Esportes
Bragantino colhe frutos de trabalho mental e filosofia de longo prazo e briga por título antes do previsto
Modelo empresarial do clube paulista, com investimento em estrutura e atletas jovens, troca pressão de torcida por cobrança por excelência

“Se pressão funcionasse, nenhum time grande tinha caído”. A frase de um dos responsáveis pelo sucesso do projeto do Bragantino ajuda a explicar porque o clube paulista, apenas quatro anos depois de ser vendido à Red Bull, se consolidou como um dos candidatos ao título do Brasileirão, e ultrapassa o Botafogo em caso de vitória hoje sobre o alvinegro, às 16h, no estádio Nabi Abi Chedid, pela 34ª rodada.
O plano da empresa austríaca era estar apto a conquistas neste nível a partir do ano que vem, mas a pressão interna pelo trabalho de excelência de longo prazo, baseado em um mesmo modelo de jogo, investimento em atletas jovens e estrutura de primeira, antecipou a previsão mais otimista, na contramão dos concorrentes. Enquanto os clubes de maiores torcidas tentam prevalecer através do poderio econômico, mas são envoltos em um ambiente ainda amador, o Red Bull Bragantino promove um trabalho interno com nível alto de de exigência e disciplina.
Escolhido para liderar a fase atual do projeto em 2023, o português Pedro Caixinha chegou no ano passado após a saída de Maurício Barbieri, que ficou três anos no clube e chegou à final da Sul-Americana, além de conquistar vaga na Libertadores. Antes, o Bragantino contou com Felipe Conceição e Antonio Carlos Zago. O projeto atingiu nível tão alto que Caixinha já é alvo de sondagens de outros clubes grandes do Brasil, mas pretende manter o combinado e seguir o trabalho de longo prazo. Ao assumir o Bragantino, o português percebeu que estava numa instituição e com pessoas que pensavam futebol parecido com ele.
— A questão mental vai além do psicólogo do esporte, é em relação a processos, identidade. Todo mundo começa o campeonato atrás da melhor campanha. A questão é como. Isso é a essência. O que vai ser necessário para passar por toda uma temporada. Criar uma identidade coletiva, ter valores e critérios claros, o que é inegociável. Algumas ações você ajusta, mas dedicação, entrega, comprometimento, profissionalismo, mentalidade vencedora, atacar a bola, atacar o gol, é inegociável. Aqueles que não fizerem isso, estão fora. É martelado pelo Caixinha, mas é marca Red Bull, correr riscos com responsabilidade — conta o psicólogo do clube, Augusto Carvalho.
Pressão, não violência
A filosofia passa por não confundir pressão com violência, como se vê nas grandes equipes. E por trabalhar em cima de um projeto que não priorize os resultados, e sim o processo para chegar a eles. Nesse contexto, o desenvolvimento de talentos e o retorno econômico com eles se dá mais facilmente, fazendo a roda girar e o ciclo virtuoso acontecer e permitir mais investimentos. Nesse cenário ainda há intercâmbio com atletas mais acostumados com o ambiente de disputa constante, caso de Matheus Gonçalves, meia emprestado pelo Flamengo. Matheus Fernandes, ex-Botafogo, vem na mesma esteira.
— Matheus Gonçalvez você vê mais acostumado a esse ambiente, pela cultura do clube e do carioca, da liberdade de estar na rua, subir em telhado, na praia, aquela anarquia que a gente vivia na rua e não tem mais — completa o psicólogo do clube.
Os treinadores, contratados também baseados na mesma filosofia, permitem o progressivo desenvolvimento das categorias de base, com frutos já presentes na equipe principal, casos de Bruninho, Guilherme Lopes, Gustavinho e Talisson, o que gera a menor necessidade de adquirir jogadores em outros clubes brasileiros. Tanto que com uma folha salarial de apenas R$ 6 milhões, o Bragantino se equipara em desempenho aos gigantes Flamengo e Palmeiras, que pagam pelo menos o triplo aos seus plantéis. A força competitiva, porém, vem do elenco construído em quatro anos com a mesma ideia de jogo. E com gastos elevados.
Desde 2019, o clube investiu R$ 400 milhões na compra de direitos econômicos de atletas. Nesse mesmo período, a empresa Red Bull emprestou ao Bragantino mais de R$ 430 milhões, o que indica sinais de dependência e de um negócio que ainda não fica de pé sozinho. Com tantos gastos em contratações, a dívida do clube explode. Em 2019, era de R$ 43 milhões. No ano passado, chegou a R$ 526 milhões, e hoje o clube deve mais que Santos, Flamengo, Palmeiras e Grêmio. Segundo o economista Cesar Grafietti, em seu relatório sobre os balanços do ano passado, a transparência do Bragantino não é a ideal em relação aos repasses da Red Bull.
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