Geral
Quadrinhos mudos comprovam poder de fogo da narrativa visual
Lançamentos do suíço Thomas ott e do norueguês Jason partem de roteiros sem palavras e desenhos em preto e branco

Uma HQ não precisa ter balões de fala ou recordatórios para ser uma HQ. Basta ser uma narrativa em quadrinhos, ou, ao menos, imagens sequenciais. O suíço Thomas Ott e o norueguês Jason sabem disso muito bem. Seus livros mais recentes a aportar por aqui no Brasil são bons exemplos de gibis mudos. O poder de suas histórias está na narrativa visual, que parte de bons roteiros, com desenhos fundamentalmente em preto e branco, em um número constante de quadros por página.
Em “O número 73304-23-4153-6-96-8” (Darkside), Ott usa uma estrutura de quatro quadros por página, com eventuais quebras para três ou um (como na imagem que ilustra este texto), para criar uma história de suspense em que o indecorável algarismo do título guia o protagonista, como se a sorte estivesse a seu lado, ou ele pudesse enumerar o seu destino implacável.
A HQ, a melhor do autor publicada pela Darkside, tem início com a morte de um homem que deixa, para seu algoz, a cifra em questão num pequeno pedaço de papel. A partir daí, os 15 algarismos se dividem de inúmeras maneiras, mas sempre em ordem, influenciando o futuro do personagem, como no número de balas do tambor do revólver.
Com estilete
O leitor passa, então, a acompanhar a sequência numérica, participando intensamente da história, ilustrada por Ott, como de costume, por meio do scratchboard. A curiosa técnica que consiste em revelar o branco através da raspagem de uma superfície preta com o uso de um estilete é um trabalho bastante artesanal e surpreende ao fazer com que a escuridão sobressaia imponente na arte do gibi, ao estilo noir.
Jason conta uma história mais leve que seu colega de quadrinhos mudos em “Os mortos e os vivos” (Mino). Aqui, como de costume em seu trabalho, o artista faz gags visuais extremamente agradáveis com seus personagens antropormofizados e com bolas brancas no lugar dos olhos, completamente sem emoção alguma. Suas cenas emulam um Buster Keaton contemporâneo e dá gosto imaginar o que o cineasta e ator do cinema mudo, que não sorria, faria com o tema de zumbis. Na HQ “Os mortos e os vivos”, aliás, como nos filmes do início do século passado, aparecem ao longo da trama seis quadros com legendas em fundo preto, como os intertítulos do cinema de antigamente. Um deles, spoiler, é “O fim”, como o “The End” cinematográfico.
Com uma estrutura de seis quadros por página, Jason não usa balões em seu quadrinho, mas se diverte com onomatopeias ao contar a história de um lavador de pratos que junta dinheiro para sair com a mulher de seus sonhos, uma prostituta que faz ponto em seu caminho de volta para casa. Dia a dia o personagem, que parece ser um cachorro humanizado, poupa para sair com a moça, aparentemente de sua espécie. Mas a queda repentina de um meteorito no cemitério da cidade desperta os mortos e muda o destino dos vivos nesta agradável HQ que homenageia os filmes de George Romero com um final tocante. Não é a melhor das seis do autor já publicadas pela Mino (duas delas coloridas e com balões, aliás), mas vale a “leitura”, sem dúvida.
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