Internacional

Israel entra na lista de países que mais prendem jornalistas pela primeira vez na História; veja ranking

Ao menos 17 profissionais da imprensa foram encarcerados pelas forças de segurança israelenses em 2023; todos são palestinos e 14 estão sob custódia sem acusação formal

Agência O Globo - 18/01/2024
Israel entra na lista de países que mais prendem jornalistas pela primeira vez na História; veja ranking
Israel entra na lista de países que mais prendem jornalistas pela primeira vez na História; veja ranking - Foto: reprodução

Pela primeira vez na História, Israel está entre os países que mais prendem jornalistas do mundo, aponta o censo do Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) divulgado nesta quinta-feira. O Estado judeu aparece na sexta posição do ranking, empatado com o Irã e atrás de China, Myanmar, Bielorrússia, Rússia e Vietnã, respectivamente. Segundo a organização, que desde 1992 monitora ataques contra a imprensa global, ao todo 320 jornalistas foram encarcerados no ano passado em função da sua atividade — o segundo maior patamar desde o início da série histórica.

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Veja os 10 países que mais prenderam jornalistas em 2023

China (44 jornalistas)

Myanmar (43)

Bielorrússia (28)

Rússia (22)

Vietnã (19)

Irã e Israel (17 cada)

Eritreia (16)

Egito e Turquia (13 cada)

Entenda o cenário em Israel

Dos 17 jornalistas sob custódia de Israel durante a realização do censo, em 1º de dezembro de 2023, nenhum deles era israelense. Segundo o levantamento, que oferece uma fotografia do encarceramento dos profissionais da imprensa ao redor do mundo, todos os prisioneiros eram palestinos da Cisjordânia ocupada. No censo anterior, apenas um jornalista cumpria pena em prisões israelenses.

O número de jornalistas presos por Israel no ano passado é mais que o dobro do recorde anterior, registrado no censo de 2016, quando sete profissionais da imprensa palestina estavam sob custódia das forças de segurança israelenses. Para o CPJ, o crescimento significativa da taxa de encarceramento evidencia os riscos assumidos pelos jornalistas que tentam reportar o que acontece nos territórios palestinos desde o início da guerra travada contra o Hamas, em 7 de outubro, após o ataque terrorista do grupo que deixou 1.200 mortos. Em resposta, a ofensiva de Israel já vitimou mais de 25 mil palestinos na Faixa de Gaza.

— É uma forma de silenciá-los, violando seu direito de expressão, participação política e trabalho jornalístico — disse Tala Nasir, advogada do grupo de apoio a prisioneiros palestinos Addameer, em entrevista ao CPJ. — Eles não querem que os palestinos, os jornalistas, mostrem ao mundo todos esses crimes.

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Quatorze dos 17 jornalistas palestinos sob custódia de Israel estão cumprindo pena sem qualquer acusação formal, de acordo com o CPJ. Isso é possível graças a chamada "detenção administrativa", um mecanismo legal herdado do Mandato Britânico da Palestina que autoriza a prisão de qualquer pessoa suspeita de ter cometido ou planejar cometer um crime no futuro. A custódia, inicialmente prevista para durar até seis meses, pode ser estendida indefinidamente com base em "evidências secretas", levando muitos palestinos a passarem anos privados de liberdade sem saberem o porquê. Ao contrário dos israelenses, que podem responder a processos judiciais em tribunais civis, palestinos são julgados apenas por cortes militares.

Letalidade recorde

Se na Cisjordânia o recorde é de prisões, jornalistas em Gaza enfrentam recorde de letalidade. Em um mês de conflito, o número de profissionais da imprensa mortos (37) já era mais que o dobro do registrado em 20 meses de guerra na Ucrânia (17). Agora, com pouco mais de três meses de confrontos no enclave palestino, a mortalidade escalou a um nível inédito: ao menos 83 jornalistas foram mortos durante a guerra, segundo dados do CPJ desta quinta-feira.

O conflito entre as forças israelenses e o Hamas foi um dos principais fatores para que 2023 se tornasse o ano mais fatal para jornalistas da última década. Logo nas primeiras semanas de conflito, as Forças Armadas de Israel declararam que não poderiam proteger os profissionais da imprensa em Gaza, alegando estarem atingindo o Hamas em todo o território e acusando o grupo de realizar operações militares “nas vizinhanças de jornalistas e civis”.

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Na esteira do anúncio, a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denunciou, em 31 de outubro, o Estado de Israel no Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, por "crimes de guerra cometidos contra jornalistas na Palestina e em Israel". Além do detalhamento das mortes de profissionais contabilizadas até aquele o momento, a queixa cita a destruição deliberada, total ou parcialmente, de redações e áreas de trabalho de mais de 50 veículos de comunicação em Gaza, segundo levantamento independente feito pela ONG na época.

"A amplitude, a gravidade e a recorrência dos crimes internacionais visando os jornalistas, em particular em Gaza, clamam por um inquérito prioritário do procurador do TPI. Os eventos trágicos em curso demonstram a extrema urgência da sua mobilização", disse Christophe Deloire, secretário-geral da RSF, em comunicado.