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Conheça Shahed al-Banna, jovem palestina com cidadania brasileira que denunciou o desespero da guerra nas redes

Nascida em Gaza, estudante de 18 anos chegou a morar em São Paulo, cidade de sua mãe; menina narrou situação do grupo do Brasil na região, e disse que 'cada dia ficava pior'

Agência O Globo - 12/11/2023
Conheça Shahed al-Banna, jovem palestina com cidadania brasileira que denunciou o desespero da guerra nas redes

A jovem Shahed al-Banna, de 18 anos, estava em Gaza há um ano e meio quando o conflito entre Israel e o Hamas teve início, em 7 de outubro. Palestina com cidadania brasileira, no começo, ela chegou a ir para a casa de uma tia, e depois passou vários dias em uma escola que servia de abrigo. Em todos os momentos, registrou o desespero que sentiu durante a procura por um espaço seguro. Junto do grupo do Brasil, ela conseguiu sair da região neste domingo, e já nesta segunda deverá retornar ao país, onde morou por seis anos.

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Entenda: Quais são os próximos passos até a chegada em Brasília

Shahed, que nasceu na Faixa de Gaza, viveu anos em São Paulo. Precisou voltar para o enclave palestino apenas no ano passado, uma vez que a mãe, brasileira, estava com câncer e queria se despedir da família. Naquela altura, ela não imaginava que alguns meses mais tarde estaria narrando um cenário de destruição: água acabando, falta de luz, sem internet e com pratos cada vez mais vazios em uma casa alugada pelo governo brasileiro em Rafah, ao sul de Gaza.

Em vídeo gravado em outubro, a estudante contou que a situação estava "difícil" e que, apesar da ajuda enviada pela Embaixada do Brasil, estava cada dia mais trabalhoso encontrar mantimentos essenciais. E, com a falta de energia, a comunicação também era dificultada. Ao lado do pai, Ahmed al-Banna, ela mostrou cerca de três celulares desligados com os carregadores, além do que pareciam ser duas baterias portáteis. Disse, ainda, que tentaria uma tomada disponível num mercado próximo.

'Cada dia está ficando pior'

Em outro vídeo, ela mostraou uma construção de apenas um cômodo, onde vários celulares e baterias eram carregados ao mesmo tempo, com diversas extensões para dar conta da demanda. A conexão com a internet dependia de buscas por lugares com sinal disponível. Naquela ocasião, um bombardeio havia destruído o sistema de telecomunicação da única companhia que ainda operava no enclave palestino, a Palestine Telecommunications Company (Paltel), deixando a região sem internet.

— Daqui a alguns dias acho que a gente já não vai mais conseguir encontrar água. Não temos luz. Olha o tanto de carregador. Não temos internet também, temos que ficar procurando um lugar com internet para conseguir manter contato com as pessoas daí [do Brasil] — explicou a jovem. — Está difícil, gente. As fronteiras estão fechadas, muita gente está morrendo todo dia. Cada dia está ficando pior do que o dia anterior.

Al-Banna comentou que a comida não estava entrando pelas fronteiras. Naquele momento, 140 comboios com ajuda humanitária chegaram no enclave, variando entre 10 e 20 por dia. Ainda assim, o número é irrisório, já que o mínimo necessário para atender às necessidades são 100, segundo a UNRWA, agência da ONU para os refugiados palestinos. Antes da guerra, entravam cerca de 300 a 500 comboios no local, conforme a organização Médico Sem Fronteiras (MSF).

Como será a repatriação?

O grupo do Brasil na Faixa de Gaza, que estava no posto fronteiriço de Rafah desde 8 da manhã (3h em Brasília), cruzou a fronteira e chegou ao Egito neste domingo e segue para a capital, Cairo, onde deve chegar às 20h (15h em Brasília) após uma viagem de seis a sete horas na estrada.

O embarque para o Brasil deve ocorrer às 11h50 (6h50 em Brasília) de segunda-feira, com previsão de três paradas técnicas em Roma (Itália), Las Palmas (Espanha) e na Base Aérea do Recife (BARF) antes de chegar ao país às 23h30. Ao todo, 34 pessoas, sendo 24 brasileiros, sete palestinos com residência no país e três parentes, aguardavam a repatriação. Duas pessoas, porém, decidiram permanecer em Gaza.