Internacional
Campanha de Milei recua em alegação de fraude no 1º turno na Argentina após pressão de aliados
Um dia depois de denunciar uma suposta 'fraude colossal' para roubar votos do ultradireitista, advogado do partido afirma que ação era apenas um pedido para redobrar os cuidados no domingo
Um dia depois de alegar sem provas que a principal força de segurança da Argentina havia fraudado o primeiro turno das eleições, a campanha do candidato ultradireitista Javier Milei recuou nesta sexta-feira em meio à repercussão negativa da manobra entre aliados. Santiago Viola — advogado do partido A Liberdade Avança e representante da ação ao lado da irmã de Milei, Karina — mudou o discurso ao comparecer ao tribunal eleitoral de Buenos Aires nesta sexta. A suposta "fraude colossal" denunciada anteriormente era, na verdade, um alerta para que as autoridades tomassem mais precauções durante a votação no domingo, disse ele.
— Não foi uma reclamação, mas uma apresentação feita com o objetivo de tomar extremo cuidado na transferência das urnas [no domingo], com a única intenção de contribuir para a transparência e a legalidade das eleições — afirmou o advogado de Milei perante a corte eleitoral.
Para o Judiciário, no entanto, se alguém chamar a atenção para fatos que se enquadram em delitos criminais — como o roubo de votos — isso é considerado uma denúncia. Por esse motivo, o promotor do caso convocou os responsáveis pela ação para ratificar a denúncia e pedir acesso às provas que estariam em seu poder. O advogado, porém, não apresentou quaisquer evidências corroborando as alegações.
— A apresentação foi feita em virtude de comentários em redes sociais e algumas notas jornalísticas e testemunhos coletados pessoalmente que se referiam aos fatos levados ao meu conhecimento, dos quais estou anexando alguns exemplos neste ato — justificou Viola, sem especificar os supostos fatos e evidências. — Sem prejuízo disso, gostaria de esclarecer que não denunciamos as ações de nenhuma das forças de segurança, que confiamos que elas tomarão as maiores precauções no período que antecede o dia 19 de novembro e esperamos que as eleições ocorram normalmente.
A ação foi apresentada formalmente à corte eleitoral na quinta-feira por Karina Milei, irmã do ultradireitista, e denuncia uma "fraude colossal" na entrega das urnas à Gendarmaria Nacional, principal força de segurança do país. Seus membros, "juntamente com os chefes regionais", teriam supostamente mudado "o conteúdo das urnas e a documentação de outras que modificaram em favor do partido governista e de Sergio Massa, o que alterou consideravelmente o resultado eleitoral", diz o texto.
Karina também foi convocada a comparecer ao tribunal nesta sexta, mas não atendeu ao pedido. Segundo Viola, ela estava ao lado do irmão no encerramento da sua campanha na província de Córdoba e não conseguiria chegar a tempo a Buenos Aires, onde fica a corte. Ele acrescenta:
— Estou aqui com uma carta assinada por Karina Milei na qual ela solicita que sua convocação seja cancelada porque ela não tem nenhuma informação que possa acrescentar, além do que eu posso testemunhar nesta ocasião — disse o advogado do partido.
Ao ser questionado nesta sexta se acreditava que o resultado das primárias (Paso) ou do primeiro turno haviam sido adulterados, Viola não contestou os pleitos.
A ação também provocou profundo mal estar entre os principais sócios políticos de Milei, o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) e a ex-candidata presidencial Patricia Bullrich.
Milei se reuniu com Bullrich na última quarta-feira e não mencionou a intenção de sua irmã de recorrer à Justiça. Quando a notícia foi divulgada por meios de comunicação locais, confirmaram fontes próximas a Bullrich, a ex-candidata e o ex-presidente pediram explicações a Milei, e expressaram seu desacordo com a iniciativa. Esse conflito interno explica, segundo as mesmas fontes, o recuo dos assessores de Milei.
Por enquanto, a investigação prelimitar seguirá aberta no tribunal, mas fontes ouvidas pelo jornal La Nación disseram ser improvável que o caso avance.
(Colaborou Janaina Figueiredo)
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