Internacional

Papel diplomático do Brasil na disputa entre Venezuela e Guiana é alvo de expectativa na região, diz analista

Para Mariano de Alba, assessor sênior do CrisisGroup, países sul-americanos esperam que Brasil lidere o processo de desescalada de tensões pela via política

Agência O Globo - 01/12/2023
Papel diplomático do Brasil na disputa entre Venezuela e Guiana é alvo de expectativa na região, diz analista

A disputa entre Venezuela e Guiana pelo território do Essequibo, na fronteira contestada entre os dois países, aumentou o nível de tensão na região amazônica e empurrou o Brasil para uma posição na região. De acordo com o assessor sênior do CrisisGroup, Mariano de Alba, os demais países sul-americanos esperam que o Brasil exerça a posição de líder regional e tome a frente das conversas diplomáticas para desescalar o conflito.

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— A região espera que o Brasil exerça sua liderança e, como país que divide fronteira com os outros dois, utilize sua destreza diplomática para rebaixar as tensões e evitar um conflito — afirmou Alba em conversa com O GLOBO.

O Palácio do Planalto e o Itamaraty agiram, nas últimas semanas, para tentar acalmar os ânimos na região amazônica. O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, fez uma viagem relâmpago para Caracas na semana passada, em meio à forte preocupação do governo brasileiro pela escalada da campanha eleitoral na Venezuela para o referendo. Um contingente adicional de 60 militares do Exército foi enviado para Pacaraima, na tríplice fronteira, ontem, enquanto uma reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Guiana, Irfaan Ali, deve acontecer no sábado, à margem da COP28, após um desencontro de agendas nesta sexta-feira.

Embora não descarte que um conflito armado aconteça na região, o analista classifica a situação como "menos provável", comparativamente. Mesmo em um cenário de confronto bélico, Alba afirma que pouco provavelmente haveria uma expectativa regional sobre o envolvimento militar do Brasil na questão.

— Não creio que haja expectativa da região de que o Brasil intervenha militarmente em caso de um conflito armado. A expectativa maior seria para que ajudasse diplomaticamente a desescalar o conflito — apontou o analista. — O impacto para o Brasil seria o reforço das fronteiras, além de utilizar sua destreza diplomática para tratar de limitar e resolver o conflito.

Vitória do 'sim' e decisão do tribunal internacional

O analista também aponta que a vitória do 'sim' no referendo que será realizado na Venezuela sobre a anexação do Essequibo é dada como certa.

— O referendo vai ser realizado e o "sim" vai ganhar — disse. — Por hora, o governo de Maduro não parece ter interesse em escalar a disputa substancialmente e abrir a porta de um possível conflito armado, mas sim tem interesse em manter a retórica estridente que o permite avivar o sentimento patriota nas Forças Armadas e tentar fazer a oposição parecer entreguista do território.

A Guiana, segundo ele, também tem feito um jogo de utilizar a tensão para buscar objetivos específicos, como fortalecer a cooperação militar com outros países e aumentar a popularidade interna.

Alba minimizou, contudo, o papel prático da decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, que determinou que nenhum dos lados do conflito tomasse ações para escalar ainda mais as tensões, e disse que isso não impedirá o pleito.

— A decisão de hoje não tem um efeito prático aparente, além de subir o custo internacional ao governo da Venezuela de entrar no território contestado e recordar aos dois que devem se abster de qualquer ação que agrave a disputa — comentou.