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Hamas liberta 13 reféns de Israel após entrar em vigor cessar-fogo temporário; 39 presos palestinos foram soltos

Além dos 13 israelenses, nos quais estariam menores, mulheres e cidadãos com dupla nacionalidade, 12 cidadãos tailandeses sequestrados pelo Hamas foram libertados de forma adicional

Agência O Globo - 24/11/2023
Hamas liberta 13 reféns de Israel após entrar em vigor cessar-fogo temporário; 39 presos palestinos foram soltos

Após entrar em vigor um cessar-fogo às 7h (2h em Brasília) desta sexta-feira, um grupo inicial de 13 reféns israelenses foi libertado em troca de 39 presos palestinos como parte do acordo mediado pelos Estados Unidos, Catar e Egito no começo desta semana. Segundo a imprensa internacional, o grupo foi entregue primeiramente à Cruz Vermelha, mas já teria cruzado a fronteira do Egito, de onde será transferido mais tarde para Israel, após 49 dias de cativeiro.

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"Há meia hora, os prisioneiros foram entregues à Cruz Vermelha, que os levará aos egípcios e aos israelenses que devem recebê-los", disse à AFP uma fonte próxima ao Hamas , por volta das 16h50 (11h50 em Brasília).

Além dos 13 israelenses, nos quais estariam menores, mulheres e cidadãos com dupla nacionalidade, 10 cidadãos tailandeses e um filipino sequestrados pelo Hamas foram libertados de forma adicional. A confirmação sobre as nacionalidades foi feita pelo governo do Catar.

O primeiro grupo israelense é apenas parte dos 50 reféns que devem ser devolvidos a Israel nos próximos dias a partir da passagem egípcia de Rafah, com previsão de que cheguem ao território israelense às 18h (13h em Brasília). Em troca, o Estado judeu vai liberar 150 presos palestinos, que devem, em sua maioria, ir à Cisjordânia, e não Gaza.

Em nota, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), informou que iniciou nesta sexta-feira uma "operação de vários dias para facilitar a libertação e a transferência de reféns mantidos em Gaza e de detidos palestinos para a Cisjordânia", acrescentando que "a operação incluirá a entrega de assistência humanitária adicional e muito necessária para Gaza".

"Em seu papel de intermediário neutro, o CICV, ao longo de vários dias, transferirá os reféns mantidos em Gaza para as autoridades israelenses e, em última instância, para suas famílias, e transferirá os detidos palestinos para as autoridades da Cisjordânia, para que se reúnam com suas famílias", diz a nota. "O CICV também levará suprimentos médicos adicionais para serem entregues aos hospitais de Gaza, reforçando as entregas de ajuda que o CICV já realizou."

Guerra longe do fim

Antes da troca, as Forças Armadas de Israel enfatizaram nesta sexta-feira que a paralisação nos combates é um cessar-fogo, e não o fim da guerra contra o grupo fundamentalista islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza e, em 7 de outubro, lançou o pior ataque em solo israelense desde a formação do Estado judeu, em 1948. Além das cerca de 240 pessoas feitas reféns, o grupo terrorista deixou 1,2 mil mortos, em sua maioria civis, em Israel.

Na quinta-feira, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou que, assim que a "curta" trégua temporária terminar após permitir a troca de 50 reféns mantidos pelo Hamas por 150 presos palestinos, a campanha militar será retomada "com intensidade" por ao menos mais dois meses.

"O que veremos nos próximos dias é a primeira libertação de reféns. Essa pausa será curta", disse Gallant aos soldados da unidade de comando Shayetet 13 da Marinha. "O que pedimos de vocês nessa pausa é que se organizem, fiquem de prontidão, se rearmem e se preparem para continuar."

O Hamas também fez uma ressalva similar, afirmando que “nossas mãos continuam no gatilho".

Os soldados israelenses estão instruídos a, durante o cessar-fogo, responder de forma agressiva a qualquer ameaça às tropas.

Ajuda humanitária

O cessar-fogo que entrou em vigor na manhã desta sexta-feira também permitiu a entrega de mais suprimentos de ajuda a Gaza, onde cerca de dois terços de seus 2,3 milhões de habitantes foram deslocados pela guerra. Até o meio-dia (7h em Brasília) ao menos 90 caminhões com suprimentos já haviam atravessado para o enclave vindos do Egito, disse ao New York Times, por telefone, o porta-voz do posto de fronteira, Wael Abu Omar.

Ainda segundo Omar, um total de 230 caminhões transportando ajuda e suprimentos está programado para entrar em Gaza até o final do dia, incluindo quatro caminhões com gás de cozinha e três com combustível, uma quantidade pequena, mas significativa para um território que está praticamente sem abastecimento. Os demais contêm ajuda humanitária e médica, afirmou.

O Hamas disse na quinta-feira que 200 caminhões transportando suprimentos de ajuda humanitária e quatro caminhões de combustível entrariam no território todos os dias durante a pausa de quatro dias. As autoridades israelenses não comentaram imediatamente.

As agências de ajuda afirmam que uma pausa de quatro dias é muito pouco tempo para lidar com a terrível situação humanitária no enclave, depois que Israel impôs um cerco quase total ao território palestino, o que restringiu severamente o fornecimento de alimentos, combustível e medicamentos, aumentando a crise humanitária para seus 2,3 milhões de habitantes.

Volta pra casa

O ruído da guerra foi substituído pelas buzinas dos engarrafamentos e pelas sirenes das ambulâncias na manhã desta sexta-feira. Também não foram ouvidos sons de tiros em Khan Younis, no sul de Gaza. Milhares de pessoas arrumavam seus pertences em bolsas plásticas e, com as crianças e os animais de estimação nos braços, começaram a voltar para casa — no sul, mas também no norte.

No entanto, aviões de guerra israelenses sobrevoam ainda a região, trazendo-os de volta à realidade. Do céu, panfletos caíram com um aviso: "A guerra ainda não acabou. Regressar ao norte é proibido e muito perigoso!!!" Na terra, algumas pessoas foram alvos de disparos por desobedecer. Duas morreram e 11 ficaram feridas.

Um homem idoso passava com uma sacola sobre o ombro, dizendo que se sente suficientemente seguro para regressar à sua casa, perto da fronteira com Israel, no norte. Uma multidão de homens, mulheres e crianças pareciam fazer o mesmo. Viajavam a pé, em carroças ou em tuk-tuks com os poucos pertences que levaram consigo quando a guerra começou, rumo a alguns distritos no sul, mas milhares foram vistos seguindo para o norte, afirmou a Associated Press. Uma mulher carregava o seu gato nos braços pelas ruas. Hayat al-Muammar, de 50 anos, estava refugiado em uma escola e se apressou para aproveitar a trégua.

"Vou para casa", disse al-Muammar, acrescentando: "Fugimos da morte, da destruição e de tudo. Ainda não compreendo o que aconteceu com a gente. Por que fizeram tudo isso?"

Durante quase sete semanas, os ataques israelenses na Faixa de Gaza foram implacáveis. Grande parte do enclave palestino foi arrasado por milhares de ataques aéreos e o território enfrenta uma crise humanitária oriunda da escassez de alimentos, água e combustível. A superlotação de hospitais e abrigos acentua o quadro. Mais de 14 mil pessoas foram mortas devido aos bombardeios israelenses, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Cerca de dois terços são mulheres e crianças.

As Forças Armadas de Israel alertaram que os palestinos não devem voltar para o norte de Gaza — que os israelenses alegam ter tomado o controle —, mesmo com a trégua de quatro dias. Um dia a mais será cedido por cada 10 reféns extras libertados. O acordo não significa um tratado definitivo de paz e o Estado judeu garantiu que ainda pretende extinguir o Hamas. Segundo a AP, as forças israelenses avisaram que iriam barrar quaisquer tentativas de retorno. Algumas pessoas foram alvo de disparos de soldados israelenses enquanto tentavam cruzar o enclave. Pelo menos duas pessoas morreram e outras 11 ficaram feridas após terem sido baleadas, informou a agência. Eles foram socorridos no hospital Deir al-Balah, no centro de Gaza, informou o Haaretz.