Internacional
O 'Resta Um' republicano: Única rival de Trump que sobrou, Haley tem de vencer em New Hampshire para seguir adiante
Ron DeSantis, governador da Flórida, retirou sua candidatura no domingo após o colapso da campanha e anunciou apoio ao ex-presidente
Na imagem cunhada na segunda-feira por um estrategista da campanha de Donald Trump, as primárias presidenciais republicanas se transformaram no jogo do “Resta Um”. Ou, no caso, do “Resta Uma”. Com a retirada do tabuleiro, no domingo, da candidatura do governador da Flórida, Ron DeSantis, que anunciou seu apoio a Trump após o colapso de uma campanha com apoio popular inversamente proporcional à montanha de dinheiro arrecadada, apenas a ex-embaixadora da ONU Nikki Haley disputará nesta terça com o ex-presidente os 22 delegados de New Hampshire.
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Os números ajudam o característico deboche trumpista. Pesquisa Washington Post/Universidade Monmouth, divulgada na segunda, mostra Trump com 52% das intenções de votos no estado, contra 34% para Haley. Se confirmados nas urnas, que fecham nesta segunda às 22h de Brasília, anteciparão o simbolismo tão desejado pelo ex-presidente para a próxima etapa da disputa, em um mês, na Carolina do Sul. O estado governado por Haley entre 2011 e 2017, mas com eleitorado bem mais conservador, poderá cimentar a veloz marcha interna de Trump, de 77 anos, rumo à Casa Branca. Ele poderá então se concentrar, muito antes do esperado, em seu provável adversário em novembro, o presidente Joe Biden, democrata candidato à reeleição. Afinal, se não vencer na mais moderada Nova Inglaterra e sequer em seu estado natal, qual o sentido da candidatura de Haley, 51 anos, estrela em ascensão no partido e terceira colocada em Iowa?
— Mas vejam bem: a gente não faz coroações aqui nos EUA. Acreditamos em democracia e liberdade. O mote de New Hampshire, aliás, é “viva em liberdade ou morra”. Sigo querendo implantá-lo em todo o país — reagiu Haley, em comício na segunda em Franklin, no coração do estado.
Não será fácil. Trump terminou o dia em outro comício, em Laconia, a um pulo de 15 minutos de carro de Franklin. Ao seu lado, três pré-candidatos que abandonaram o jogo anteriormente para apoiá-lo: o empresário Vivek Ramaswamy, o ex-governador de Dakota do Norte Doug Burgum, e o senador Tim Scott, da mesma Carolina do Sul de Haley. Faltou DeSantis, mas a foto armada pela campanha de Trump tem leitura óbvia: mostra a unidade do Partido Republicano em torno do ex-presidente.
Pouco antes da demonstração de força, Trump compareceu a uma corte de Nova York para se defender da acusação de difamar E. Jean Carroll. Em maio, um júri o considerou culpado de abusar sexualmente da jornalista, a quem depois acusou de mentir sobre o fato. Nada, no entanto, parece diminuir sua força. Veja o que esperar da disputa em New Hampshire:
O que seria uma noite perfeita para Trump?
Vencer com enorme margem e provar ser também o preferido de eleitores moderados, mesmo com os 91 processos que enfrenta na Justiça, de olho em novembro. Os quatro votos de New Hampshire no Colégio Eleitoral, em eleição que deve ser disputada voto a voto com Joe Biden, são prêmio mais robusto do que o número indica. Por isso, o ex-presidente quer terminar à frente não apenas nas áreas rurais do norte do estado, seu reduto, mas também nos centros mais ricos e universitários, como Manchester, Durham, Concord e Keene. Hillary Clinton venceu Trump em 2016 por apenas 0,3%, e em 2020, Biden aumentou a vantagem para 7%, mas o republicano aposta que poderá repetir, em novembro, o feito de George W. Bush, o último republicano a chegar na frente no “Granite State”, em 2000.
Qual alternativa para Haley se não vencer hoje?
Fica difícil vislumbrar um horizonte para Haley se as pesquisas se confirmarem. Ela precisa vencer Trump em New Hamshire para seguir na disputa e provar a tese de ser a republicana com maior chance de unir conservadores, moderados e independentes contra Biden em novembro. No estado, eleitores não filiados têm a liberdade de votar na primária que bem quiserem. E a expectativa é a de que os independentes votem nesta segunda, em sua maioria, na única disputa real, a republicana, e em Haley. Mas se ela perder, e por vantagem substantiva, o calendário eleitoral será outro adversário terrível: até a Super Terça-feira, em 5 de março, quando as disputas acontecem em 17 unidades da federação americana, a maioria absoluta dos endereços tem perfis mais conservadores e trumpistas do que New Hampshire.
E os democratas, devem se atentar para quais sinais das urnas hoje?
Além de ficar de olho no apelo popular de Trump nas áreas menos conservadoras do estado (vencer nesses condados ajuda a narrativa trumpista de que o ex-presidente repetirá Bush em 2020), hoje também ocorre curioso e involuntário teste de popularidade para Biden. Como a campanha de reeleição decidiu não participar da consulta no estado, um movimento “espontâneo” da cúpula local do Partido Democrata estimula eleitores a escrever, mesmo assim, o nome dele nas cédulas. A pesquisa mais recente, do Canal 7 da vizinha Boston, reprodutora da Warner, crava Biden com 61%, o deputado Dean Phillips, de Minnesota, à direita do presidente, com 16%, e a escritora Marianne Williamson, à esquerda, com 5%. As duas candidaturas são notas de rodapé em uma disputa histórica, e as atenções na campanha de Biden estarão voltadas para o tamanho de Trump após conquistar a maioria dos votos republicanos em Iowa e, agora, se confirmadas as pesquisas, em New Hampshire.
E para onde vão os votos de DeSantis?
A pesquisa Washington Post/Universidade Monmouth foi feita no sábado, antes de o governador da Flórida encerrar sua campanha e anunciar o apoio a Trump. Nela, ele pontuou 8%, e sua saída pode concentrar em Haley os votos republicanos anti-Trump. Mas pesquisa da CNN parece comprovar o que a campanha de Trump canta em prosa e verso: a maioria dos eleitores de DeSantis migrará para o ex-presidente. São 54% contra 41% para Haley, outro obstáculo para a ex-governadora.
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