Internacional
Às vésperas das eleições, Milei articula apoio no peronismo, enquanto Massa e Bullrich tentam conter fuga de aliados
Em entrevista ao GLOBO, principal articulador político do candidato presidencial da extrema direita afirmou que está 'conversando com todos’
Nas últimas semanas, o candidato da extrema direita argentina para as eleições presidenciais do próximo domingo, Javier Milei, intensificou as conversas com setores do peronismo, dos sindicatos e empresários, na tentativa de construir pontes que, em caso de vitória, garantam governabilidade a seu eventual governo. Seus principais rivais, o peronista Sergio Massa e a candidata da aliança opositora Juntos pela Mudança, Patricia Bullrich, conhecem os movimentos de Milei e tentam, em ambos os casos, preservar seus principais aliados, que, em alguns casos, já flertam com o líder do partido A Liberdade Avança.
O principal articulador político de Milei é o veterano Guillermo Francos, até pouco tempo atrás representante do atual governo argentino no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Francos, de 73 anos, já atuou em governos peronistas, e também tem ampla trajetória no setor privado. Desde que confirmou sua incorporação à equipe de Milei, sua agenda está colapsada e inclui encontros com governadores, prefeitos, empresários e dirigentes políticos de todos os setores.
— Estamos conversando com todos os setores, porque todos devem entender que todos temos de contribuir para a governabilidade. Milei quer implementar suas ideias partindo do diálogo — contou Francos ao GLOBO.
O advogado e político argentino já foi escolhido, segundo fontes próximas a Milei, pelo candidato da extrema direita para assumir o comando do Ministério do Interior, em caso de triunfo da Liberdade Avança na eleição presidencial. Num primeiro momento, Milei pensou em Francos para comandar o Ministério das Relações Exteriores, mas o próprio Francos, segundo comentou na entrevista, disse ao candidato que seria mais útil à frente da articulação política.
O ex-representante da Argentina no BID tem boas relações com o peronismo, e com importantes dirigentes do atual governo de Alberto Fernández e Cristina Kirchner. Alguns desses dirigentes, comentaram outras fontes da equipe de Milei, já aceitaram formar parte de um eventual governo de extrema direita, assim como peronistas que não estão com Fernández e Cristina. Massa, que, segundo pesquisas, sofreu uma queda nos últimos dias pelos escândalos de corrupção envolvendo aliados e pela deterioração da situação econômica, está furioso pelos contatos de peronistas com colaboradores de Milei.
As conversas, acrescentou Francos, têm sido positivas.
— Todos entendem que surgiu um fenômeno diferente na política argentina, uma terceira posição, que não está sustentada numa estrutura política tradicional, e que se construiu em base ao apoio popular de diferentes setores sociais. Esse fenômeno interpelou a velha organização política e todos entendem que deve ocorrer uma mudança.
Um dos que estaria conversando com a equipe de Milei é Florencio Randazzo, que foi ministro do Interior e Transportes dos governos de Cristina (2007-2015), e é companheiro de chapa do candidato presidencial Juan Schiaretti, também peronista e atual governador da província de Córdoba, uma das mais importantes do país. Quando o presidente Fernández acusou judicialmente o candidato da extrema direita de ser o responsável pela corrida cambial da semana passada — que levou a cotação do dólar a bater mil pesos —, Randazzo defendeu Milei e disse que faz tempo que os argentinos escolheram o dólar como refúgio.
Em entrevista a meios locais, a candidata a vice de Milei, a deputada Victoria Villarruel, afirmou que “Schiaretti pode ter uma atitude de colaboração”, num eventual governo da Liberdade Avança. Milei também poderia aceitar a presença de outros peronistas em seu espaço político, com a condição, frisou Francos, de que não tenham qualquer envolvimento em casos de corrupção.
— Não digo que seja tudo cor de rosa, teremos dificuldades, mas com diálogo é possível, reconhecendo os erros que foram cometidos — assegurou o articular político do candidato, que já trabalhou com o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, e com o ex-ministro da Economia Domingo Cavallo.
Francos está buscando, também, uma futura aproximação entre Milei e o Papa Francisco. O candidato da extrema direita acusou o Papa de "acobertar ditaduras assassinas”, em referência aos governos da China e Venezuela, e existem especulações sobre a possibilidade de Francisco suspender uma eventual visita a Argentina em 2024, se Milei for eleito presidente.
Na aliança opositora Juntos pela Mudança, a grande questão é o que fará o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), que mantém uma boa relação e um diálogo fluido com Milei. Esses contatos incomodam profundamente Bullrich, que, segundo algumas pesquisas, cresceu nas últimas semanas e poderia ser a rival de Milei num eventual segundo turno, deixa Massa fora da corrida. A relação entre o candidato e Macri é uma pedra no sapato da candidatura de Bullrich.
Segundo uma fonte da aliança opositora, o ex-presidente está comprometido com a candidata de sua aliança, mas não abre mão do vínculo com Milei. Em entrevistas a rádios locais, o candidato da extrema direita chegou a dizer que nomearia Macri como um embaixador da Argentina no mundo, possibilidade que assessores do ex-presidente negaram, mas existem sérias dúvida sobre qual será a posição de Macri se Milei for eleito. Em palestra na universidade de Harvard, recentemente, o ex-presidente argentino afirmou que se Milei for o próximo presidente da Argentina pedirá a suas bancadas no Congresso que apoiem "qualquer reforma razoável”.
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