Internacional
'100 anos da morte de Lenin': Putin questiona legado um século após o falecimento do político
Três dias antes do início da ofensiva russa contra a Ucrânia, Putin acusou Lenin de ter inventado o país ao fundar a União Soviética
Cem anos após a morte de Lenin, o corpo do pai da Revolução bolchevique segue exposto, embalsamado, na Praça Vermelha. Mas seu legado vem desaparecendo para a sociedade russa, sobretudo depois que o presidente Vladimir Putin o criticou por ter "inventado" a Ucrânia.
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As autoridades não anunciaram nenhum evento específico para este domingo (21), centenário de sua morte, e só está prevista uma cerimônia do Partido Comunista em seu mausoléu, situado perto do Kremlin.
Atração turística
Após a morte de Vladimir Ilich Ulianov, em 21 de janeiro de 1924, aos 53 anos, as autoridades soviéticas, por ordem de Stalin, decidem embalsamar seu corpo e construir seu mausoléu.
O edifício de pedras vermelhas e pretas foi concluído em outubro de 1930. Em 1953, os restos mortais de Stalin foram transferidos para junto dos de Lenin, mas em 1961 foram retirados durante o processo de desestalinização.
Na era soviética, grandes multidões se reuniam diante dos restos de Lenin. Mas atualmente, apenas alguns nostálgicos seguem homenageando o líder revolucionário.
Neste domingo, apesar das temperaturas perto dos -15°C, dezenas de pessoas se concentraram em frente ao mausoléu. Lenin "representava um ideal", disse à AFP Valentina Alexandrovna, de 78 anos.
Para esta aposentada, "só" a doutrina de Lenin pode permitir à Rússia "sair da situação atual".
No restante do ano, o corpo embalsamado de Lenin é, sobretudo, uma atração turística. Uma vez a cada 18 meses, o mausoléu é fechado para que cientistas possam reparar a deterioração dos restos mumificados.
Segundo a agência de notícias estatal TASS, restariam apenas 23% do corpo de Lenin no sarcófago de vidro blindado, mantido a uma temperatura de 16 °C.
Putin, Lenin e Ucrânia
Três dias antes do início da ofensiva russa contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, Putin negou em um discurso a realidade da nação ucraniana e acusou Lenin de ter inventado a Ucrânia, ao fundar a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Segundo o presidente russo, o Estado ucraniano fica em terras russas; e Lenin, ao criar as repúblicas soviéticas com um pouco de autonomia, permitiu a emergência de nacionalismos e a posterior implosão da URSS.
"Por culpa da política bolchevique, surgiu a Ucrânia soviética. Seria perfeitamente justificado chamá-la de Ucrânia de Lenin. É seu inventor, seu arquiteto", afirmou.
No entanto, a figura de Lenin não foi totalmente apagada. Seu retrato segue presente no centro de muitas cidades russas, embora a maioria de suas estátuas tenha sido destruída após a queda da URSS.
Em Moscou, um monumento dedicado a Lenin com 22 metros de altura domina a praça de Kaluga.
O Kremlin "precisa de Stalin"
Stalin é o dirigente soviético a quem Putin mais faz menção. E não precisamente para denunciar a dura repressão de seu regime, mas para enaltecer o homem de Estado e líder de guerra que venceu a Alemanha de Hitler.
Desde o início da operação militar na Ucrânia, Putin centra sua campanha no legado da Segunda Guerra Mundial e compara as autoridades ucranianas aos nazistas.
Aos olhos do Kremlin, Stalin segue sendo um modelo vitorioso e Lenin, um perdedor.
"O poder atual precisa de Stalin porque é, ao mesmo tempo, um herói e um vilão", disse à AFP Alexei Levinson, sociólogo do instituto de pesquisas independente Levada.
"Venceu a guerra, assim se apagam todas as suas atrocidades", acrescentou.
"Lenin é o líder da revolução mundial, que nunca ocorreu. Lenin é o líder do proletariado mundial, que não existe. Lenin é o criador do Estado socialista, que não existe mais e ninguém quer que volte a se levantar", afirmou o especialista.
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