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Israel autoriza a entrada diária de dois caminhões com combustível em Gaza, diz jornal; antes da guerra, entravam 50

Enclave palestino sofre com escassez do produto após cerco imposto pelo Estado judeu, o que afeta produção de energia, água potável e o funcionamento de hospitais e padarias

Agência O Globo - 17/11/2023
Israel autoriza a entrada diária de dois caminhões com combustível em Gaza, diz jornal; antes da guerra, entravam 50
israel - Foto: AGENCIA BRASIL

O gabinete de guerra de Israel autorizou por unanimidade a entrada diária de dois caminhões com combustível na Faixa de Gaza. A recomendação teria sido feita em conjunto pela Inteligência de Israel (Shin Bet) e as Forças Armadas, para dar seguimento a um pedido dos Estados Unidos, informou uma fonte política ao jornal israelense Haaretz, nesta sexta-feira. A condição é de que o produto não chegue ao Hamas. Antes da guerra, que teve início no dia 7 de outubro, entravam 50 caminhões-tanque diariamente.

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O combustível será utilizado em infraestruturas de água e esgotos no sul do enclave palestino, “a fim de evitar a propagação de doenças que prejudiquem a população civil”, afirmou uma autoridade israelense à agência Axios. A ONU alertou na terça-feira para a iminência de um surto de cólera na região. A doença é contraída através de água e alimentos contaminados ou por contaminação fecal-oral direta.

Uma semana após o início da guerra, a ONU já alertava que quase toda a população do enclave palestino corria o risco de ficar sem água, uma vez que as três usinas de dessalinização de Gaza, que produziam 21 milhões de litros de água potável por dia, paralisaram suas operações devido à falta de combustível. O produto também é necessário para a locomoção de caminhões pipa.

“O gabinete de guerra aprovou por unanimidade (...) a entrada de dois caminhões-tanque com combustível por dia, para as necessidades da ONU destinadas a apoiar as infraestruturas de água e esgotos (...), com a condição de que não cheguem ao Hamas", disseram as autoridades em um comunicado enviado à AFP, acrescentando: "Esta ação permite a Israel o espaço internacional de manobra necessário para eliminar o Hamas".

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Serão cerca de 60.000 litros diariamente, informou um oficial israelense à agência Axios. Antes do início da guerra, 50 caminhões-tanque cruzavam Gaza diariamente, informou esta semana um funcionário da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA). Um outro oficial israelense reconheceu à agência Axios o valor limitado, já que a quantidade entregue antes da guerra se aproximava de 7 milhões de litros por semana.

Israel impôs um “cerco total” ao enclave palestino como resposta ao ataque terrorista do grupo Hamas, que deixou 1.200 pessoas mortas e fez 239 reféns. Em meados de outubro, o país acordou com o Egito e os Estados Unidos a entrada de ajuda humanitária no território, embora barrasse o combustível, temeroso de que fosse desviado pelos terroristas. Sem o produto, e devido a danos causados por bombardeios, 22 de 36 hospitais em Gaza suspenderam suas atividades, enquanto muitos operam com capacidade limitada. A entrega de ajuda humanitária e a circulação de ambulâncias ficaram comprometidas, ao passo que as usinas de dessalinização não funcionam mais. A produção de energia também foi impactada.

Na última terça-feira, as Forças Armadas de Israel anunciaram, segundo o jornal The Times of Israel, que 24 mil litros entraram no enclave, mas apenas para abastecer os tanques dos caminhões de ajuda humanitária. O Estado judeu também diz que tentou enviar, no último domingo, 300 litros de combustível para o Hospital al-Shifa, o mais importante da região, mas alegou que a oferta foi recusada pelo Hamas. A acusação foi rebatida pelo diretor do hospital, Mohammad Abu Salmiya, explicando que os 300 litros supostamente oferecidos teriam capacidade de alimentar os geradores por "não mais do que um quarto de hora".

Pressão internacional

Israel está sob crescente pressão internacional. A Agência da ONU para a Palestina (UNRWA) alertou no início desta semana que seu trabalho de ajuda humanitária no território estava paralisado diante do esgotamento das reservas de combustível. Thomas White, diretor da UNRWA, afirmou que seus principais fornecedores de água suspenderam as atividades e que o enclave vivia o dilema entre usar o combustível ou no hospital, ou nas usinas de dessalinização. “As duas salvam dias”, escreveu em uma publicação na rede social X (antigo Twitter).

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Nesta quinta-feira, o Programa Mundial de Alimentos (PAM) da ONU denunciou que ao menos 2,2 milhões de pessoas no enclave palestino — isto é, toda sua população — correm “risco imediato” de morrer de fome. O déficit alimentar é causado pela falta de combustível e devido ao baixo número de ajuda humanitária que tem entrado na região, cerca de 40 por dia, desde o dia 21 de outubro. Todas as padarias do enclave, 131 ao total, fecharam por falta de combustível. O pão é um dos principais alimentos da dieta dos palestinos. (Com AFP)