Internacional

Senado dos EUA rejeita resolução que forçaria investigação sobre violação de direitos humanos por Israel em Gaza

Iniciativa, no entanto, evidencia crescente desconforto que progressistas vêm sentindo em relação à guerra

Agência O Globo - 17/01/2024
Senado dos EUA rejeita resolução que forçaria investigação sobre violação de direitos humanos por Israel em Gaza
Senado dos EUA rejeita resolução que forçaria investigação sobre violação de direitos humanos por Israel em Gaza - Foto: reprodução

O Senado dos Estados Unidos rejeitou na noite desta terça-feira — por 72 votos a 12 — uma resolução apresentada pelo senador Bernie Sanders, independente de Vermont, que pedia a investigação de violações dos direitos humanos na guerra entre Israel e grupo terrorista palestino Hamas como condição para manter a ajuda militar ao Estado judeu. Mesmo com a derrota acachapante, com oposição tanto de republicanos como de democratas, a resolução é, contudo, um indicativo de como a questão do apoio irrestrito dos EUA a Israel vem incomodando uma parte dos políticos progressistas americanos.

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A iniciativa foi apenas uma das várias propostas progressistas no Senado apresentadas recentemente que refletem o desconforto com a conduta de Israel na guerra em Gaza e levantam questões sobre se e em quais circunstâncias os EUA deveriam enviar mais recursos para apoiar seu mais importante aliado no Oriente Médio. A ofensiva israelense ultrapassa os cem dias e já deixou mais de 24 mil mortes no território palestino, boa parte delas de mulheres e menores, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo fundamentalista islâmico.

A votação, se passasse, exigiria que o Departamento de Estado dos EUA produzisse, em 30 dias, um relatório sobre se o esforço de guerra israelense está violando os direitos humanos e acordos internacionais. Em caso afirmativo, a ajuda militar a Israel, assegurada pelos EUA sem muitos questionamentos, poderia ser rapidamente congelada.

Consenso em desgaste

Quando o Hamas desencadeou seu ataque sangrento contra Israel em 7 de outubro, houve um clamor bipartidário rápido e forte de apoio no Congresso americano para que o país não poupasse despesas ao apoiar uma resposta militar robusta do Estado Judeu. Mais de 100 dias depois, contudo, esse consenso mostra sinais de desgaste.

— Há uma crescente preocupação entre o povo americano e no Congresso de que o que Israel está fazendo agora não é uma guerra contra o Hamas, mas uma guerra contra o povo palestino — disse Sanders em uma entrevista recente. — O fato de que, com a ajuda militar americana, crianças estão morrendo de fome, e para mim... eu simplesmente não sei que adjetivos posso usar. É vergonhoso. E acho que não sou o único que pensa assim.

Em outubro, o presidente Joe Biden solicitou um amplo pacote emergencial de segurança nacional, incluindo cerca de US$ 14 bilhões para apoiar Israel no conflito, mas o debate sobre a medida tem se concentrado principalmente na quantia muito maior destinada à Ucrânia, em guerra com a Rússia desde fevereiro de 2022. Muitos republicanos são contra enviar mais dinheiro para Kiev, e outros defendem que isso deve vir acompanhado de uma repressão à imigração na fronteira dos EUA com o México, o que tem sido objeto de negociações minuciosas.

Porém, a ajuda a Israel está encontrando seus próprios obstáculos, à medida que a campanha militar em Gaza se arrasta pelo seu terceiro mês. O crescente número de mortes, juntamente com os obstáculos que Israel impôs para levar ajuda a civis presos sob bombardeio, inspirou protestos nas ruas de cidades dos EUA e acusações de genocídio na Corte Internacional de Justiça.

Reflexo nas eleições

O cenário também se reflete na eleição presidencial americana, que ocorre em novembro — que, a que tudo indica, será mais uma vez disputada por Biden e seu antecessor, o ex-presidente republicano Donald Trump. Segundo uma pesquisa do New York Times em parceria com o Siena College publicada em dezembro, os eleitores americanos desaprovam amplamente a maneira como Biden está lidando com a guerra na Faixa de Gaza, Entre os jovens, a insatisfação chega a três quartos dos entrevistados.

A pesquisa mostrou que mais americanos votaram a favor de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas (44%) do que a favor da continuação da guerra (39%). Também perguntou aos eleitores sobre sua posição em relação à forma como o governo Biden lida com o conflito israelense-palestino. Em torno de 57% dos entrevistados demonstraram insatisfação com a abordagem de Biden, e 33% a apoiaram.

Além disso, o apoio ao democrata também entra em jogo em estados como o Michigan, onde eleitores muçulmanos e árabes-americanos votaram decisivamente a favor de Biden há três anos — foram cerca de 155 mil votos. Segundo o New York Times, em 2020, havia aproximadamente 200 mil eleitores muçulmanos registrados em Michigan, tornando a comunidade um bloco eleitoral significativo num estado de batalha de 8,2 milhões de eleitores registrados. (Com New York Times.)