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A verdadeira Cidadania Espiritual e Solidária

Paiva Netto 29/11/2023
A verdadeira Cidadania Espiritual e Solidária
Paiva Netto

Em uma de minhas palestras de improviso aos Cristãos do Novo Mandamento, Amigos de Jesus, discorri sobre importante lição encontrada na “Parábola do Bom Samaritano” (Evangelho de Jesus, segundo Lucas, 10:25 a 37). Vemos no comportamento daquele homem — representante de uma comunidade desprezada no passado — a verdadeira forma de viver do Cidadão do Espírito, portanto, solidário que há décadas pregamos.

O Irmão caído na estrada, todo ferido, quase morto simboliza a própria sociedade, visto que muitos passaram ao largo das multidões dos enfermos e combalidos, dos salteados e explorados ao longo dos séculos. Então, a samaritana Legião da Boa Vontade se apresentou e está tratando as chagas, curando as doenças, mitigando a sede, alimentando os famintos, levantando os desvalidos…

Isso é Política de Deus, a Política para o Espírito Eterno do ser humano — a vivência plena da Caridade Completa, ou seja, Material e Espiritual.

Quem não souber as Normas do Governo do Cristo, expressas em Seu Santo Evangelho-Apocalipse, não poderá governar coisa alguma. Aos Seus discípulos, Ele ordena:

— Ide e pregai, dizendo: É chegado o Reino dos Céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios, dai de graça o que de graça recebeis. Vesti os nus, alimentai os famintos, amparai as viúvas e os órfãos (Evangelho, segundo Mateus, 10:7 e 8; Epístola de Tiago, 1:27).

Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista, é a cura de que a humanidade precisa.

A narrativa sobre o bom samaritano — que, diferente de outros “indiferentes” ao sofrimento alheio, parou e socorreu o homem que havia sido roubado, espancado e deixado semimorto na estrada — evidencia que não basta unicamente instruir e educar. É imprescindível reeducar com espírito ecumênico, isto é, sem ódios, para que se alcance a espiritualização da criatura, bem como exprimir a todos os seres espirituais e humanos a importância da Compaixão, da Solidariedade, da Generosidade, do Entendimento para que haja povos realmente cordiais. Daí pregarmos a Globalização do Amor Fraterno. Costumo dizer que cada espaço conquistado pelo Amor é perdido pelo ódio.

O desafiante Voltaire (1694-1778) escreveu em Ériphyle, ato II, cena 1:

— Os mortais são iguais. Não é o nascimento, mas apenas a virtude que estabelece a diferença entre eles.

Cícero (106-43 a.C.), um dos mais respeitados oradores e pensadores políticos romanos, no capítulo 16, livro I, de sua obra De Officiis, vem ao encontro do meu raciocínio quando comenta o pensamento do dramaturgo e poeta épico romano Quinto Ênio (239-169 a.C.):

— Ênio deu um exemplo do que é comum a todos, e podemos facilmente usá-lo de forma mais ampla: “Quem gentilmente mostra ao errante passageiro a estrada, por onde há de ir,/ faz como quem acende com sua luz outra luz:/ não brilha menos a sua, quando a de outro se alumia”. Vemos, por essas palavras, que o que se pode doar sem o nosso prejuízo, se deve dar, ainda que a um desconhecido (...). Sirva, pois, para o nosso uso, e sempre de alguma sorte para o benefício comum.

Em síntese, o grande tribuno romano, mutatis mutandis, expressa a ideia que:

— Os homens devem fazer o que, sendo útil a eles, o seja também aos demais.

É de Cícero igualmente a máxima, que consta de seu Pro Plancio, capítulo 33, parágrafo 80:

— A gratidão não é apenas a maior das virtudes, mas a mãe de todas as outras.