Internacional

Blinken vai ao México em busca de medidas para conter migração, à medida que travessias e mortes disparam

Cerca de 10 mil migrantes, segundo autoridades americanas, tentam entrar ilegalmente através da fronteira sul todos os dias, quase o dobro do número registrado antes da pandemia

Agência O Globo - 27/12/2023
Blinken vai ao México em busca de medidas para conter migração, à medida que travessias e mortes disparam
Blinken - Foto: AGENCIA BRASIL

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, viaja para o México, nesta quarta-feira, na esperança de mostrar avanços na luta contra a crescente imigração, uma das principais dores de cabeça do presidente Joe Biden para conquistar a reeleição em 2024, à medida que o número de mortes na fronteira entre os países também dispara.

Incomum por acontecer na semana do Natal, a visita do chefe da diplomacia americana foi marcada repentinamente, em um momento em que o Partido Republicano pressiona Biden para que adote medidas contra a migração em troca da aprovação, por parte de seus congressistas, de novas ajudas para a Ucrânia.

Cerca de 10.000 migrantes, segundo autoridades americanas, tentam entrar ilegalmente através da fronteira sul todos os dias, quase o dobro do número registrado antes da pandemia.

O número de mortes na fronteira entre os países também ameaça superar os do ano anterior. Segundo a filial de El Paso do Departamento de Alfândega e Controle de Fronteiras, 148 mortes foram registradas apenas neste ponto da divisa durante o ano fiscal de 2023, que vai de outubro de 2022 até o último dia de setembro de 2023. O número é quase duas vezes maior que as 71 mortes registradas no ano fiscal de 2022, que já havia sido marcado por um fluxo significativo de migrantes.

De acordo com as autoridades, a maioria das mortes ocorreu entre maio e setembro, quando são registradas altas temperaturas em uma vasta área semidesértica que se estende de El Paso, no oeste do Texas, até as fronteiras do Novo México e do Arizona. A crise de 2023 também registrou um aumento significativo no número de mulheres mortas: foram 84 em comparação às 35 do ano anterior.

A ONU classificou a rota terrestre do México para os Estados Unidos como a mais mortal para os migrantes. Segundo as Nações Unidas, 686 migrantes morreram ou desapareceram no ano passado em sua tentativa de atravessar a fronteira. Quase metade dessas mortes está ligada à travessia por estradas nos desertos de Sonora e Chihuahua, rotas cada vez mais perigosas em um mundo cada vez mais quente. Os números sobem para 1.457 mortes quando as vítimas fatais de outros trechos, como a travessia da selva de Darien e as rotas marítimas pelo Caribe, são adicionadas, tornando 2022 o ano mais mortal já registrado para a organização.

Com mais de 2,4 milhões de cruzamentos registrados em 2023, o ano também estabeleceu recordes de travessias irregulares, o que levou Washington a fechar algumas passagens fronteiriças com o México para concentrar os seus esforços na entrada de migrantes.

O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, conversou por telefone na semana passada sobre esta questão com Biden, que concordou em enviar Blinken, que viajará acompanhado do secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, e da responsável pela imigração da Casa Branca, Liz Sherwood.

López Obrador disse na sexta-feira que o México “fortalecerá as medidas” para impedir o fluxo de migrantes que chegam aos Estados Unidos.

O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, anunciou que a delegação dos EUA discutirá com o presidente mexicano a "necessidade urgente de vias legais e ações adicionais" em relação à migração.

O México concordou com Biden e com o seu antecessor, o republicano Donald Trump, em acolher, pelo menos temporariamente, migrantes que tentassem entrar nos Estados Unidos.

Trump, favorito à nomeação republicana para enfrentar Biden nas eleições presidenciais de novembro de 2024, está fazendo campanha com uma mensagem anti-imigração, acusando os estrangeiros de “envenenar o sangue” do país, palavras do próprio Hitler, notaram os seus críticos.

Os republicanos recusam-se a apoiar um novo pacote de ajuda financeira à Ucrânia no Congresso se não forem tomadas medidas para impedir a migração. Já o governo alertou que, sem acordo, a Ucrânia ficará em breve sem as armas necessárias para se defender da invasão russa.

A proposta de Biden para convencer os republicanos inclui aumentar em 1.300 o efetivo total de agentes da Patrulha de Fronteira.

‘Não existe varinha mágica’

Andrew Rudman, diretor do Instituto México do Wilson Center, em Washington, acredita que Blinken buscará um acordo com López Obrador para que tome medidas, como conceder-lhes autorizações de trabalho e, assim, manter os migrantes no México.

— O governo Biden quer mostrar que está fazendo todo o possível [para impedir a migração] — disse ele. — Um dos desafios é que todo o mundo quer uma solução de curto prazo para um problema global de longa duração, mas não existe uma varinha mágica. A maioria dessas pessoas migra porque acredita que a vida delas será melhor nos Estados Unidos.

Grande parte dos migrantes é da América Central, embora nos últimos meses tenha aumentado o número de venezuelanos e de haitianos, que fogem da pobreza e da violência que assola seus países.

No domingo, uma caravana de milhares de migrantes partiu do sul do México, ante a impossibilidade de obter uma autorização que lhes permitisse atravessar o país para chegar aos Estados Unidos.

María Alicia Ulloa, uma hondurenha que faz parte desse grupo, pediu às autoridades americanas e mexicanas reunidas nesta quarta-feira que encontrem formas de ajudar os migrantes, uma vez que a situação em seus países de origem "também é crítica".

— Emigramos com a esperança de dar uma vida melhor para os nossos filhos e uma vida melhor para os familiares que ficam para trás — desabafou. (Com El País)