Esportes

Temporal cancela corrida de rua em vinícola de Bento Gonçalves e organizador promete voltar à região em 2024

Bota para Correr, evento carro chefe da Olympikus e que alia esporte e turismo, teria largada na Miolo e pode voltar ao Vale dos Vinhedos; corredores lamentaram o ocorrido

Agência O Globo - 19/11/2023
Temporal cancela corrida de rua em vinícola de Bento Gonçalves e organizador promete voltar à região em 2024

Os temporais deste final de semana na região de Bento Gonçalves (RS), que causaram desabamentos, queda de árvores, bloqueio de rodovias, alagamentos e a morte de pelo menos duas pessoas, causaram o cancelamento de eventos na cidade, incluindo o Bota para Correr (BPC), da Olympikus que convida os participantes a conhecer o Brasil por meio da corrida. Os alimentos e galões de água que seriam servidos aos corredores foram doados para a comunidade local através da Assistência Social de Bento Gonçalves. Em São Paulo, também em razão de fortes chuvas, a Prefeitura cancelou cerca de 55 eventos a céu aberto, incluindo o Live Run. No Rio, o outro extremo: o forte calor foi o motivo para adiamento do show de Taylor Swift.

Segundo Márcio Callage, diretor de marketing da Olympikus, a decisão pelo cancelamento foi tomada junto com a Defesa Civil, uma vez que, além das condições locais as equipes de saúde pública estariam "100% destinadas aos moradores do entorno". A intenção da marca, no entanto, é voltar ao Vale dos Vinhedos em 2024 e, de alguma maneira, ressarcir os corredores.

— Mesmo que o regulamento nos protege em caso de desastre natural, vamos olhar para tudo que nos parece ser de bom senso em relação aos corredores. Queremos que essas pessoas vivam esta experiência de corrida conosco — disse Callage. — O importante é que ninguém esteve em situação de risco.

O cancelamento das provas que variavam de 5k a 21k, entre asfalto e trilha e que teria largada dentro da Vinícola Miolo, foi lamentado pelos corredores. Cerca de 1.200 pessoas estavam inscritas.

Mas, para eles não teve tempo ruim. Assim que a chuva deu uma brecha, integrantes do Clube da Endorfina, de Porto Alegre, por exemplo, treinaram nas ruas da cidade. Cerca de 35 atletas e seus familiares estavam em Bento Gonçalves para as corridas e também para turismo.

O Bota Pra Correr tem exatamente esta proposta: fazer com que a comunidade de corredores do Brasil conheça o seu próprio país por meio do esporte. Assim, o evento já passou por locais como Jalapão, Pantanal, Alter do Chão, Chapada dos Veadeiros e São Miguel dos Milagres. Em 2023, esteve na Costa do Conde, na Paraíba, e Vale dos Vinhedos. A programação de 2024 ainda não foi divulgada.

Além da corrida, o evento monta um ponto de encontro para os atletas com várias programações. Vanderlei Cordeiro de Lima, patrocinado pela marca, foi a estrela no Rio Grande do Sul.

Patrícia Arrage Sica, de 38 anos, psicóloga, viajou para o Vale dos Vinhedos com o marido Nicolas Sica Palermo, de 43 anos, arquiteto, e ambos correriam 21km no asfalto. Deixaram as crianças, Nina, de 7 anos, e Franco, de 5 anos, com a avó para aproveitar as vinícolas da região após a prova. Ela diz que "o sonho de qualquer corredor é aliar a corrida com a diversão".

— Corridas a gente encontra toda a semana, mas uma prova como essa, em um lugar diferente, não tem. Viemos para nos divertir na prova e não performar. A ideia era ir nas vinícolas depois. Gostamos da proposta de valorizar os locais turísticos do Brasil que muitas vezes nem sabemos que existem — declara Patrícia, que correu pelas ruas da cidade para não ficar parada. — Em Porto Alegre chove muito e faz frio. Se a gente deixar de correr por causa da chuva, não corre.

O promotor Carlos Renato Silvy Teive, de 42 anos, estava na Vinícola Miolo com a esposa Julia Queiroz Campos, de 40 anos, e os filhos Davi, de 11 anos, e Marina, 10 anos. Explicou que já faria este passeio após a prova de 21km e que ele sempre leva a família para suas viagens de corridas.

— A gente sempre viaja com a equipe completa — brinca, referindo-se à presença dos filhos. — E conciliamos com programas turísticos porque se não, não se justifica para mim.

Turismo esportivo

Adriano Miolo, diretor superintendente da Miolo Wine Group, conta que vem crescendo o turismo esportivo em Bento Gonçalves e que as vinícolas da região estão cada vez mais envolvidas em provas como o BPC.

Caminhadas, corridas de rua, de aventura, de bicicleta, de automóveis, entre outras acontecem todos os anos. Não à toa, a Miolo tem meta de dobrar o faturamento com o enoturismo e aumentar os cerca de 200 mil visitantes/ano (são 400 mil visitantes no Vale dos Vinhedos, nas mais de 30 vinícolas).

— O enoturismo tem se aberto para outras atividades como estas ligadas ao esporte. O esportista traz a família e faz visitações. Estamos apostando cada vez mais nesse conceito — declarou Adriano, ao lembrar da famosa Wine Run, que já acontece há tempos na região, e a Grand Fondo NY, evento ciclístico que teve prova em outubro — Todo final de semana tem provas de rua na região e a tendência é aumentar. São pequenas estradas na serra, uma paisagem muito bonita que atrai eventos ao ar livre.

Luciana Alves, de 47 anos, enfermeira e que faz parte da Prime Run, viajou de São Paulo a Bento Gonçalves com um grupo de cerca de 15 pessoas, de assessorias diferentes. Uma parte se hospedou em pousada e outra, em casa alugada. Falou que a frustração do grupo era grande.

— A gente viaja para correr e conhecer lugares é um plus. Essa é a primeira vez que não corri — lamentou a atleta amadora, que estava empolgada com o percurso de 21km entre asfalto e as parreiras. — Com este visual, seria um gole aqui e um quilômetro ali. Depois comemoraríamos com vinho.

No sábado, eles deixaram de lado o esporte para curtir os arredores, uma vez que as corridas foram canceladas. Teve gente que foi a Farroupilha e ao Santuário de Caravaggio, e teve gente que conheceu o Caminhos de Pedra (maior acervo arquitetônico da imigração italiana) e foi ao Spa do Vinho.

— A gente se diverte sempre, claro. Mas fica a frustração. Talvez eu não tivesse vindo para esta região, se não fosse pela prova. Corredor é resiliente e aproveitamos o final de semana para conhecer a região e improvisamos treinos pelas ruas da cidade — fala Luciana, que disse respeitar a decisão da organização. — O BPC é uma experiência. Os lugares escolhidos são sempre bacanas e a cidade abraça os corredores. Fui nas edições da Chapada dos Veadeiros e de São Miguel dos Milagres. Só acho que poderia ter tido um encerramento diferente, com alguma corrida simbólica.

*A repórter viajou a convite da Olympikus