Internacional
Vivi para contar: 'Parecia uma cena de filme para onde olhava via desespero', diz brasileiro resgatado de Israel
Juliano Câmara de Oliveira, que filmou as primeiras horas do ataque com o celular, fala dos momentos de tensão que viveu ao lado de amigos e precisou se esconder em um bunker no hotel.
“Há dois dias, pela primeira vez na minha vida, ouvi um toque de recolher. Parecia uma cena daqueles filme de guerra, sabe? Para onde eu olhava, via desespero. Decidi conhecer Israel para fortalecer minha jornada de encontro com a religiosidade. No lugar, encontrei pessoas desesperadas e destruição”.
O paraense Julio Câmara de Oliveira filmou com o celular as primeiras horas do ataque terrorista do Hamas a Israel pela sacada do hotel em que estava hospedado. Juliano desembarcou na Base Aérea do Galeão na manhã desta quarta-feira.
Era sábado de madrugada quando decidi chamar meu pastor para olhar da janela do hotel, no quinto andar. Tinham luzes por todo lado tomavam conta do céu. Não era algo bonito de ver, pelo contrário, sabíamos que se tratava de um ataque a mísseis. Naquela altura, os rumores da guerra já tomavam conta dos noticiários, mundo afora. No entanto, a única certeza que tínhamos era a de sobrevivência. Nasci em um lar evangélico. Meu sonho de criança era conhecer Israel.
Leia mais: Brasileiro que estava em rave está desaparecido após invasão do Hamas em Israel
Planejei essa viagem durante anos. Fiquei triste por não aproveitar Jerusalém do jeito que planejei. Mas entendo que a situação das pessoas que moram e vivem por lá está muito difícil. Chegamos no país dia primeiro de outubro e o plano era ficar lá até o dia 13. Os primeiros dias da viagem visitamos o Egito e foi incrível. Naquele dia passamos com o guia turístico próximo à faixa de Gaza.
Ele nos mostrou o local e tirei uma foto, de dentro do carro, de um policial acenando para mim. Não era necessariamente a área de confronto, mas ficava perto. Cerca de cinco horas mais tarde, no sábado de madrugada, o grupo terrorista Hamas atacou a região. Voltamos para o hotel em Jerusalém e a partir daí começou o desespero. O hotel foi fechado e recebemos instruções de segurança. Na verdade, eram instruções de guerra. Vários policiais disfarçados nos reuniram no salão do hotel. Eles falavam que a situação era tensa e muito séria.
Deram orientações sobre atentado com mísseis e invasão. Quanto mais eles pediam calma, mais as pessoas se desesperavam. Tínhamos apenas um minuto e meio para evacuar o prédio e se esconder no subsolo. As sirenes tocavam do lado de fora. As crianças choravam e o corre-corre sem fim. A ordem era que ficássemos escondidos no bunker — uma espécie de porão, sem janelas, com paredes de concreto.
Foram os dez minutos mais aterrorizantes da minha vida. Lembro que fiz um vídeo mostrando a situação e contanto que estávamos bem. No início não tinha interesse de enviá-lo para meus parentes. Tinha medo de preocupá-los. Afinal, não sabia se iria voltar para casa. Não deu tempo de filmar tudo o que vi. Tinha um contra-ataque. Quanto mais lançavam mísseis, mais revidavam. No entorno havia vários domos de ferro — uma espécie de muro que abatem interceptam os mísseis. Nesse momento passa aquela sensação “será que isso é real?”.
Precisei ter muito calma. Você falar ouvir sobre as guerras, é uma situação. Agora, você está no local presenciando tudo é a parte mais triste. Tive contato com uma moça brasileira que esteve próximo do local do ataque. Ela estava machucada, com escoriações. Ela me contou que se machucou no tumulto. No momento em que o grupo chegou atacando ela saiu correndo, em seguida a sirene tocou. A sensação dela era de pânico. Assim como eu, a moça também estava a passeio. Graças a Deus voltei. Graças a Deus pude ver minha família de novo.
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