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Helicóptero foi encontrado em SP no local em que antena captou sinais dos celulares de dois passageiros

Polícia Civil encontrou o local em que a aeronave fez um pouso de emergência antes de retomar voo e desaparecer, mas não há vestígios das vítimas; sinais de celulares foram captados

Agência O Globo - 12/01/2024
Helicóptero foi encontrado em SP no local em que antena captou sinais dos celulares de dois passageiros
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

As buscas pelo helicóptero que desapareceu em São Paulo com quatro pessoas chegaram ao fim nesta sexta-feira. A aeronave foi encontrada em Paraibuna, mesmo município em que horas antes do desaparecimento foi feito um pouso de emergência. Foi também nessa região em que antenas captaram sinais de celulares dos passageiros do helicóptero.

A área total de buscas era de cinco mil quilômetros quadrados e a ação tem sido parcialmente prejudicada pelo relevo montanhoso da região e pelas condições meteorológicas.

Nesta semana, familiares dos desaparecidos contrataram mateiros para ajudarem na operação, enquanto outros parentes das vítimas realizam buscas por conta própria, com auxílio de um drone.

O local onde a aeronave fez um pouso de emergência antes de retomar voo e desaparecer foi encontrado pela Polícia Civil neste sábado, mas não há vestígios das vítimas ou de destroços do helicóptero na área. O ponto fica em Paraibuna (SP), próximo a uma represa. Nesta quarta-feira, o Departamento de Operações Policiais Estratégicas (Dope), da Polícia Civil, revelou que uma antena Paraibuna captou sinais dos celulares de dois passageiros: Luciana Rodzewics e Raphael Torres. Os aparelhos foram captados entre 23h54 do dia 31 de janeiro e 22h14 do dia 1° de janeiro.

A FAB informou que o helicóptero H-60 Black Hawk, do Quinto Esquadrão do Oitavo Grupo de Aviação, foi integrado à equipe, com nove tripulantes. A aeronave é um helicóptero militar multimissão de médio porte, sendo usado em larga escala para infiltração e exfiltração de tropa e para missões de resgate e busca e salvamento. Segundo a FAB, ele pode percorrer até 295 quilômetros em apenas uma hora.

Responsável por realizar a ação de Busca e Salvamento de aeronaves e embarcações desaparecidas em todo território nacional, o Segundo Esquadrão do Décimo Grupo de Aviação também atua, nesta missão, com a aeronave SC-105 Amazonas e 15 tripulantes especializados a bordo.

O SC-105 Amazonas possui um radar capaz de realizar buscas sobre terra ou mar, com alcance de até 360 quilômetros. Um sistema de comunicação via satélite também permite o contato com outras aeronaves ou centros de coordenação de salvamento (Salvaero), mesmo em voos a baixa altura.

A aeronave ainda conta com um sistema eletro-óptico de busca por imagem e por espectro infravermelho. Isso permite realizar buscas pelo calor, permitindo detectar, por exemplo, uma aeronave encoberta pela vegetação ou uma pessoa no mar.

Desaparecidos

Segundo a PM, a aeronave, modelo Robinson R44, decolou do Aeroporto Campo de Marte, na região norte da capital paulista às 13h15. Luciana Marley Rodzewics Santos, de 46 anos, sua filha, Letícia Ayumi Rodzewics Sawunoto, de 20, e Rafael Torres, um amigo da família que fez o convite para o passeio estavam a bordo do helicóptero, juntamente com o piloto, Cassiano Tete Teodoro, de 44 anos. Grupo ia passar a virada do ano em Ilhabela. O último contato do helicóptero com a torre de controle foi às 15h10 de domingo, quando sobrevoava Caraguatatuba.

Às 22h30, a Força Aérea Brasileira (FAB) foi notificada do desaparecimento. A operação de buscas teve início na madrugada de segunda-feira e se concentrou na região de serra do Litoral Norte de São Paulo, entre Caraguatatuba e Paraíbuna.

Segundo o Registro Aeronáutico Brasileiro, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aeronave desaparecida foi fabricada em 2001 e tinha capacidade para transportar três passageiros, além do piloto. Consta no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) que o helicóptero se encontra em situação normal de aeronavegabilidade, sem permissão para realização de serviço de táxi-aéreo.

'Muita neblina'

Silvia Santos, irmã de Luciana e tia de Letícia, disse que a jovem enviou uma mensagem à família antes do desaparecimento, alertando sobre as condições perigosas de voo devido à intensa neblina. Segundo a CNN, em uma mensagem, Letícia mencionou:

"Tá perigoso. Muita neblina, estou voltando." A família também recebeu um vídeo que mostrava a densa neblina no momento do desaparecimento. Uma mensagem na qual a jovem contava ao namorado que o helicóptero havia feito um pouso de emergência numa área de mata por conta do tempo ruim.

Nas redes sociais, Luciana Rodzewics chegou a compartilhar um vídeo com o momento da decolagem. As imagens mostram o céu de São Paulo nublado. Rafael Torres e piloto aparecem sentados na parte dianteira do helicóptero e Luciana faz a filmagem da parte de trás.

Dificuldades durante o voo

O piloto relatou ao dono e coordenador do heliponto em Ilhabela dificuldades durante o voo devidas às condições climáticas do local. De acordo com o Uol, o piloto explicou a Jorge Maroum que não tinha a visibilidade adequada durante o voo.

— Tá tudo colado aqui. Não vai dar certo não, Jorge — disse Cassiano, em referência à visibilidade ruim no céu.

Jorge, então, pede que o piloto "venha por cima" porque haveria "um buraco" em que a visibilidade estaria melhor. Ainda de acordo com o Uol, Cassiano relatou que não tinha "condição de subir".

Piloto teve a licença cassada

Em nota a Anac diz que Cassiano Tete Teodoro “não dispõe de confirmação de sua presença como piloto em comando do voo". Além disso, ele "teve sua licença e todas as habilitações sumariamente cassadas pela Agência em 15 de setembro de 2021 por condutas infracionais graves à segurança da aviação civil”. A Anac diz que ele chegou a recorrer, mas a decisão foi mantida.

Ainda de acordo com a agência, “em outubro de 2023, após observar prazo máximo legal para a penalidade administrativa de cassação, que é dois anos, o piloto retornou ao sistema de aviação civil ao obter nova licença com habilitação para Piloto Privado de Helicóptero (PPH)”. “Essa licença não dá autorização para realização de voos comerciais de passageiros”, finaliza a Anac.

Segundo a CNN, a advogada Érica Rodrigues Zandoná, que representa o piloto, diz que “a defesa se resguarda o direito de não comentar até averiguar todos os fatos junto ao seu cliente”.