Internacional

Lula e Zelensky discutem 'construção da paz' no primeiro encontro desde início de guerra na Ucrânia

Segundo chanceler ucraniano, bilateral 'quebrou o gelo' entre os dois países; Lula descreve reunião como 'boa conversa' e Zelensky como 'construtiva' e 'honesta'

Agência O Globo - 20/09/2023

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o líder da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, mantiveram às 17h05 (horário de BSB) desta quarta-feira sua tão esperada primeira reunião bilateral, após meses de um vai e vem de declarações de Lula sobre a invasão da Rússia que desataram reações do governo ucraniano e atraíram críticas dos EUA e da União Europeia.

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Não houve declaração à imprensa após o encontro de pouco mais de uma hora, mas os dois presidentes se manifestaram nas redes sociais. Eles mencionaram que esforços para a busca da paz foram tema da reunião, que Lula descreveu como uma “boa conversa” e Zelensky como “construtiva” e “honesta”.

Os presidentes também prometeram manter contatos futuros, afirmaram autoridades dos dois países após a bilateral, que ocorreu às margens da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Horas após o encontro, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, afirmou que Lula designou o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, para participar de quaisquer reuniões relativas ao conflito na Ucrânia — Amorim já se reuniu neste ano com Putin em Moscou e com Zelensky em Kiev.

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“Na sequência da nossa discussão honesta e construtiva, nós instruímos nossas equipes diplomáticas a trabalhar nos próximos passos na nossa relação bilateral e nos esforços de paz”, afirmou o presidente ucraniano em uma publicação na rede social X (antigo Twitter), em que compartilhou um vídeo do encontro (veja abaixo).

Na mesma rede, o presidente Lula escreveu que foi uma “boa conversa sobre a importância dos caminhos para construção da paz e de mantermos sempre o diálogo aberto entre nossos países”.

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Desde que assumiu o poder, em janeiro, Lula buscou posicionar o Brasil como um árbitro independente do conflito, apresentando-se como alguém que poderia mediar negociações de paz. Mas alguns de seus comentários, como afirmar que Ucrânia e EUA compartilhavam a responsabilidade pela escalada do conflito, incomodou tanto Kiev quanto Washington, gerando ceticismo sobre sua neutralidade.

'Quebrou o gelo'

O ministro de Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, afirmou que a bilateral foi um "momento importante", enquanto Zelensky busca angariar apoio do chamado Sul Global para seus esforços contra a invasão da Ucrânia, que já dura 18 meses.

Falando a repórteres em Nova York depois do encontro, Kuleba disse que usaria um termo não diplomático para descrever a reunião, afirmando que ela "quebrou o gelo" das relações entre os dois países.

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— Não que houvesse gelo em nossas relações, mas o encontro foi muito caloroso e honesto. Acho que agora os dois presidentes entendem bem melhor a posição um do outro — declarou Kuleba, antes de acidentalmente se referir a Lula como "presidente [Vladimir] Putin".

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Zelensky chegou ao hotel de Lula por uma saída interna sem falar com a imprensa, acompanhado, além de Kuleba, pelo chefe de Gabinete Andriy Yermak e por assessores de política externa. Do lado brasileiro participaram, além de Vieira e Amorim, Paulo Pimenta, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, e o senador jaques Wagner (PT-BA).

Na saída, Vieira descreveu a conversa como "tranquila" e "amigável".

— O presidente Lula e o presidente Zelensky tiveram uma longa discussão em um ambiente tranquilo e amigável, em que trocaram informações sobre os países e a situação do mundo neste momento. Instruíram também suas equipes, os seus ministros do exterior a continuarem em contato para desenvolver as relações bilaterais e discutir possibilidades de paz — disse Vieira.

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O chanceler não respondeu se a Rússia entrou em contato com o Brasil em Nova York, apenas afirmando que os canais de comunicação entre os dois países continuam abertos, e que Lula está disposto a se encontrar com Putin, como já fez no passado.

— O presidente está interessado em ouvir ambos os lados para achar um ponto comum e iniciar o processo de paz — acrescentou Vieira, que pode se reunir com o chanceler russo, Serguei Lavrov, nesta quinta-feira em Nova York.

Fim dos desencontros

A bilateral foi um das mais esperadas desta semana, depois de tentativas frustradas de reunir os dois líderes. Também ocorreu horas depois de Lula se encontrar com o presidente dos EUA, Joe Biden, que exortou os líderes mundiais a apoiar a Ucrânia e Zelensky durante seu discurso na Assembleia, na terça-feira.

Em março, Lula e Zelensky haviam conversado pela primeira vez por videoconferência. Eles também se sentaram frente a frente em uma das reuniões estendidas do G7, em Hiroshima, no Japão, em maio — e ao contrário de outros líderes, Lula não se levantou para cumprimentar o ucraniano no início do encontro.

Na ocasião, houve a tentativa de viabilizar uma bilateral que não aconteceu, gerando mal-estar e um conflito de versões entre as chancelarias dos dois países. Após o desencontro, Zelensky chegou a declarar que "definitivamente não foi por nossa causa" que a reunião não aconteceu.

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Lula frequentemente manifestou ceticismo em relação à ajuda militar ocidental à Ucrânia e adotou uma posição mais branda em relação a seu homólogo russo, Vladimir Putin.

Neste mês, ele disse que Putin não seria preso se viajasse ao Brasil para a cúpula do G20 no ano que vem, apesar de haver um mandado de prisão contra o líder russo no âmbito do Tribunal Penal Internacional, do qual o Brasil é signatário. Mais tarde, porém, ele recuou dos comentários, dizendo que a decisão sobre a prisão cabia à Justiça brasileira. (com Bloomberg e colaboração de Natasha Madov, de Nova York)