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Vai para Paris? Isenção de Bullrich após eleições argentinas faz brasileiros compará-la a Ciro Gomes

Candidata já declarou que não vai apoiar Massa, mas também evitou explicitar aproximação com Milei

Agência O Globo - 24/10/2023
Vai para Paris? Isenção de Bullrich após eleições argentinas faz brasileiros compará-la a Ciro Gomes
Argentina

Em terceiro lugar na corrida pela Presidência da Argentina, ainda não é claro qual será o posicionamento de Patricia Bullrich no segundo turno das eleições, que ocorrerá em 19 de novembro. Ao mesmo tempo em que a candidata evitou explicitar qualquer aproximação com o radical de direita Javier Milei (A Liberdade Avança) em suas primeiras manifestações públicas, também já declarou que não vai "facilitar o retorno ao poder de alguém que fez parte do pior governo da História recente" do país, em referência ao vencedor do primeiro turno, o peronista e atual ministro da Economia Sergio Massa.

A isenção da candidata virou alvo de piadas de brasileiros nas redes sociais, que a compararam com Ciro Gomes na corrida pelo Planalto em 2018 — quando o pedetista, ao perder no primeiro turno, não declarou apoio a Fernando Haddad na disputa contra Jair Bolsonaro, viajando para Paris em seguida.

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Ao reconhecer a derrota no domingo, com 23,83% dos votos, a candidata da coalizão Juntos pela Mudança fez um discurso aos correligionários quando quase 92% das seções eleitorais já haviam sido apuradas. Na ocasião, a ex-ministra da Segurança de Mauricio Macri fez duras críticas à gestão do atual presidente Alberto Fernández, afirmando que o governo endividou ainda mais o país e que sua coalizão "jamais será cúmplice das máfias que destruíram" a Argentina.

O mesmo discurso foi postado em seu perfil na rede X (antigo Twitter), nesta segunda-feira. "Na Juntos pela Mudança temos uma convicção profunda, transparente e republicana no combate à corrupção. Estamos convencidos de que o país deve abandonar o populismo se quiser crescer e acabar com a pobreza", escreveu Bullrich.

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Ciro, que também ficou em terceiro na disputa presidencial de 2018, embarcou para Paris dias após o resultado do primeiro turno, frustrando os planos do PT, que gostaria de contar com a participação ativa do pedetista na campanha de Haddad no segundo turno contra Bolsonaro.

A candidata anunciou na tarde desta segunda-feira que deve reassumir a presidência do Pro, o partido fundado por Mauricio Macri, tendo deixado a liderança do partido em abril, antes do início da campanha eleitoral.

Apoio a Milei

Por sua vez, Milei, candidato do A Liberdade Avança, sinalizou nesta segunda-feira que aceitaria um eventual apoio de Bullrich no segundo turno. Além disso, ao ser perguntado em uma rádio se incorporaria Bullrich em seu governo, Milei foi enfático:

— Se ela quisesse, como eu poderia não incorporá-la? — disse. — Ela tem tido sucesso no combate à insegurança.

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O posicionamento de Milei após o resultado do primeiro turno é o oposto ao adotado pelo candidato na reta final de sua campanha, quando bateu forte em Bullrich para tirá-la da disputa, chegando a chamá-la de "valentona assassina" e "lançadora de bombas", acusando-a de colocar bombas em um jardim de infância, fato que nunca aconteceu.

Bullrich perdeu aproximadamente 1,8 milhão de votos em relação ao resultado obtido nas primárias de agosto (Paso), que definiram quem disputaria o primeiro turno neste domingo. Na ocasião, ela venceu seu concorrente interno, o chefe do Governo de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, por 1,3 milhões de votos de diferença.

Milei e Massa, que disputarão o segundo turno na eleição presidencial argentina, em 19 de novembro, agora têm o desafio de ampliar sua base de apoio, partindo, ambos, de um alto índice de rejeição. De acordo com pesquisa realizada em setembro pela Universidade de San Andrés, a rejeição a Milei, de ultradireita e que espanta eleitores com propostas como permitir a venda de órgãos e reduzir drasticamente o tamanho do Estado — podendo, nessa cruzada, eliminar programas de ajuda social —, atinge 53%.

Já o peronista Sergio Massa deve convencer os argentinos de que ser o ministro da Economia num país mergulhado numa crise dramática não significa que não possa ser o presidente que resolva essa mesma crise. (Com La Nación.)