Esportes
Jogos Pan-Americanos: Acostumados à ‘carreira solo’, skatistas vivem nova realidade no mundo olímpico
Em Santiago, atletas experimentam, pela última vez antes de Paris-2024, as delícias e os desafios de fazer parte de um time

O skate, que estreou como modalidade olímpica em Tóquio-2020, ainda se adapta à realidade dos esportes abraçados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Diferentemente dos torneios mundo afora, em que os atletas competem de forma individual, nos olímpicos eles representam um país, fazem parte de uma delegação, usam uniforme e precisam se adaptar às regras para o conjunto. E os Jogos Pan-Americanos de Santiago, que não contaram pontos para Paris, foram o último evento nesse formato “time” antes dos Jogos de 2024 na capital francesa.
— No Pan, os atletas se vestem com uniforme do Brasil, não com a roupa que gostam de usar nas competições do circuito. É quando eles sentem que representam de fato um país. Pensando em Paris, isso é importante, colocá-los de novo no clima de uma competição diferente. Para o skate, ainda é uma novidade — diz Eduardo Musa, presidente da Confederação Brasileira da modalidade (CBSK). — Já existe uma mudança de Tóquio para cá, mas ainda é preciso mais competições. O skate ainda não se sente uma modalidade olímpica.
Para Musa, até o uso do uniforme do Time Brasil, obrigatório para todos os membros da delegação, faz diferença. Ele conta que, desde Tóquio, quando isso acontece, “parece que os atletas viram uma chave”.
— O Pan foi importante para reforçar o clima dos Jogos, o clima de ser Brasil. E também por eles terem de se adaptar aos horários da organização, a andar de ônibus, dividir quarto com outro atleta. Esse clima é muito diferente para os skatistas — opina. — Eles representam marcas, fazem agendas... Tudo gira em torno do atleta individualmente. O Pan faz com que ele entenda: “Não sou eu, é o Brasil”.
PRESENÇA NO PÓDIO
Em Tóquio, o skate conquistou três medalhas de prata (Kelvin Hoefler e Rayssa Leal no street e Pedro Barros no park) e foi o esporte com mais pódios para o Brasil, ao lado do boxe e da natação.
Desde então, a modalidade soma medalhas em todos os eventos da cena olímpica disputados. Nos Pan de Santiago, encerrado ontem para o skate, não foi diferente, com cinco pódios, mais que qualquer outro país.
No street feminino, disputado no sábado, Rayssa Leal, prata em Tóquio, conquistou o ouro. Ela sobrou na pista. Pâmela Rosa, que não foi às finais no Japão por lesão, ficou com a prata. No masculino, o Brasil obteve ouro com Lucas Rabelo.
Na modalidade park, domingo, Raicca Ventura garantiu a medalha de prata na última volta. No masculino, Augusto Akio subiu ao pódio na mesma posição.
O skate vive seu segundo ciclo olímpico, mas faz sua estreia em Pan-Americanos nesta edição, depois de ficar fora em Lima-2019.
— Penso nisso desde que cheguei, que o Pan é grandioso, e este é o primeiro da História. Estar num torneio assim me colocou dentro da Vila dos Atletas, algo diferente, com todo mundo, trocando pins, conhecendo gente de outros esportes — comemorou Raicca, que estava nervosa na disputa.
No caso de Rayssa, Santiago-2023 foi a primeira competição no modelo olímpico desde Tóquio-2020. Ela tem dez patrocinadores pessoais, e, eventualmente, pode “ser time” de alguma marca em torneios específicos. Como Brasil, só mesmo em competições como o Pan:
— A grande diferença de um evento olímpico é que me divirto mais, porque toda a seleção brasileira está aqui. Estou me acostumando a esse estilo de competição, apesar de ter ficado seis dias sem minha mãe na Vila — conta Rayssa, de 15 anos, que costuma viajar e ficar ao lado da mãe e coach durante os torneios. No Chile, ela dividiu quarto com Pâmela. — Fizemos tudo juntas, menos ir ao banheiro (risos).
Para Rayssa, a medalha no Pan trouxe mais confiança rumo à Olimpíada de Paris, mesmo que ela prefira não pensar “tão longe assim”:
— É sim um treinamento para Paris, o mesmo formato, a mesma vibe. Foi muito bom para pegar confiança.
A classificação olímpica se dará via ranking mundial. Desde o ciclo de Tóquio, a CBSK tem seleções permanentes. A entidade proporciona aos atletas treinamento e condições de disputa de torneios como parte do Time Brasil e com foco na pontuação olímpica. Em janeiro, os 44 primeiros de cada modalidade e naipe avançam à segunda fase de classificação. O Brasil deve levar três atletas por grupo a Paris-2024.
MOTIVAÇÃO EXTRA
Recuperado de grave contusão no joelho e na briga pela vaga olímpica, Lucas Rabelo comemorou o ouro no street em Santiago. Ele já havia sido campeão pan-americano júnior em Cali, em 2021, e por isso integrou o Time Brasil no Chile. Mas agora esteve pela primeira vez em um torneio do tipo na categoria adulta.
Lucas conta que “foi um choque” olhar para o lado e ver atletas de modalidades diferentes. Teve a sensação de pertencimento e vontade de “fazer acontecer”:
— A partir do momento em que o skate entrou nos Jogos, virou um sonho para mim. A gente representa de onde veio, e levo isso como motivação. Sou o Lucas, natural de Fortaleza, do bairro Pirambu, e estou aqui hoje.
*A repórter viaja a convite da Panam
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