema, não assisto mais a peças de teatro, não faço mais passeios no shopping. Gostaria muito que sobrasse alguma quantia significativa para investir. Há 18 anos, eu tinha uma economia mensal e investia em moeda estrangeira."
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Sérgio Rocha Rigó: 'Vários médicos fazem um preço mais baixo’
Operador de câmera aposentado, de 76 anos
"Moro com minha mulher, Rosa, que é bancária aposentada, meu filho, que é advogado, e minha filha, que cria conteúdos para a internet. A tranquilidade é que a nossa casa aqui em Piratininga (na Região Oceânica de Niterói) é própria. Então, as contas do dia a dia — como água, luz, gás, telefone — nossos salários até que cobrem. Mas é apertado. Gostávamos muito de ir a restaurantes, jantar fora, o que já não dá mais. Saímos bem menos hoje em dia, para economizar. Estou aposentado há mais de 25 anos, trabalhei a vida inteira como operador de câmera. Mas desde que me aposentei, perdi o plano de saúde. Com a idade, vêm também os problemas de saúde. Hoje, preciso tirar do bolso para pagar as consultas. A saída foi negociar. Vários médicos me atendem há muito tempo, como o cardiologista, e eles fazem um preço mais baixo ou me deixam pagar depois. Mesmo estando aposentado, ainda faço uns serviços na minha área para complementar a renda. Também faço declarações do Imposto de Renda, algo que aprendi ao longo da vida. Tenho uns clientes já há alguns anos e, entre março e maio, pego uns trabalhos fazendo declarações, o que que me garante um dinheiro extra."
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Jaqueline Monteiro: ‘Faço o máximo de tarefas na rua a pé’
Dona da Jaque Monteiro Doceria, de 36 anos
"Meu marido perdeu o emprego em 2017 e, na época, ele pagava para mim um curso de Maquiagem. Então, para arcar com a despesa, eu comecei a fazer bolos de pote para ele vender nas ruas. Fez sucesso e, em 2018, estávamos vendendo R$ 3 mil por semana. Mas eu não via lucro, porque não tinha precificado corretamente. Então, fui procurar cursos para fazer e precifiquei novamente meu produto, considerando os custos e a depreciação de equipamentos. Perdi clientes quando os preços subiram, mas agora tenho lucro. Passei a gerenciar melhor também, a buscar melhores preços de insumos junto aos fornecedores, ao invés de comprar na loja de bairro: uma caixa para bolo custa R$ 11,90 na loja e R$ 6,90 com o fornecedor. Ainda fiz uma reserva de emergência. Tanto é que agora estamos num momento difícil. Meu marido passou por uma cirurgia, e eu estou com problema no ombro. As pessoas se preocupam com a nossa situação, mas estou tranquila. Fiz apenas ajustes para esticar o dinheiro. Comprei o uniforme escolar do meu filho de outro aluno e ajustei a bainha. Faço as compras, cozinho as misturas e congelo, para sempre ter comida em casa e não precisar comprar por aplicativo. Faço o máximo de tarefas na rua a pé e, quando vou de carro, planejo antes a rota para gastar menos combustível."
Veja mais dicas
Para pessoas físicas
Anotar despesas - Para Alex Modesto, diretor de Gestão da Agir Contábil, uma das formas mais eficientes de controle financeiro é anotar, em planilhas, cadernos ou folhas avulsas, o quanto se tem de ganho e o quanto se gasta.
Procurar informações - Para aprender a lidar com dinheiro, é possível buscar informações na internet. Segundo Luciano Bravo, CEO da Inteligência Comercial e gerente nacional da Savel Capital Partners, há bons canais de educação financeira na web, além dos livros.
É mesmo necessário? - Na avaliação de Ana Lúcia do Carmo, analista de Desenvolvimento Estratégico (PDE) do Instituto Sicoob,uma das principais dicas é a prevenção do endividamento. Para ela, é preciso pensar antes de consumir. Ela destaca que todo consumo tem sua importância no momento da aquisição, mas a pessoa deve se questionar se realmente se trata de uma necessidade.
Com moderação - O lazer é importante para a vida de qualquer família e cortar totalmente essas atividades em conjunto não seria a melhor solução, na avaliação de Ana Lúcia do Carmo. Segundo ela, é necessário pensar com cuidado na moderação desse lazer para não inviabilizar os gastos fixos nem a reserva de emergência. A ordem é: diversão com moderação.
Fazer planejamento - A organização de um orçamento familiar demanda planejamento e antecipação de consequências de cada decisão. Deve-se pensar nos gastos que virão, fixos e eventuais, para decidir se a família poderá ter despesas extras. Fazer compras menores para evitar o desperdício de alimentos, e programar as férias em períodos de baixa temporada, se os demais gastos estão ajustados, é uma boa estratégia para economizar.
Buscar renda extra - Busque formas de aumentar a renda mensal com trabalhos paralelos. Além disso, invista na capacitação profissional, orienta a educadora financeira Aline Soaper.
Para empresas
Fixar os preços corretamente - Antes de montar uma empresa, o coordenador do Sebrae Marcos Mendes recomenda: faça um plano de negócios,que antevê a operacionalidade, incluindo a própria formação do preço justo a ser cobrado. É preciso elencar todos os custos (fixos e variáveis) envolvidos na produção, fazer uma ficha técnica do produto, considerar a demanda do mercado, conhecer a concorrência e estabelecer a margem de lucro.
Diminuir os custos - Compare preços nas compras e peça descontos. Negociar com fornecedores pode fazer diferença e ajudar a esticar o dinheiro de um negócio.
Controlar a saída - O fluxo de entradas e saídas deve ser acompanhado continuamente, para fazer ajustes, se necessário. É importante perceber para onde está indo o dinheiro e evitar o uso excessivo de cartão de crédito.
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