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Festival Universo Paralello, que foi alvo de ataque do Hamas, ganha nova edição na Bahia e homenageia vítimas

Rave, que foi criada pelo brasileiro Juarez Petrillo, pai do DJ Alok, está sendo realizada na Praia de Pratigi, em Ituberá; festa tem sobrevivente entre os participantes

Agência O Globo - 02/01/2024
Festival Universo Paralello, que foi alvo de ataque do Hamas, ganha nova edição na Bahia e homenageia vítimas

Levantando a bandeira da paz e do amor com liberdade e tolerância, a 17ª edição do Universo Paralello (UP) está acontecendo na Praia de Pratigi, em Ituberá, no Sul da Bahia, desde o último dia 27 e vai até esta quarta-feira (3). Na sexta-feira, a organização fez uma homenagem às vítimas do atentado ocorrido em Israel, em outubro, incluindo fãs de música eletrônica que estavam justamente numa versão do Universo Paralello, festival criado pelo brasileiro Juarez Petrillo, pai do DJ Alok. Na homenagem às vítimas do ataque terrorista do Hamas, houve um manifesto pela paz, espécie de tributo a Bob Marley que reuniu músicos como Hélio Bentes, do Ponto de Equilíbrio, e Josh Barrett, do The Waillers, nas areias de Pratigi. Entre os participantes, há ao menos um dos sobreviventes que estavam na rave em Israel no dia dos ataques terroristas, o paulista Rafael Zimerman.

No ataque em outubro à festa, pelo menos 260 pessoas morreram. A edição do evento Supernova Universo Paralello atacado pelo Hamas em Israel não era uma produção brasileira, apenas a marca do evento, que acontece há 23 anos no Brasil e foi licenciada para produtores israelenses. O uso do nome do festival passou a ser negociado, há alguns anos, para outros países, como Portugal, México, Espanha e Israel. O evento é um dos maiores festivais de música eletrônica e cultura da América Latina, reunindo DJs de todo o mundo em sete palcos. Do psy trance a vertentes do house, o line-up tem headliners como Captan Hooker, Vegas, Ace Ventura, Vintage Culture, Joseph Capriati e Alok, que toca na noite desta terça em uma das apresentações mais aguardadas pelo público.

— O Universo Paralello, como o próprio nome diz, já é um lugar fora da Babilônia. Esse festival tem esse lado consciente e naturalmente esse manifestação pacifista. Aqui, se você pisa no pé de alguém, te pedem desculpa. Cada vez mais temos necessidade de sentir e passar essa mensagem pela música. Para a gente que é do reggae, nosso canto pela paz está em todas as músicas — destaca o músico Hélio Bentes.

Sobrevivente: 'Preciso me curar'

Sobrevivente do ataque em Isrel, o paulista Rafael Zimerman está entre os que escolheram passar o réveillon no Universo Paralello. Amigo do brasileiro Ranani Glazer, que morreu no atentado, e da namorada dele, Rafaela Treistman, que sobreviveu, Rafael voltou a morar no Brasil, no mês passado.

— Preciso me curar. Adoro música eletrônica e, para mim, é como se fosse um recomeço. Desde que voltei ao Brasil estou dando palestras focadas no que aconteceu comigo, como sobrevivi e como levo a vida agora, de forma otimista — conta Rafael, que está no festival com mais três amigos; um deles é israelense e está gravando um documentário pós-atentado.

Muita história

Dono do UP e pai dos DJs Alok e Bhaskar, Juarez Petrilo, o DJ Swarup, é outro dos sobreviventes do ataque em Israel. Ele ia tocar na hora em que os terroristas chegaram ao local. Assustado, chegou a pensar em desistir desta edição na Bahia, mas destaca o papel que o UP tem tanto para o público como para a comunidade local, que cresceu no entorno junto com o festival. Recentemente, ele recebeu o título de cidadão ituberaense. Além de o evento gerar empregos, movimentar a economia e o turismo, parte de sua renda é destinada para o Círculo Solidário, que apoia projetos sociais e culturais da região.

O nome Universo Paralello foi idealizado em 1998, após Juarez voltar de Amsterdã com a ex-mulher, a DJ Ekanta, mãe dos gêmeos Alok e Bhaskar. Eles tiveram o primeiro contato com a música eletrônica na Holanda, se apaixonaram pelo som e voltaram querendo tocar. Como a cena eletrônica ainda estava começando a surgir no país e existiam poucos eventos, fizeram um réveillon em uma cobertura da família chamado Universo Paralello. Poucos anos depois, a primeira edição do evento em formato de festival aconteceu em Goiás, na Chapada dos Veadeiros. Mas como o período de réveillon é chuvoso na região foram poucas edições ali, até encontrarem a fazenda de Pratigi e migrar com a festa paz e amor para a Bahia.

Mobilizando toda a família até hoje, o festival foi uma escola para os irmãos Alok e Bhaskar. Pelos palcos do Universo Paralello, além deles, já passaram mais de mil artistas, incluindo grandes nomes da música eletrônica da como Astrix e Infected Mushroom.

— O UP foi uma escola para mim. Nas primeiras edições éramos muito pequenos. Quando me apaixonei por música eletrônica, entre 12 e 13 anos, olhei como uma grande oportunidade profissional. Passava o dia todo em cima do palco. Naquela época não tinha tanta internet, então, quando um artista internacional vinha para o Brasil, era o momento de conhecermos melhor o seu trabalho. Na virada de 2004 para 2005, meu pai colocou eu e o Alok para tocarmos à meia-noite. Aquele momento foi um divisor de águas — lembra Bhaskar, que atua na produção geral do evento e é curador da UP Club, pista voltada para vertentes do house.

Segundo Bhaskar, o irmão Alok é um consultor e sua opinião tem grande peso nas principais decisões. Foi dele a ideia de trazer o palco principal do evento, o Main Floor, para a praia nesta edição. Além de tocarem separados, os irmãos vão repetir a dobradinha no Main Floor com o projeto Lógica, no dia 2. As apresentações de psy trance eles deixam hoje apenas para o Universo Paralello.

— Uma das coisas mais legais do UP é que é um festival que tenta trazer coisas novas para o Brasil. Vários artistas foram revelados pelo festival. O Neelix, que é um dos maiores nomes do psy trance é um deles. Quando formamos a pista UP Club, trouxemos nomes que se tornaram algumas das maiores referências do mundo. O UP é uma vitrine para carreira, artistas tocam pelo prazer de se expressar artisticamente para quem entende o som. Na cena trance e no house, muitos dos contratantes tiram férias para curtir o festival. São formadores de opinião — ressalta Bhaskar.

Várias formas de curtir o festival

O ingresso para o evento dá direito ao camping na área do festival, mas para quem pensa em curtir o Universo Paralello e não abre mão de alguns confortos existe a possibilidade de hospedagem em uma área exclusiva. O Vila Mundo conta com diferentes tipos de barracas que já ficam montadas para o hóspede, além de contêineres e domes com ar condicionado.

A origem dos hóspedes dá pistas de onde vem o público do festival. A maioria é do Sudeste e cerca de 30% são estrangeiros, sendo a maior parte da América do Sul.

— Criamos um pacote de experiência em que a pessoa não precisa se preocupar com nada. No início, o espaço era bem simples, com café da manhã e área de convivência na praia. Hoje, damos acesso para que pessoas que não viriam nas condições normais possam vir com um pouco mais de conforto. Agregamos alguns serviços, melhorando experiências e aumentando área para o público. Incluímos salão de beleza, wi-fi, bar, restaurante, chuveiro quente. Hoje, recebemos de 800 a mil pessoas, com quatro modelos de barraca, contêiner com ar-condicionado. O dome é o suprassumo, único de frente para a praia, em estrutura de bambu, mobiliário e área exclusiva. Todos têm serviço de limpeza. Concentramos os serviços na prainha: bar, restaurante, lojinha com marcas apoiadoras, salão de beleza, área de descanso com redário, pufes, cadeiras e um lounge, com DJs tocando no pôr do sol — detalha o responsável pelo setor de hospedagem, Vitor Yuki, há mais de dez anos trabalhando na infraestrutura do UP.