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'Nossa fé estava no fundo do poço', diz trabalhador indiano resgatado após 17 dias de túnel que desabou

Os 41 trabalhadores foram resgatados no começo da semana e começam a dar depoimentos sobre o período que passaram soterrados

Agência O Globo - 29/11/2023
'Nossa fé estava no fundo do poço', diz trabalhador indiano resgatado após 17 dias de túnel que desabou

O período de 17 dias afastados da civilização foi uma provação para os trabalhadores indianos que ficaram presos em um túnel, enquanto escavavam a nova obra de infraestrutura do país. Resgatados entre segunda e terça-feira, eles relatam que foram acompanhados durante todo o tempo pela dúvida de se iriam sobreviver e afirmam que a moral mudou ao longo das mais de duas semanas soterrados — mas que conseguiram superar o período em silêncio, pensamento nas famílias e orações.

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— Não foi fácil. Depois de três ou quatro dias dentro do túnel, a nossa confiança e a nossa fé estavam no fundo do poço — disse Deepak Kumar, um dos trabalhadores resgatados. — Estávamos com muito medo, sentíamos o tempo todo que a morte estava próxima. Não tínhamos certeza se sobreviveríamos ou não.

Os trabalhadores ficaram presos em 12 de novembro, depois que parte do túnel Silkyara — trecho do projeto Char Dham Expressway, do primeiro-ministro Narendra Modi, criado para interligar os locais de culto hindu mais importantes do país — desabou no estado de Uttarakhand, no Himalaia. Houve várias tentativas de alcançá-los, mas todas fracassaram devido à queda de destroços e à quebra de várias máquinas de perfuração.

Chamra Oraon, de 32 anos, descreveu o horror que sentiu quando ouviu um baque e destroços começaram a cair, bloqueando a única saída do túnel em construção.

"Corri para salvar minha vida, mas fiquei preso do lado errado", disse ele ao jornal Indian Express. "Quando entendemos que ficaríamos ali por muito tempo, ficamos preocupados, com fome. Mas rezamos em silêncio por ajuda".

Subodh Kumar Verma, outro sobrevivente, contou à AFP como as primeiras 24 horas no túnel foram as piores, quando temiam morrer de fome ou de falta de oxigênio. A esperança voltou apenas depois que as equipes de resgate conseguiram conectar um tubo fino por onde o oxigênio entrava e por onde lhes entregavam comida.

"Quando demos a primeira mordida, sentimos como se alguém lá em cima tivesse nos estendido a mão", disse Oraon ao Express.

Os homens sobreviveram graças a um pequeno tubo através do qual o oxigênio era bombeado e recebiam comida e água. Embora estivessem presos, eles tinham um espaço considerável no túnel, uma vez que a área interior tinha 8,5 metros de altura e cerca de dois quilômetros de comprimento. Após o contato pelo tubo, foi instalada uma linha telefônica que lhes permitiu falar com suas famílias.

— Foi um momento difícil para nós que estávamos lá dentro e ainda mais difícil para as famílias que estavam aqui fora — disse Sabah Ahmad, outro sobrevivente, natural de Bihar, um dos estados mais pobres da Índia. — Mas finalmente saímos e é a única coisa que importa.

Sua esposa, Musarrat Jahan, que falou com a AFP por telefone, em Bihar, disse que "não há palavras" para explicar o quão feliz ela está.

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— Não só meu marido está vivo de novo, mas nós também — disse ela. — Nunca esqueceremos.

Embora houvesse medo e saudade, após a instalação do tubo de oxigênio e comunicação, os homens precisaram encontrar maneiras de se manter ocupados enquanto esperavam para serem resgatados. Tentaram passar o tempo jogando em seus telefones, que podiam carregar desde que a eletricidade estivesse ligada, e conversando. "Conseguimos nos conhecer bem", disse Oraon.

Os 41 trabalhadores foram recebidos como heróis na terça-feira, após saírem do túnel através de um tubo de aço de 57 metros de comprimento, sobre macas com rodas, o fim de uma complexa operação de engenharia.

Ao verem novamente a luz do dia, foram recebidos com guirlandas de flores e representantes do governo, em meio aos aplausos da multidão.

— O mundo voltou a ser bonito para nós — disse Ahmad.

Os trabalhadores foram levados de helicóptero para realizar exames em um hospital e cada um recebeu um cheque das autoridades no valor de 1.200 dólares (5.863 reais na cotação atual), o que representa meio ano de salário.