Economia

Fortnite ganha mapa que retrata Quilombo dos Palmares

O jogo Fortnite reproduziu o maior refúgio de pessoas escravizadas já registrado no Brasil

Agência O Globo - 03/12/2023
Fortnite ganha mapa que retrata Quilombo dos Palmares

Caminhar pelo Quilombo dos Palmares na forma como ele era há 400 anos, explorando os costumes, a relação com a natureza, a organização do trabalho e a defesa do território, se tornou possível de uma forma mais fácil do que se imagina com a ajuda da tecnologia. O maior refúgio de escravizados já registrado no Brasil, que sobreviveu por cerca de cem anos, foi reconstruído pela desenvolvedora brasileira Salve Games, que integra o ecossistema criativo PretaHub, em um novo mapa de Fortnite.

Este é um dos jogos on-line mais populares do mundo, e o novo mapa se chama “Zumbi dos Palmares”. O ambiente digital retrata fielmente o quilombo e a história de seu líder e herói.

Com previsão de lançamento para fevereiro de 2024, o mapa, que faz parte do chamado “Modo Criativo” do jogo, permite que os jogadores explorem toda a região do Quilombo dos Palmares com a intenção de protegê-lo de invasores.

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Em paralelo ao Modo Principal do Fortnite, que pressupõe a sobrevivência de somente um jogador ao final, nesta versão, o intuito é preservar, em grupo, o território que abrigava escravizados que conseguiam escapar das senzalas e seus senhores.

O jogo aborda a luta dos antepassados pela liberdade, resgatando a trajetória de grandes figuras da História, como Zumbi dos Palmares. Para a criação, além de contar com uma equipe de historiadores e roteiristas pretos, os desenvolvedores foram à Serra da Barriga, em Alagoas, onde ficava o Quilombo.

O sócio da Salve Games, Cristiano Tostes, diz que o conhecimento sobre este período, quando abordado dentro de um jogo, pode despertar nos jogadores o interesse pelos heróis nacionais e pela História, especialmente por ser contada sob uma perspectiva decolonial:

— É chocante que este ponto de resistência da nossa história ainda seja tão pouco falado. Mesmo quem conhece a história, quando chega lá se assusta com o tamanho, com a organização e com o quanto de luta aconteceu. Estamos acostumados com jogos que trabalham narrativas estrangeiras, de guerras mundiais ou vikings, temos pouco sobre as batalhas que fazem parte da nossa história e, por isso, tentamos construir um jogo que fosse não apenas divertido, mas educativo.

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Equipe de pessoas da periferia

Apesar de existirem centenas de mapas no Fortnite, abordando diversas temáticas e propondo vários tipos de minijogos dentro da plataforma, ainda são poucos os que abordam a realidade brasileira. O Modo Criativo permite que jogadores e empresas desenvolvedoras criem, por meio da Unreal Editor for Fortnite (UEFN), uma aplicação própria do Fornite, mapas e publicação de jogos.

Existem mapas de desafios de sobrevivência, esconde-esconde, polícia e ladrão e “escapes” de terror, por exemplo.

No caso de “Zumbi dos Palmares”, além de uma equipe totalmente formada por pessoas pretas e de periferia, a narrativa foi construída a partir do conceito de comunicação ancestral, proposta do Bioma, que valoriza conhecimentos e propõe olhar mais aprofundado sobre a perspectiva da história que valoriza narrativas muitas vezes invisibilizadas.

Juliana Gonçalves, gestora do Bioma, projeto do Pretahub responsável pelo investimento no projeto, classifica que um dos principais intuitos do jogo é a criação de imagens e histórias positivas sobre a história da resistência de pessoas pretas ao longo da história.

— Representatividade ainda é algo muito importante. Temos muito poucos exemplos positivos sobre nós mesmos no ensino regular e nos grandes meios de comunicação, como jogos e filmes. Quanto mais conseguirmos disseminar que nossos antepassados não eram agentes passivos na história, mas, guerreiros, que lutaram e dedicaram toda sua vida pela liberdade que temos hoje, maior será o nosso ganho — afirma Juliana.

Educadores podem usar game em sala

Além da diversão, o intuito dos desenvolvedores é utilizar o jogo sob o viés educativo. Na quinta-feira, uma cartilha com dicas para educadores usarem o game dentro das escolas foi divulgada, trazendo informações sobre a história do Quilombo dos Palmares e de Zumbi .

— Nossa intenção é que os professores, em sala com os estudantes, possam entrar on-line com os alunos para explorar o mapa, enquanto contam a história e explicam sobre a organização do quilombo. As crianças hoje têm experiências com games de forma muito orgânica, aprendendo com muita facilidade na internet. Por isso, a importância de trazer informação de qualidade, contextualizada para a realidade brasileira — diz Juliana.

Segundo a Pesquisa Game Brasil (PGB), levantamento anual sobre o consumo de jogos eletrônicos no país, negros e mulheres são maioria entre gamers brasileiros. Os negros são 54,1%, quando somados aqueles que afirmam ser pretos (12,7%) ou pardos (41,4%). Além disso, 82,1% consideram que jogar eletrônicos é uma das suas principais formas de diversão. Mas um jogo nesses moldes ainda é algo muito raro no Brasil.