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Entenda como o fenômeno francês Wembanyama já muda o jogo na NBA

Prestes a completar 10 jogos em sua temporada de estreia na liga, jogador de 19 anos força times a realizarem treinos específicos e alterarem dinâmicas de ataque e marcação para ‘conter’ seus 2,24m

Agência O Globo - 12/11/2023

Quem assistiu à última década da NBA viu o basquete americano, antes protagonizado pelos pivôs dominantes no garrafão, ser transformado pelo jogo de perímetro, com a ascensão das bolas de três pontos como arma importante de times vencedores. Em uma liga de constante revolução de estilos, essa “era” poderia mudar a qualquer momento. Isso parece estar começando em San Antonio, no Texas, casa do fenômeno Victor Wembanyama, calouro que tem exigido de seus adversários uma preparação específica nunca vista antes.

Prestes a completar seu décimo jogo com a camisa do San Antonio Spurs — o time enfrenta o Miami Heat hoje, às 21h, com transmissão do Prime Video — , o calouro de 2,24m de altura tem assombrado até veteranos da liga em quadra. Escolha número 1 do Draft, Wemby não é o mais alto jogador da história da NBA (Manute Bol e Gheorghe Muresan tinham 2,31m, por exemplo), mas é um dos poucos na história da liga a unir técnica, inteligência, talento e fundamentos refinados com tal porte físico.

A preocupação dos adversários se fez presente antes do início da temporada, quando a possível dinâmica do francês em quadra já tinha sido vista na liga de verão e nos amistosos de pré-temporada. Dias antes de enfrentar o San Antonio Spurs, o Dallas Mavericks se preparou para encarar o francês com um treino especial: duas hastes nas mãos de God Shammgod, auxiliar de desenvolvimento do time, simulavam o que seria a marcação de Wembanyama em quadra. Além dos 2,24m de altura, Wemby tem envergadura de 2,43m e pode pular até 81 cm, segundo estimativas da imprensa americana, o que o coloca na altura da cesta.

Aparentemente, deu certo, já que o francês teve problemas com excesso de faltas cometidas e estreou com atuação tímida, de 15 pontos e 5 rebotes. Mas a adaptação foi rápida, e logo em sua quinta partida ele já faria 38 pontos e pegaria 10 rebotes na vitória dos Spurs por 132 a 121 sobre o Phoenix Suns do craque Kevin Durant, no último dia 2. Alguns dias depois da partida, ganhou elogios de KD, que o chamou de “coisa séria” em transmissão especial da NBA.

— Quando ele levantou os braços para arremessar, pensei “nunca vou chegar perto”. Então só vou jogar duro e contestar o arremesso. Ou você faz a falta nele ou ele completa o arremesso. Se errar, aí é com ele — afirmou Durant, que tem 2,08m de altura, 16cm a menos que Wemby.

— Ele é diferente. É alto, atlético, móvel, pode arremessar. Tem talento. É duro de enfrentar — completou Durant.

Não é só no ataque que mora o perigo de enfrentar o francês. A altura que alcança para defender, contestar arremessos e marcar embaixo da cesta também surpreende a liga. São vários os vídeos nas redes mostrando tocos incríveis do jogador, até mesmo em arremessadores de elite, como Klay Thompson, do Golden State Warriors (na pré-temporada). Nos nove jogos que fez, em dois registrou quatro tocos, marca difícil de se alcançar. No dia 5, contra o Toronto Raptors, acabou com cinco.

Naquela partida, que terminou em vitória dos Raptors, um lance chamou a atenção. Um dos tocos evitou uma bandeja de OG Anunoby no último instante possível, com a bola ficando “presa” na mão de Victor no garrafão.

— Ele é muito alto. Muito, muito alto — comentou Anunoby, entre risadas, após a partida.

O impacto do francês ainda não se traduziu em uma grande campanha para o time jovem e limitado dos Spurs, que tem três vitórias e seis derrotas até aqui. Mas que sabe a joia que tem em mãos: um jogador tão talentoso e raro que pode atacar e defender em qualquer posição da quadra, praticamente. A escolha do técnico Gregg Popovich tem sido escalá-lo como ala-pivô. Mas Wemby já disse até que pode atuar como armador, se necessário.

— Não há limitações. Em várias jogadas, depende de onde eu estiver. Posso ser o armador, jogar aberto, não importa.