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Como funcionou a campanha do medo do peronismo contra Milei

Uma das principais estratégias do peronista Sergio Massa e de seus estrategistas foi alimentar o pânico por um eventual governo de Javier Milei, da ultradireita, na Argentina

Agência O Globo - 23/10/2023
Como funcionou a campanha do medo do peronismo contra Milei
Javier MileI - Foto: Reprodução

A diversa e internacional equipe de estrategistas — entre eles vários brasileiros — que trabalha na campanha do candidato à Presidência argentino Sergio Massa destinou grande parte de seus esforços nos últimos dois meses a instalar na sociedade um sentimento de medo em relação ao candidato da ultradireita, Javier Milei. Aumentar a rejeição a Milei através do pânico que despertam algumas de suas propostas e, por exemplo, sua defesa de uma redução drástica do Estado argentino foram e continuarão sendo estratégias centrais para o comando de campanha de Massa.

O candidato peronista semeou medo por todos os lados. Na semana prévia ao primeiro turno, os argentinos que utilizaram o transporte público se surpreenderam, ao pagar suas passagens, com mensagens que indicavam qual seria o valor que pagariam se o presidente do país fosse Milei ou, também, a agora ex-candidata presidencial Patricia Bullrich, da aliança opositora Juntos pela Mudança. Também foram colocados avisos com valores hipotéticos de passagens de trem em eventuais governos de Milei e Bullrich em estações de trem de Buenos Aires e da Grande Buenos Aires. A jogada foi denunciada por ambos candidatos.

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Enquanto o peronista dizia em discursos de campanha que Milei representava uma ameaça para a democracia e para a sobrevivência dos argentinos, nas redes sociais circularam e continuam circulando vídeos que fazem referência a posições do candidato da ultradireita sobre, por exemplo, o livre porte de armas. Um desses vídeos mostra uma criança chegando na escola, tirando uma arma da mochila e atirando dentro da sala de aula, com a mensagem “Pense bem antes de votar. Milei não”.

O candidato do partido A Liberdade de Avança, admirador de Donald Trump e Jair Bolsonaro, disse durante as últimas semanas de campanha que não defende o livre porte de armas, mas sim o cumprimento da legislação existente. Suas posições causam confusão, e o peronismo usou essa confusão para alimentar a campanha do medo.

Nos bairros mais humildes de Buenos Aires e da grande Buenos Aires, muitos argentinos que recebem planos de assistência social do governo foram alvo de uma campanha ostensiva sobre uma suposta decisão de Milei de cortar todo tipo de ajuda estatal — algo que o candidato e seus assessores negam — , comentaram moradores de vilas miséria dessas regiões. Segundo dados da Universidade Católica Argentina (UCA), 51,7% dos argentinos recebem algum tipo de ajuda estatal atualmente, num país que tem 41% de seus 44 milhões de habitantes vivendo abaixo da linha da pobreza.

Uma empregada doméstica, que pediu para não revelar sua identidade, comentou que seu filho, de apenas 10 anos, disse para ela antes do primeiro turno que esperava que Massa ganhasse para que sua mãe também recebesse algum tipo de ajuda e não precisasse trabalhar tanto. O menino comentou, na mesma conversa, que se Milei ganhasse todos perderiam os subsídios que recebem. O medo a perder ajuda estatal se espalhou por todo um país, no qual a forme se tornou uma realidade, inclusive para quem trabalha na informalidade.

Massa também fomentou o medo a que os argentinos perdessem acesso à saúde e educação pública.

— Vamos aumentar o investimento no sistema educacional, porque acreditamos que é o melhor investimento que uma sociedade pode fazer… a oposição quer cobrar por educação — declarou o candidato peronista, ao apresentar, durante a campanha, um projeto de lei de financiamento para a educação.