Esportes

Seleção de beisebol, com maioria de atletas amadores, pode chegar à zona de medalha do Pan-americano de Santiago

Brasil já fez história ao derrotar a Venezuela e a Colômbia; jogo desta terça-feira é contra Cuba e vale classificação para as semifinais

Agência O Globo - 24/10/2023
Seleção de beisebol, com maioria de atletas amadores, pode chegar à zona de medalha do Pan-americano de Santiago

O beisebol do Brasil, cuja seleção é uma mescla de atletas profissionais que jogam em ligas no exterior com atletas "de final de semana", que moram no Brasil e têm outras profissões, pode entrar na zona de medalha dos Jogos Pan-americanos de Santiago-2023. Líder do Grupo B, com duas vitórias e nenhuma derrota, o Brasil enfrenta Cuba nesta terça-feira, às 9h30 (de Brasília), e depende apenas de si para avançar. É a primeira vez que a seleção brasileira tem a chance de chegar às semifinais da competição.

A modalidade, incluída no programa olímpico em Barcelona-1992, com Cuba campeã, permaneceu até Pequim-2008. Chegou a retornar em Tóquio-2020, tirada da edição de Paris-2024 e incluída novamente em Los Angeles-2028.

O Brasil, atual campeão sul-americano, tem feito História em Santiago-2023. Na estreia venceu a Venezuela, sexta colocada no ranking mundial, por 3 a 1. O Brasil é o 24.º. Com esta vitória, a seleção repetira a última participação, no Pan do Rio-2017, quando venceu um candidato ao pódio. Na ocasião, derrotou a Nicarágua. Na sequência, perdeu para a República Dominicana e para os Estados Unidos e não avançou.

Skate: Acostumados à ‘carreira solo’, skatistas vivem nova realidade no mundo olímpico

Boxe: Bia Ferreira fala sobre carreira híbrida e busca por vaga no boxe olímpico em Paris-2024

Vôlei de praia: Duda e Ana Patrícia, dupla sensação do vôlei de praia, contam como parceria 'dá liga' na areia

Ginástica: Barras assimétricas complicam seleção feminina que fica com a prata na ginástica artística por equipes

Empolgados com a vitória de estreia em Santiago, o Brasil fez partida excepcional contra a Colômbia, no domingo. Perdia por 4 a 0, empatou no último inning (entrada) e o jogo foi decidido nas entradas extras. Os brasileiros venceram por 8 a 7, após 3h30 de partida.

A rodada desta terça-feira definirá os semifinalistas e o Grupo B pode ficar embolado, com empate entre Cuba, Brasil e Venezuela, e ter de desempatar numa combinação matemática.

Preparação inédita

Dos 23 atletas do Brasil, cinco atuam no exterior, entre times das Minor League americana (os arremessadores Erick Pardinho, do Toronto Blue Jays, e Gabriel Barbosa, do Colorado Rockies), Japão (os arremessadores Felipe Natel e Enzo Sawayama, ambos no Yamaha) e França (o receptor Gabriel Barros). O time tem ainda doze atletas que já atuaram no exterior, cinco que nunca saíram do Brasil e um que faz college nos EUA, com bolsa pelo beisebol. O técnico Ramon Ito, que também orienta o time de Marília, trabalha com TI.

Márcio Roberto Irikura, chefe da delegação do beisebol, explica que para a disputa do Pan-americano, a Confederação Brasileira da modalidade obteve ajuda financeira do Comitê Olímpico do Brasil (COB). A entidade também bancou as despesas para o Sul-americano de 2022, em que o Brasil foi ouro e conquistou vaga para Santiago-2023.

Assim, os atletas puderam fazer camping de treinamento uma vez por mês, desde março, no interior de São Paulo. Isso nunca havia acontecido. Eles apenas se juntavam dois meses antes das competições.

— A gente não veio para competir, fazer número. Viemos para tentar uma medalha inédita. Já foi o tempo em que a gente entrava na competição por entrar — fala o chefe de equipe, que espera consolidar uma seleção permanente para 2028. — O trabalho começa agora para uma classificação inédita. O Brasil nunca foi aos Jogos Olímpicos.

Para Salomon Koba, de 26 anos, um dos receptores e destaque na estreia, os campings motivaram os atletas. Disse que “o pessoal veio mais animado”:

— Já que a gente teve essa chance, a gente não quis e não quer perder o foco de tentar uma medalha inédita. Nosso intuito é fazer História — declara Salomon, que é dentista na capital paulista durante a semana, e joga beisebol nos finais de semana no Nippon Blue Jays, em Arujá. — O barulho do taco na bola, a resenha com os amigos e o churrasco depois são a minha terapia.

Ele lamenta que os times no Brasil não paguem salários e que na maioria das vezes os atletas arquem com as despesas do clube e de sua comissão técnica.

— A maior parte faz festas para arrecadar dinheiro e pagar as viagens dos atletas. Às vezes não dá para cobrir e a gente acaba entrando com alguma coisa. Se eu pudesse faria só o que eu amo de paixão, que é o beisebol — acrescenta o atleta que já jogou profissionalmente no Japão, em 2019.

O arremessador Eric Pardinho, de 22 anos, que joga desde 2028 profissionalmente no Toronto Blue Jays, da Minor League dos EUA, diz que o Brasil vai em busca de resultado mas também de incentivo à modalidade.

E não duvide de sua persistência. Ele sonhava em ser jogador de beisebol aos 6 anos. Aos 13 anos foi morar em Ibiúna, na Academia de Beisebol Yakult, que prepara crianças para jogar e estudar no exterior. Ficou quatro anos até assinar o primeiro contrato.

— Esse sonho realizei mas continuo sonhando. Vamos jogar com o coração, confiar um no outro e dar o nosso melhor. Viemos para Santiago para o ouro e jogo é jogado. Não dá para saber o que vai acontecer na véspera.

*A repórter viaja a convite da Panam Sports