Internacional

Ministro de Lula busca evitar contato com Bolsonaro na posse de Milei

Protocolo argentino determina que ex-presidentes estrangeiros ficam no mesmo local que delegações oficiais dentro do Congresso, onde acontece a cerimônia principal

Agência O Globo - 10/12/2023
Ministro de Lula busca evitar contato com Bolsonaro na posse de Milei

Mais de 120 delegações internacionais chegaram a Buenos Aires para participar da posse do presidente eleito, Javier Milei, e o Brasil será representando pelo chanceler Mauro Vieira e pelo embaixador do país na Argentina, Julio Bitelli. Pelas regras de protocolo do governo argentino, na cerimônia na qual o novo chefe de Estado é empossado, dentro do Parlamento, ex-presidentes estrangeiros ficam no mesmo local que delegações oficiais. Portanto, as chances de o ministro das Relações Exteriores do governo Lula sentar-se próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro são grandes, admitiram fontes brasileiras.

Essa foi uma das razões que reforçou a decisão do presidente Lula de não vir até Buenos Aires para presenciar a posse de Milei. Integrantes do governo brasileiro estão há semanas em contato com o homem encarregado do protocolo da posse, o embaixador e ex-chanceler argentino Jorge Faurie, para tentar evitar encontros desagradáveis. Mas faltando poucas horas para a cerimônia no Congresso argentino, não se sabia, ainda, qual seria a localização da delegação oficial brasileira. O objetivo dos enviados de Lula é claro: podendo, evitar um contato com Bolsonaro.

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Do lado de fora do Congresso argentino, o clima é de tranquilidade. No dia em que o país comemora 40 anos consecutivos de democracia, são esperadas centenas ou até milhares de pessoas nas ruas do centro de Buenos Aires, para acompanhar o discurso de Milei. Pela primeira vez, e inspirado na estética americana — sobretudo do governo do republicano Ronald Reagan —, o presidente eleito da Argentina não falará dentro do Parlamento e sim num palco montado em frente à Praça do Congresso.

Na primeira parte da cerimônia, do lado de dentro, Milei receberá a faixa e o bastão presidenciais por parte de seu antecessor, o presidente Alberto Fernández. Também será empossada a vice-presidente, Victoria Villarruel. Diferentemente do que ocorreu em 2015, quando deixou o poder após oito anos de governo — e quase 13 anos de kirchnerismo, somando o mandato de seu marido, Néstor Kirchner —, a vice-presidente Cristina Kirchner estará na posse do novo governo. Há oito anos, Cristina se recusou a participar da cerimônia em que seu sucessor, Mauricio Macri, assumiu o poder.

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Nos arredores do Parlamento argentino, congressistas aliados ao governo e opositores se misturam, num clima de expectativa, por um lado, e frustração pelo outro.

— Hoje começa uma etapa de mudanças reais para a Argentina. É um grande dia para a democracia — disse o deputado Martin Menem, sobrinho do falecido ex-presidente peronista de direita Carlos Menem (1989-1999), que será o novo presidente da Câmara. Para Milei, os dois governos de Menem foram os melhores da História argentina.

Como Milei, o deputado tem apenas dois anos de experiência política, e confessou ainda “estar aprendendo”.

— Queremos avançar rápido com o pacote de leis que será enviado pelo presidente — afirmou Menem, já se preparando para semanas de intensa atividade no Congresso argentino.

Ministros que deixam o poder como Daniel Arroyo, que comandou a pasta de Desenvolvimento Social, desejaram sorte ao novo governo, mas expressaram preocupação pelo programa econômico de choque que vem por aí.

— A ideia de uma política de choque não é a que mais me agrada, mas desejo sorte ao novo governo — declarou Arroyo.

Milei terá um longo dia pela frente. Após a cerimônia e discurso no Congresso, o presidente eleito irá até a Casa Rosada, onde receberá delegações estrangeiras e empossará os oito ministros que formarão seu Gabinete. No fim do dia, será o convidado de honra de uma gala no teatro Colón, na qual a orquestra tocará várias músicas pedidas pelo presidente eleito, entre elas “Balada para um louco” (em tradução livre), de Astor Piazzolla.