Internacional

‘Nós os odiamos’: restaurantes norte-coreanos na China são proibidos de atender clientes da Coreia do Sul

Funcionário cita orientação de embaixada da Coreia do Norte para se recusar a atender sul-coreanos

Agência O Globo - 09/10/2023
‘Nós os odiamos’: restaurantes norte-coreanos na China são proibidos de atender clientes da Coreia do Sul
China - Foto: AFP

Os sul-coreanos que quiserem experimentar a cozinha norte-coreana na China terão de optar por outro menu. Os restaurantes abertos por Pyongyang no gigante asiático estão proibidos de servir os seus vizinhos do Sul, tendo como pano de fundo as tensões entre os dois países.

Os dois países estão separados desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953, e a sua fronteira é uma das mais militarizadas do mundo. Os residentes do Sul não podem viajar livremente para o Norte, o que significa que uma das poucas oportunidades de manter contato com a cultura de seus vizinhos é comer num dos muitos restaurantes abertos por Pyongyang no estrangeiro.

Uma atividade que também representa uma fonte de rendimento para o governo norte-coreano, sujeito a sanções internacionais pela sua atuação nuclear e balística. O cardápio oferece pratos típicos da Coreia do Norte, como sopa fria de macarrão ou panquecas de kimchi.

Durante o jantar, garçonetes, selecionadas entre a elite norte-coreana, tocam um instrumento ou dançam no palco diante dos clientes. Com a condição, a partir de agora, de que eles não sejam sul-coreanos.

‘Nós os odiamos’

Segundo uma contagem realizada pela AFP na China, pelo menos seis restaurantes norte-coreanos recusam-se a servir os vizinhos do Sul .

— A regra entrou em vigor este ano — diz um funcionário chinês do restaurante Ryugyong em Dandong, cidade na fronteira da China com a Coreia do Norte. Em anonimato, ele fala de um “regulamento da embaixada norte-coreana” que determina que “nenhum restaurante em Dandong está autorizado a servir sul-coreanos”.

A embaixada norte-coreana em Pequim não respondeu às perguntas da AFP.

No entanto, a proibição parece variar. Alguns restaurantes em Xangai, Changchun (Nordeste) e Hanói, no Vietnã, não parecem aplicá-la. De qualquer forma, as relações entre os norte-coreanos e os sul-coreanos são abertamente hostis ou, na melhor das hipóteses, frias.

— Nós os odiamos! — diz uma garçonete norte-coreana em Shengyang, uma grande cidade no Nordeste da China, onde negócios abertos por cidadãos de ambas as Coreias coexistem a poucos metros de distância. — Se você trouxer um amigo sul-coreano, não o aceitaremos. Não o queremos e não o serviremos.

Um sul-coreano, que prefere não ser identificado, diz que foi expulso de um restaurante em Dandong quando os funcionários o ouviram conversando com um amigo.

Postura agressiva

— O tom era muito hostil. Eu me senti muito frustrado e chateado. Senti pena deles — afirma um ex-funcionário de um dos restaurantes.

Essas proibições já aconteceram no passado, geralmente quando as relações entre as duas Coreias passavam por momentos difíceis. Mas normalmente só se aplica a restaurantes geridos diretamente por Pyongyang, e não naqueles onde apenas os donos e funcionários são norte-coreanos.

— A proibição reflete uma postura agressiva (do Norte) em relação ao Sul — disse Hong Min, do Instituto Coreano para a Unificação Nacional, à AFP. — Isto mostra que o Norte considera o Sul um Estado inimigo, e não um Estado com o qual possa cooperar — diz ele de Seul, capital da Coreia do Sul.

As duas Coreias ainda estão tecnicamente em guerra, uma vez que o conflito terminou em 1953 com um armistício, e não com um tratado de paz.

Na semana passada, a Coreia do Sul organizou a sua primeira grande parada militar em dez anos, com uma participação americana sem precedentes, uma demonstração de força dirigida ao seu vizinho do Norte.