Internacional
Israel promete manter cerco a Gaza apesar de alertas sobre 'desastre humanitário'
Governo afirmou que não liberará passagem de suprimentos essenciais à cidade enquanto reféns israelenses não forem soltos pelo Hamas
Israel prometeu nesta quinta-feira manter o cerco e os bombardeios a Gaza até que sejam soltos os cerca de 150 reféns — israelenses, estrangeiros ou com nacionalidade dupla — sequestrados pelo grupo fundamentalista islâmico no sábado, durante o ataque mais mortal em mais de 50 anos no país, com ao menos 1,3 mil mortos. A promessa foi feita durante visita do secretário de Estado americano, Antony Blinken, a Tel Aviv e enquanto crescem os pedidos por moderação e os alertas sobre a situação humanitária no enclave palestino, controlado pelo Hamas desde 2007.
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A promessa foi feita na véspera de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, presidido de forma rotativa pelo Brasil desde o início deste mês, em que será discutida a implementação de um corredor humanitário para a retirada das pessoas que querem deixar o enclave, incluindo cerca de 20 brasileiros. Como há poucas expectativas de uma resolução durante a sessão na ONU, o Itamaraty e o Palácio do Planalto intensificaram os esforços diplomáticos com o Cairo para retirar os brasileiros pela fronteira com o Egito.
No dia em que soldados israelenses se aproximaram da fronteira em meio aos preparativos de uma possível invasão por terra após a convocação de 360 mil reservistas, uma autoridade da ONU alertou para o risco de um "desastre humanitário" no território superpovoado, onde vivem mais de 2 milhões de palestinos em 365 km². Há risco de que a população passe fome e fique sem combustível em breve após Israel bloquear o envio de suprimentos ao território em retaliação aos ataques do Hamas.
Segundo a ONU, 50 mil grávidas estão sem acesso aos serviços de saúde e mesmo à água potável em Gaza. Seis dias de bombardeios israelenses forçaram mais de 300 mil pessoas a deixar suas casas, com nenhum sinal imediato de que haveria autorização para a entrada de ajuda de emergência.
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— Ajuda humanitária a Gaza? Nenhum interruptor elétrico será ligado, nenhum hidrante de água será aberto e nenhum caminhão com combustível entrará [no território] — disse nesta quinta-feira o ministro de Energia israelense, Israel Katz.
O coronel Richard Hecht, porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), afirmou nesta quinta que o recém-formado governo de unidade nacional, formado na quarta por Netanyahu e o opositor Benny Gantz, ainda não tomou uma decisão sobre a invasão por terra, mas que o Exército planeja uma. Nesta quinta, Yair Lapid, líder do partido centrista Yesh Atid, classificou o ataque do Hamas como um "fracasso imperdoável" do governo Netanyahu, afirmando que não se unirá ao gabinete de emergência de guerra.
Retirada de brasileiros
Vários países se uniram aos esforços de Israel para tentar libertar os reféns, com Blinken e outras autoridades americanas conversando com seus homólogos em todo o Oriente Médio para tentar garantir sua libertação e transmitir uma mensagem por meio de intermediários a outros adversários de Israel, nomeadamente o Hezbollah no Líbano e o Irã, que não deveriam se envolver no conflito.
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Após visitar Israel, Blinken viajou para a Jordânia, onde planeja cruzar a fronteira para se reunir com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, na Cisjordânia e o rei jordaniano Abdullah II em Amã nesta sexta-feira. Depois, ele deve viajar para o Catar. Enquanto Blinken inicia seu giro pelo Oriente Médio, o secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, visitará Israel nesta sexta-feira.
Além dos esforços pelos reféns, várias nações também organizam voos de repatriação de seus cidadãos que tentam escapar do conflito. O Brasil, que já repatriou centenas de cidadãos em três aviões, mandou nesta quinta o avião modelo VC-2 para Roma, na Itália, onde permanecerá até receber autorização para prosseguir ao Egito.
O governo brasileiro decidiu enviar a aeronave para estar preparado no momento em que for habilitada a possibilidade de resgatar brasileiros na Faixa de Gaza. Um corredor humanitário, explicou uma fonte diplomática, pode ser aberto por apenas algumas horas e por isso é preciso estar o mais perto possível do local.
Além do Brasil, os EUA e vários países europeus organizaram voos de retirada. O Reino Unido anunciou que enviará um grupo de trabalho com ajudar com os esforços de auxílio humanitário, além de uma aeronave de monitoramento para ajudar a rastrear ameaças contra Israel.
Bombardeios contra Gaza
Segundo comunicado das IDF, desde sábado Gaza foi bombardeada com 6 mil bombas, o equivalente a 4 mil toneladas de explosivos, matando "centenas de terroristas". Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, mais de 1,5 mil pessoas, incluindo 500 menores e 276 mulheres, morreram em Gaza desde o início da retaliação, que também deixou mais de 6,6 mil feridos e desalojou 338 mil pessoas.
Durante um pronunciamento conjunto com o premier israelense, Benjamin Netanyahu, o secretário de Estado americano condenou o "reino de terror" do Hamas, afirmando que o grupo não representa a população palestina ou suas aspirações legítimas de viver com segurança, liberdade, justiça, oportunidade e dignidade.
— Sabemos que o Hamas não cometeu esses atos hediondos tendo os interesses da população palestina em mente — afirmou Blinken. — Sabemos que o Hamas não representa o futuro que os palestinos querem para si e para seus filhos. Hamas tem apenas uma agenda: destruir Israel e assassinar judeus.
Em sua fala, Blinken também prometeu que Washington ajudará a defender Israel “enquanto os EUA existirem” .
— Vocês podem ser suficientemente fortes para se defender por conta própria, mas, enquanto os EUA existirem, vocês nunca terão de fazer [isso sozinhos] — disse Blinken. — Muitas vezes no passado, os líderes cometeram equívocos face a ataques terroristas contra Israel e o seu povo. Este é, este deve ser, um momento para clareza moral.
Danos a civis
Apesar da declaração de apoio incondicional, Blinken pontuou que a forma como Israel se defende "importa", sendo relevante adotar toda precaução possível para evitar danos a civis. A mesma ressalva foi feita pelos países membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que, ao expressar sua solidariedade a Israel, instaram o Estado judeu a "se defender proporcionalmente contra esses atos de terrorismo injustificáveis".
— O valor que atribuímos à vida humana e à dignidade humana: é isso que nos torna quem somos — disse Blinken em Tel Aviv. — É por isso que é importante tomar todas as precauções possíveis para evitar danos aos civis. E é por isso que lamentamos a perda de todas as vidas inocentes.
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Essas foram as observações mais extensas feitas por Blinken até agora sobre a necessidade de cautela ou moderação nas ações militares de Israel em Gaza, onde as forças israelenses imponhem um cerco e lançam ataques aéreos retaliatórios. O presidente dos EUA, Joe Biden, já havia feito essa ressalva na quarta-feira a Netanyahu, pedindo que procedesse acatando "as normas da guerra".
Dezenas de especialistas independentes da ONU condenaram nesta quinta os "crimes horríveis" cometidos pelo Hamas em Israel, assim como a resposta do Estado judeu, que classificaram como "castigo coletivo" a Gaza.
"Nada justifica a violência indiscriminada contra civis inocentes, seja por parte do Hamas ou por parte das forças israelenses. Isso está absolutamente proibido pelo direito internacional e constitui um crime de guerra", escreveram os especialistas em direitos humanos, que receberam um mandato da ONU, mas não falam em nome da organização.
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Na quarta-feira, a única estação de energia em Gaza ficou sem combustível, significando que o território conta só com geradores para obter luz. O Programa Mundial de Alimentos alertou para a "difícil situação" no território pelo corte, por Israel, de envio de alimentos, água e combustíveis.
O responsável regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), Fabrizio Carboni, advertiu esta quinta que a situação humanitária em Gaza pode ficar "rapidamente impossível de administrar".
Nesta quinta, o Hamas lançou um apelo para que organizações de ajuda ofereçam suprimentos médicos essenciais e ajuda a Gaza.
"Pedimos a todas as instituições de auxílio, saúde e de caridade em nosso mundo árabe e islâmico e em nossa comunidade internacional para intervir urgente e rapidamente para trazer todos os suprimentos necessários e salvar mais de 2 milhões de palestinos", disse a organização fundamentalista em um comunicado.
Já o Ministério de Relações Exteriores do Egito pediu que Israel pare os atos perto do posto de fronteira de Rafah, entre Gaza e o Egito, depois de "bombardeios israelenses repetidos impedirem o local de operar normalmente". Segundo o Cairo, o funcionamento do local é necessário para prover uma tábua de salvação aos palestinos.
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