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Governo argentino anuncia 'sanções severas' e toma medidas para limitar protestos contra o plano de austeridade

Ministra da Segurança, Patricia Bullrich, anunciará nesta quinta-feira um protocolo para a manutenção da ordem pública diante de bloqueios de ruas

Agência O Globo - 14/12/2023
Governo argentino anuncia 'sanções severas' e toma medidas para limitar protestos contra o plano de austeridade
Javier Milei - Foto: REUTERS/Agustin Marcarian

O presidente Javier Milei está tomando medidas preventivas em antecipação aos protestos contra suas medidas de austeridade na Argentina, que incluem cortes profundos no orçamento e redução dos subsídios para energia e transporte. A informação foi confirmada pelo porta-voz da presidência, Manuel Adorni, ao informar nesta quinta-feira que a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, anunciará à tarde "um protocolo para a manutenção da ordem pública diante de bloqueios de ruas", repetindo o slogan usado em mais de uma ocasião por Milei: "dentro da lei tudo, fora da lei nada".

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— [O protocolo] incluirá sanções severas para aqueles que impedirem a livre circulação: aqueles que cortam, aqueles que transportam, aqueles que organizam e aqueles que financiam — disse o porta-voz, após uma reunião do gabinete no palácio presidencial.

O anúncio de Adorni também está de acordo com o que o novo prefeito da cidade de Buenos Aires, Jorge Macri, disse quando apresentou seus novos chefes de segurança, Waldo Wolff e Diego Kravetz.

— Não deve haver crianças nas passeatas. Não há razão para que a vida de menores seja colocada em risco, expondo-os a possíveis episódios de violência. Os grupos que levarem menores de idade para as passeatas serão denunciados criminalmente — explicou, como medida para tentar conter o número de greves, acrescentando: — É um gesto de compromisso com a nossa polícia para que eles saibam que não estamos fugindo da nossa responsabilidade de fornecer segurança e que estamos lá para acompanhá-los em primeira pessoa. Assumimos essa responsabilidade.

Macri afirmou ainda que "uma nova etapa está começando":

— Estes são tempos complexos e vamos nos envolver mais. A força policial tem que saber que estamos trilhando esse caminho juntos — disse o prefeito, que estava acompanhado pelo ministro Wolff, Kravetz e o comissário Oscar Passi.

A greve

Na quarta-feira, o partido trabalhista de esquerda Polo Obrero convocou uma greve imediata greve imediata e uma "concentração maciça" em 20 de dezembro na Praça de Maio, uma praça histórica de Buenos Aires em frente ao palácio presidencial, que tem sido palco de muitos dos eventos mais importantes do país.

A conferência, de duração muito curta, ocorreu em um contexto no qual várias organizações sociais estão começando a tomar medidas para protestar contra as diretrizes do ministro da Economia, Luis Caputo, com relação à remoção dos subsídios aos serviços.

O sindicato dos trabalhadores antecipou as medidas econômicas de Milei, incluindo uma desvalorização de 54% da moeda combinada com cortes de gastos totalizando 2,9% do produto interno bruto, aumentarão a inflação e que levarão a demissões e cortes salariais.

Minutos antes de Adorni começar a falar, o chefe da Frente de Luta, Eduardo Belliboni, solicitou uma reunião com o secretário da Criança e da Família, Pablo de la Torre, "para tratar de questões sociais que se agravaram nos últimos dias com o aumento dos preços dos produtos de primeira necessidade".

— Não recebemos os alimentos nos refeitórios sociais prometidos pela administração anterior e, de acordo com o ex-secretário Javier García, isso fazia parte da transição com a administração atual e deveria ter começado a ser implementado nesta semana; no entanto, isso não foi cumprido. Também estamos preocupados com o anúncio de que os programas Potenciar Trabajo serão congelados em seu nível atual, pois em poucas semanas eles serão pulverizados e deixarão mais de um milhão de pessoas sem uma renda essencial para a alimentação diária — acusou o líder sindical.

Enquanto isso, o Movimento de Esquerda Juventude e Dignidade (MIJD), liderado pelo histórico grevista Raúl Castells, reuniu-se na terça-feira na porta do antigo Ministério do Trabalho — agora, secretaria — com uma exigência: aumentar o salário mínimo vital e móvel para 350.000 pesos, o que implicaria um aumento nos planos sociais vinculados a essa fórmula.

Uma novidade do protesto, o primeiro do mandato do novo presidente, foi o fato de que a Avenida Alem não foi bloqueada e os manifestantes, que não passavam de cem, foram posicionados apenas na calçada, sem bloquear a circulação de carros. O protesto durou até que um incêndio no prédio ao lado da Secretaria do Trabalho obrigou os manifestantes a deixarem a área. Em seguida, eles se deslocaram para os portões da Casa Rosada.

— Nos últimos 30 dias, os aumentos já estão entre 50 e 100% — apontou Castells, à frente da pasta que agora está sob o guarda-chuva do novo superministério do Capital Humano, chefiado por Sandra Pettovello. — Pedimos uma delegação de oito pessoas, eles propuseram uma delegação de três e nós propusemos uma delegação provisória de cinco. Agora eles vão nos atender.

Milei fez referência a essa problemática pela primeira vez em seu discurso inaugural fora do Congresso. Referindo-se à situação social, ele mais uma vez se baseou no cumprimento da lei para advertir que "quem faz é quem paga" e que aqueles que protestarem bloqueando uma rua não receberão planos sociais ou subsídios. Ele insistiu que "tudo dentro da lei, nada fora da lei".

A multidão então vibrou e aplaudiu o anúncio do presidente, que leu seu discurso lentamente, mas se conteve nesse ponto. Ele garantiu que não se deixaria "extorquir por aqueles que usam os que menos têm para enriquecer".