Internacional

Tempo para evitar conflito com Líbano está perto do fim, diz Israel antes de visita de secretário de Estado dos EUA

Blinken embarcou ontem para sua 4ª agenda oficial na região desde o começo do conflito, em uma nova tentativa americana de desescalar as tensões crescentes que ultrapassam as fronteiras de Israel e Gaza

Agência O Globo - 05/01/2024
Tempo para evitar conflito com Líbano está perto do fim, diz Israel antes de visita de secretário de Estado dos EUA

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, alertou autoridades dos EUA de que é cada vez mais curto o tempo para evitar um conflito mais amplo com o movimento xiita Hezbollah no Líbano após a morte do número 2 da ala política do grupo fundamentalista palestino Hamas no sul de Beirute na terça-feira — ambos os grupos são aliados do Irã. A advertência foi feita pouco antes de o secretário de Estado americano, Antony Blinken, realizar seu quarto giro pelo Oriente Médio desde o início do conflito entre Israel e Hamas, há quase três meses, para tentar evitar que a crise se espalhe para outros países da região.

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Em uma reunião na quinta-feira com Amos Hochstein, um dos principais conselheiros do presidente Joe Biden, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou que, embora a preferência seja por uma saída negociada com o Líbano, a chance disso era cada vez menor após meses de escaramuças e trocas de disparos de artilharia com o Hezbollah na fronteira entre os dois países.

— Estamos numa encruzilhada — disse Gallant ao enviado americano, segundo uma declaração tornada pública pelo ministério. — Preferimos um acordo diplomático, mas o prazo para alcançá-lo é curto.

De acordo com a Organização Internacional para Migrações (OIM), 76 mil pessoas abandonaram suas casas no lado libanês da fronteira para fugir da troca de hostilidades.

Apelo por dissuasão

Blinken tem paradas confirmadas em Israel, Cisjordânia, Egito, Grécia, Turquia e outros quatro países árabes. De acordo com o Departamento de Estado americano, a prioridade do diplomata é conseguir um compromisso de aliados e de outros países da região para que usem sua influência para dissuadir qualquer escalada do conflito. Em uma entrevista coletiva na quinta-feira, o porta-voz Matthew Miller afirmou haver um "risco real" e uma "preocupação grande" com essa possibilidade.

O cenário para a visita do diplomata é mais complexo que o das agendas anteriores. Após incidentes no Irã, Iraque, Líbano e no Mar Vermelho — nem todos diretamente relacionados à guerra em Gaza, mas que adicionam camadas de tensão a um contexto regional com atores interligados —, a retórica bélica virou o tom de líderes da região.

No lado libanês da fronteira, o Hezbollah prometeu vingar-se da morte de Saleh al-Arouri, vice da ala política do Hamas, e classificou o ataque a Beirute como um marco perigoso. Em um discurso na noite de quarta-feira, Hassan Nasrallah, líder do movimento xiita, afirmou que enfrentará qualquer conflito mais amplo com Israel.

— Se o inimigo considerar travar uma guerra contra o Líbano, nossa batalha não terá fronteiras nem regras — disse. — Não temos medo da guerra. Aqueles que pensam em entrar em guerra conosco vão se arrepender. A guerra conosco terá um custo muito, muito, muito alto; o crime de ontem (terça-feira) não ficará impune.

A tensão regional também escalou rapidamente no Irã após um atentado terrorista contra uma procissão perto do túmulo do general Qassem Soleimani deixar dezenas de mortos. Embora o ataque na cidade de Kerman, a cerca de 800 Km ao sul de Teerã, tenha sido reivindicado pelo Estado Islâmico, inimigo do regime xiita dos aiatolás, autoridades do país se anteciparam em culpar EUA e Israel pelo massacre.

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, prometeu retaliar os "inimigos" do Irã em um discurso nesta sexta-feira perante uma multidão em luto durante o funeral das vítimas do atentado. Enquanto Raisi prometia demonstrar o poder e as capacidades bélicas do país, afirmando que as Forças Armadas decidiriam "quando e onde" fazer isso, uma multidão gritava "morte à América" e "morte a Israel", segundo noticiou a rede catari Al-Jazeera.

No giro pelo Oriente Médio, Blinken também deve endereçar a questão dos ataques dos rebeldes houthis — uma milícia apoiada pelo Irã que atua no Iêmen — a embarcações mercantes no Mar Vermelho. A preocupação com os atos já é uma das principais repercussões externas do conflito em Gaza, prejudicando uma das principais rotas de comércio marítimo entre Ásia, África e Europa.

Gaza sem Israel ou Hamas

Paralelamente ao temor de escalada regional, o ministro da Defesa israelense esboçou na madrugada desta sexta-feira um plano preliminar para o pós-guerra na Faixa de Gaza. Conforme as linhas-gerais apresentadas, a ideia é que nem Israel nem o Hamas, que controla Gaza desde 2007, governem o enclave palestino depois que o conflito acabar. O plano, porém, não detalha qual entidade palestina assumiria a administração local.

— O Hamas não governará Gaza, [e] Israel não governará os civis de Gaza —disse Gallant, apresentando o plano do pós-guerra à imprensa. — Os habitantes de Gaza são palestinos. Consequentemente, entidades palestinas estarão encarregadas [da gestão] na condição de que não haja nenhuma ação hostil, ou ameaça, contra o Estado de Israel.

Com a guerra em andamento, porém, o ministro previu uma continuidade dos combates em Gaza. De acordo com Gallant, uma nova fase deve ser inaugurada a qualquer momento, com as ações mais pesadas, incluindo ataques aéreos, incursões terrestres, demolição de túneis, limitadas ao norte do enclave palestino. A tendência, acrescentou, é uma diminuição da presença de militares no sul, com a região ficando sujeita apenas a ações direcionadas de localização e eliminação de líderes do Hamas e busca e resgate de reféns.

O plano para o pós-guerra, ainda de acordo com o ministro, teria início apenas quando os reféns forem resgatados e as forças militares do Hamas estiverem totalmente comprometidas. Entretanto, o plano apresentado por Gallant observa que Israel vai manter o direito de operar no território em caso de ameaça. (Com NYT, El País e AFP)