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Amadora no hipismo, Shanna Garcia sonha com parceria para ser amazona de elite

A filha do bicheiro Maninho, assassinado em 2004, diz que mortes na família e clima de insegurança contribuíram para pausa na carreira; atualmente ela não tem cavalo para provas profissionais

Agência O Globo - 17/11/2023
Amadora no hipismo, Shanna Garcia sonha com parceria para ser amazona de elite
Shanna Garcia - Foto: Arquivo instagram

Shanna Harrouche Garcia, de 38 anos, estrela do documentário "Vale O Escrito", do Globoplay, quer uma oportunidade. Sem montaria de nível profissional, a amazona não compete nos principais eventos do hipismo no Brasil. Ela é amadora e atualmente participa de torneios com obstáculos de 1,10m a 1,30m (provas olímpicas têm obstáculos a 1,60m) e com cavalos "de comércio, para apresentar e para vender". Explicou que, se tivesse a chance de realizar parcerias com donos de bons cavalos poderia seguir no esporte e, quem sabe, sonhar com a disputa de torneios como os Jogos Pan-Americanos. Segundo ela, idade não é um problema.

— Nunca fiz parcerias com proprietários, mas hoje em dia é algo que eu penso... assumir um compromisso com alguém para ter a oportunidade de saltar com mais cavalos e em provas boas. Mas é questão de surgir uma oportunidade. Talvez as pessoas não saibam, mas eu gostaria desta ajuda, tenho vontade — diz a amazona, que acredita que a história da sua família ainda pode ser um impedimento: — As pessoas têm medo, ficam melindradas.

Shanna, com destaque nas categorias de base do hipismo, teve carreira interrompida grande parte por causa de acontecimentos trágicos em sua família. Filha do ex-bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, morto em 2004, ela também perdeu o irmão Myro, que sobreviveu ao mesmo atentado do pai, mas foi assassinado aos 27 anos, em 2017. Também viu o marido José Luiz de Barros Lopes (Zé Personal), que trabalhava com a família dela, ser morto em 2011. Em 2019, quase teve o mesmo destino em uma emboscada num estacionamento de um shopping, na Zona Oeste do Rio. À época chegou-se a suspeitar que a irmã gêmea dela, Tamara Garcia, seria a mandante. Elas brigam até hoje pelo patrimônio do pai que, segundo se falou em 2004, girava em torno de R$ 25 milhões. O inventário continua aberto.

— Com a morte do meu pai, também teve uma mudança na questão dos cavalos. Ele investia muito e trouxe alguns de fora. Depois que ele morreu, perdi essa qualidade para disputar competições com obstáculos mais altos. Se o inventário saísse, seria até bom para a parte financeira, acertar a vida... passei aperto e seria bom tocar a vida — diz Shanna, que continua: — E logo depois também começaram uns problemas do jogo (do bicho) e eu ficava com medo de frequentar alguns lugares. Isso foi um dos motivos pelos quais me afastei do esporte.

Dedicação para os filhos

Shanna também comenta que teve uma época de dedicação exclusiva aos filhos Nicolas, de 14 anos, e Rafaela, de 9. Lembra que quando o Nicolas nasceu, estava na categoria Jovens, já era com altura de 1,45m, passando para o sênior. Mas não conseguia se dedicar.

— Sem treino e sem bons cavalos, não saltava 1,40m — recorda.

Ela comenta que hoje, além de ser atleta amadora, ajuda a treinar e vender cavalos em um haras em São Paulo, que tem cerca de 30 animais, de propriedade dos cavaleiros. Diz gostar de passar tempo com os cavalos e que esta é a sua principal distração, seu hobby.

Após oito anos afastada das competições, ela retornou ao esporte em 2021. Montando Winbishi Bond, ganhou o título da série Amazonas (1,20m). No mesmo ano, no Concurso Internacional da Juventude e Amadores, na Sociedade Hípica Paulista, venceu na categoria Amador (1.20m). Ainda em 2021, ganhou o Brasileiro Amazonas e o Internacional Amador. Em março de 2022, com a mesma montaria, ficou em terceiro lugar no 6º Concurso de Salto Nacional SHP Open, na Sociedade Hípica Paulista, em São Paulo. O cavalo, porém, se machucou e não deve voltar às competições. Neste final de semana, disputa o Brasileiro de Amazonas, em Curitiba, em categoria aberta (também a 1,20 e com um cavalo emprestado, o CS da Vinci).

Títulos na base e disputa de Mundial

Quando pequena, Shanna passou por todas as alturas de obstáculos e teve participações em importantes competições. Foi terceira colocada no Brasileiro infantil, vice-campeã da Copa dos Crianças, ambas em 1998, representou o país no Mundial Mirim, em Tóquio, em 1999, foi vice-campeã brasileira por equipes e vice-campeã estadual mirim, ambos em 1999, e ganhou um bronze no Estadual de Amazonas, em 2000:

— Tudo que passei é um aprendizado, não sei se tivesse continuado no esporte teria sido bem sucedida. Não dá para saber. . Faz parte, não me chateia. A vida me levou para outro caminho. E o contato com a minha mãe e meus filhos me ajudaram a seguir em frente. Eu ainda tenho medo, estou afastada do Rio porque perdi um pouco a liberdade, mas sigo em frente. Tenho medo de estacionar... fico muito ligada e acho que a qualquer hora pode acontecer alguma coisa. Estou sempre procurando, vendo ou com medo de alguma coisa. O que sei é que mesmo com 38 anos posso seguir para uma carreira profissional.