Felipe Bardi, o homem mais rápido do Brasil, com 9s96, havia acabado de se classificar para a final dos 100m nos Jogos Pan-americanos e, mesmo no frio de Santiago, não se aboletou no vestiário do Estádio Nacional. Quis acompanhar a segunda classificatória com Erik Cardoso. Erik foi o primeiro brasileiro a correr a prova abaixo dos 10 segundos, com 9s97, no Sul-Americano de São Paulo, em julho.

—Ele não é meu amigo, é meu irmão. Nos conhecemos há mais de 10 anos — disse Felipe, feliz com a classificação de ambos para a decisão que será nesta terça-feira, a partir das 21h — Um incentiva o outro. E quando ele rompeu a barreira dos 10 segundos, quis chegar também. Claro que ele me inspirou, né?

Nesta segunda-feira, na primeira semifinal, Felipe fez 10s33, atrás do dominicano José Gonzalez (10s30). Na segunda prova, Erik correu 10s43 e também avançou à disputa por medalha ao lado Diego Gonzalez, de Porto Rico (10s50).

Ambos fizeram piores tempos do que no Mundial de Budapeste, em agosto, quando não passaram da classificatória. Felipe havia feito 10s25 e Erik,10s36.

— A prova aqui foi um pouco estranha, lenta. Senti que no primeiro tiro saí um pouco melhor, só que teve uma queima. No segundo, não saí tão bem mas tentei recuperar. Tá um pouco frio, a gente já está no final da temporada ... o mais importante é que classifiquei — falou Felipe, que prefere correr no calor. — Geralmente, as minhas melhores marcas saíram no calor. Aqui estou capotado de blusa, né? O jeito é aquecer bem e tirar o agasalho, só justamente na hora da prova.

Paulo André, que correu pela terceira semifinal, não completou a prova. Ele sentiu o tendão e interrompeu a corrida. Disse que já havia tido a mesma dor uma semana antes da viagem ao Chile e que veio para o Pan "no sacrifício". Ele passará por exames para saber se poderá integrar o revezamento 4x100m, na quinta-feira (no Mundial, o Brasil foi desclassificado por erro na passagem do bastão).

— Infelizmente aqui intensificou devido ao frio. Passei pela equipe médica, a gente fez o possível, mas no meio da prova a dor se intensificou e eu resolvi parar porque ano que vem tem a Olimpíada — lamentou Paulo André, que também está "com a cabeça" com o filho.

Paulo André Junior, de 2 anos, passará por uma cirurgia. Paulo André, que chegou a deixar o camping em Bragança Paulista após diagnóstico do filho, disse que "não é grave" e que por isso pode viajar. Explicou que a cirurgia será feita pelo mesmo médico que o operou quando ele nasceu e que ainda não te data.

— Ele teve uma complicação. Eu até criei uma certa intimidade com o médico. Quem é pai, quem é mãe, entende a preocupação. Não estou tranquilo. O meu filho está em um momento difícil de saúde. Não é nada grave, nada de risco. Mas tranquilo a gente não vai ficar nunca, né? — respondeu ao ser questionado sobre o tema. — Ainda não tem a data da cirurgia e por isso vim. Eu vim aqui por ele, vim porque sei que um dia ele vai se orgulhar de assistir isso .

Pista nova para os amigos

Além de serem os dois primeiros atletas do Brasil a correr abaixo de 10 segundos e muito amigos, Felipe e Erick são companheiros de treino, dividem apartamento em Santo André e suas famílias se dão muito bem. Felipe, de Americana, e Erik, natural de Piracicaba, também são religiosos e frequentam a igreja.

— Para mim é uma honra morar com o primeiro homem que quebrou a barreira dos 10 segundos — fala Felipe, que admite ser mais bagunceiro — Bagunceiro na resenha. Deixar roupa jogada é com o Erick.

A partir do ano que vem eles ganharão uma pista sintética em Osasco, bancada pelo Sesi. Eles usam uma pista de carvão e estão empolgados:

— Já treinamos bem assim, imagine numa pista nova — fala Erik

*A repórter viaja a convite da Panam Sports