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María Corina Machado lidera com folga nas pesquisas na Venezuela um mês antes das primárias da oposição

Pleito da oposição, no dia 22 de outubro, sofre duro cerco institucional que incentiva deserções e gera incerteza

Agência O Globo - 24/09/2023
María Corina Machado lidera com folga nas pesquisas na Venezuela um mês antes das primárias da oposição
María Corina Machado lidera com folga nas pesquisas na Venezuela um mês antes das primárias da oposição - Foto: Reprodução

A um mês para as eleições primárias da oposição venezuelana, que concordou em escolher uma liderança unificada como alternativa ao chavismo em 2024 —, a direitista María Corina Machado lidera com folga todas as pesquisas de opinião. A ex-deputada conta com um percentual que oscila em torno de 40% de apoio, com tendência de alta, o triplo do seu maior riva, Henrique Capriles.

Como os demais candidatos, a campanha de Machado não têm acesso à TV ou aos meios de comunicação de massa. Mesmo assim, o crescimento de sua candidatura tem sido tão vertiginoso que os números sugerem que ela nem precisaria fazer acordos para vencer nas primárias.

— O crescimento de Machado é muito significativo — afirma o consultor político Osvaldo Ramírez. — Por vários motivos. Trata-se de um contexto onde as pessoas se sentem desligadas da política e do partido do governo. E interpretam que poderá haver uma renovação da liderança da oposição. A liderança tradicional da Plataforma Unitária está cobrando seu preço aqui. Os esforços de María Corina para se diferenciar deles valeram a pena.

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Oito em cada dez venezuelanos, segundo Ramírez, querem mudanças políticas. Embora organizado e presente em todo o país, o chavismo é hoje um movimento em queda. A estagnação econômica deste ano colocou Nicolás Maduro num momento particularmente crítico de aceitação.

Já a fundadora do partido Vem Venezuela é recebida com euforia pelas vilas e cidades que visita, apesar de se saber que está formalmente inabilitada para participar nas eleições presidenciais, assim como Capriles, graças a uma medida administrativa do governo Chavista.

Sem discutir os motivos ou a validade da inabilitação, Diosdado Cabello afirmou diversas vezes que será impossível a Machado se inscrever como candidato e afirma que ela “engana seus seguidores”.

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O presidente do Conselho Nacional Eleitoral do país, Elvis Amoroso, autor das inabilitações, decidiu dar uma resposta tardia ao pedido de colaboração técnica feito pela Comissão Eleitoral Primária há dois meses, feita à antiga liderança do órgão eleitoral.

Alguns partidos da oposição propõem um acordo com o CNE, mas a desqualificação de Machado e Capriles parece ser um critério imutável no chavismo. A resposta de Amoroso sugere que o chavismo vem manobrando com sucesso mais uma vez para dividir seus adversários.

A própria organização das primárias é objeto de um duro cerco político e institucional. Todas as quartas-feiras, no seu programa de TV, Cabello faz críticas ao processo, questionando as divergências internas dos seus organizadores e até a origem do financiamento do pleito da oposição. Ele pediu, inclusive, que José María Casal, presidente da Comissão Eleitoral das Primárias, seja investigado.

María Carolina Uzcátegui, principal membro da comissão, não só renunciou, mas agora realiza uma campanha na qual afirma que as exigências logísticas não foram atendidas e que a consulta não é mais viável.

A Plataforma Unitária emitiu um comunicado no qual denuncia “o plano que Nicolás Maduro, através de diferentes porta-vozes, empreendeu contra o direito do povo venezuelano de escolher o seu candidato através de eleições democráticas”.