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'Queremos um avanço sobre as fontes de financiamento', diz Maurício Lyrio, representante de Lula no G20

Sherpa do Brasil diz ser crucial destravar fundos existentes, mas também encontrar novas formas de obter recursos para a questão do clima

Agência O Globo - 18/01/2024
'Queremos um avanço sobre as fontes de financiamento', diz Maurício Lyrio, representante de Lula no G20

Sherpa (representante do presidente Lula) do Brasil no G20, o embaixador Maurício Lyrio afirma que o país espera avançar na discussão sobre fontes de financiamento para a transição energética e para o combate às mudanças do clima durante a presidência brasileira do bloco. Lyrio, que conduz as negociações a e agenda de trabalho em nome do Brasil, afirma que é central evoluir em mecanismos para destravar US$ 10 bilhões dos fundos climáticos, mas também em novas formas de financiamento para o tema, ampliando inclusive para outras pautas, como sociais.

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Das prioridades do Brasil, a questão da governança global, há resistências?

Há, naturalmente, visões mais específicas dos países sobre o que deveria ser a estrutura da governança global ideal. Mas há muita convergência no sentido de que é preciso realmente reformar a governança global. A gente tem desafios globais. Para enfrentá-los, a gente precisa de compromissos significativos dos países, já que não podem ser resolvidos por um país só.

Quais os principais pontos de que o Brasil não abrirá mão de ver na declaração conjunta e nos acordos de cooperação entre os países na reunião de líderes no Rio de Janeiro?

Os presidentes no final das contas decidirão, mas o que estabelecemos como propósito para a presidência brasileira seria o lançamento de uma Aliança Global contra a Fome, um tema caríssimo ao Brasil. A gente naturalmente quer tratar do acesso a recursos para a mudança do clima e transições energéticas, que ao final do período da presidência brasileira tenha um avanço sobre quais são as fontes de financiamento para transições energéticas e combate às mudanças do clima. E na questão da reforma da governança global, que tenha um caminho, um roteiro, para realmente reforçar as organizações internacionais. O objetivo é ter resultados concretos, não é meramente declarações bonitas.

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E hoje quais são os resultados práticos possíveis?

Uma Aliança Global efetiva é uma aliança que tem grande número de países que aderem para serem doadores e países que aderem para serem beneficiários, dentro do formato que a gente propõe. O que esperamos é uma grande adesão dos países a essa aliança.

E como vai ser lançada a aliança? Qual vai ser esse formato final?

Mais importante é o resultado prático, que a gente tenha de fato uma iniciativa como essa aliança em que os países se sintam estimulados em participar como doadores, destinando mais recursos ao combate à fome, e que tenhamos países beneficiários, ou seja, que têm problemas graves de grandes populações que sofrem com a fome, mas que possam adotar os programas corretos para chegar à superação da fome. E para isso, aderem como beneficiários, mas com compromissos em programas sociais.

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O senhor já falou do acesso a recursos para a questão do clima e de US$ 10 bilhões travados em fundos climáticos. Como o Brasil está atuando nisso?

Esse é um tema central. É justamente discutir como destravar recursos destinados à mudança do clima e também como buscar novas fontes. Nós sabemos que os países desenvolvidos que tinham que colocar os US$ 100 bilhões anuais (nos fundos), segundo o Artigo 9 do Acordo de Paris, não colocaram. Já é o quarto ano em que isso praticamente não se materializa. É preciso ser eficiente no destravar dos fundos existentes, mas é preciso também ser criativo, ousado para também achar novas formas de financiamento. É preciso fazer um esforço muito maior do que tem sido feito.

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Achar novas formas de financiamento tem alguma coisa a ver com a declaração do presidente Lula sobre taxação de transações?

Essa é uma possibilidade. Temos que pensar em formas alternativas de financiamento contra as mudanças do clima, como temos que pensar em alternativas de financiamento para o combate à fome. Uma possibilidade é também pensar em trocas de dívidas externas, os países altamente endividados, por investimento em programas sociais. Já há vários tipos de troca de dívida. Troca parte da dívida por investimento na questão ambiental. Por que não o investimento na questão social? Por que não investimento em programas que permitem que os mais pobres possam comprar alimentos?

O Brasil traz a mudança climática pro centro da presidência brasileira do G20, antecedendo a COP no Brasil. De que maneira esses dois eventos vão dialogar?

Tudo está interligado. Essas COPs são fundamentais, porque vão definir as questões dos recursos que os países têm que destinar à mudança do clima, sobretudo os países desenvolvidos. Esse processo é contínuo, em que a presidência brasileira no G20 tem que contribuir para que a gente faça avançar todos esses temas de negociação ambiental.