Internacional
Embaixador russo fica olhando celular durante fala de Zelensky no Conselho de Segurança da ONU: 'espetáculo'
Delegação russa questionou o fato do presidente ucraniano abrir os discursos mesmo o país não fazendo parte dos membros do grupo
O Conselho de Segurança da ONU se reuniu nesta quarta-feira, às margens da Assembleia Geral em Nova York, para discutir a guerra na Ucrânia na presença do seu presidente, Volodymyr Zelensky, e do embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya — tornando este o encontro de mais alto nível diplomático desde o início do conflito. Mas o encontro foi marcado por tensões logo no início. Nebenzya questionou o presidente rotativo da cúpula, o primeiro-ministro da Albânia, Edi Rama, por permitir que Zelensky fosse o primeiro a falar, afirmando que ele transformaria o espaço em um "espetáculo".
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Durante o discurso do ucraniano, o diplomata russo foi flagrado diversas vezes mexendo no celular. A expectativa era que o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, estivesse presente desde o início, mas ele só apareceu depois, próximo ao horário em que a Rússia discursaria — adiando mais uma vez o aguardado encontro com Zelensky, que deixou o salão ao terminar sua fala.
— Baseado em que o senhor propõe que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, discurse antes dos membros do Conselho de Segurança? — disparou o embaixador russo. — A sua decisão está violando práticas existentes no Conselho de Segurança e está sendo estabelecida em benefício de uma delegação que continua contando com o apoio do Ocidente para que as regras não se apliquem a eles. Tudo é permissível.
Em um tom duro, Rama disse que a ordem já havia sido compartilhada previamente e mencionou o trecho de uma norma que afirma que "quando não membros são convidados a falar no Conselho de Segurança, aqueles com interesse direto no resultado do assunto em consideração devem falar antes dos membros do Conselho, se apropriado".
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Mas Vasily Nebenzya não se deu por satisfeito e disse que a decisão prejudica a credibilidade do Conselho de Segurança. Segundo ele, o espaço está sendo transformado no "stand-up show de um homem só". Antes de se tornar presidente, Zelensky fez carreira como comediante.
— O encontro de hoje não passará de um espetáculo — afirmou o diplomata russo.
Após uma rodada de bate-boca entre Nebenzya e o primeiro-ministro albanês, a sessão foi aberta seguindo a ordem prevista. O primeiro a falar foi o secretário-geral da ONU, António Guterres, que reconheceu o enfraquecimento dos mecanismos do multilateralismo com o acirramento das tensões geopolíticas. Durante o discurso, Guterres destacou também as consequências humanitárias provocadas pelo conflito.
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— A invasão russa da Ucrânia é uma violação à Carta da ONU e ao direito internacional , está agravando as tensões e divisões geopolíticas, criando instabilidades regionais, aumentando as ameaças nucleares e criando blocos no nosso mundo cada vez mais multipolar — afirmou Guterres, acrescentando: — Tudo isso no momento em que a cooperação e o compromisso por soluções multilaterais são mais necessárias do que nunca, dos desafios tecnológicos, da crise climática e dos níveis de desigualdade sem precedentes.
Zelensky falou na sequência, questionando o fato de a Rússia continuar como membro-permanente da Conselho de Segurança, ao lado de China, Estados Unidos, França e Reino Unido. Para ele, o poder de veto de Moscou no grupo deveria ser revogado pela Assembleia Geral.
— Desde o início da agressão em larga escala lançada pelo Estado que, por alguma razão, ainda está presente aqui entre os membros-permanentes do Conselho de Segurança, já se passam 474 dias de dores, perdas e luta — declarou Zelensky na abertura do discurso. — É impossível parar a guerra se todas as ações são vetadas pelo agressor.
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Enquanto o líder ucraniano falava, o embaixador russo Vasily Nebenzya mexeu quase o tempo inteiro no celular. O mesmo comportamento foi visto quando o primeiro-ministro da Albânia prosseguiu Zelensky, em que adaptou o famoso poema do alemão Bertolt Brecht, "É preciso agir", para defender que a guerra deveria ser "um assunto de todos".
— Um conflito no coração da Europa não pode ser um problema apenas da Europa (...). Cínicos podem achar que a Ucrânia é apenas um problema que caiu no colo do Ocidente democrático para lidar, e eles ainda murmuram que "tudo o que vai, volta"; que isso é um troco pelo que já aconteceu antes, em outros lugares e em outro momento. Eu convido todos a pensarem duas vezes. Essa guerra de agressão deve ser um assunto de todos — disse Rama, antes de recitar a poesia trocando trechos em referência a regiões anexadas pela Rússia.
Apenas próximo ao final da sessão que a delegação russa discursou, representada pelo chanceler Lavrov. O ministro culpou o Ocidente pela invasão e reforçou a narrativa de que Kiev seria um fantoche dos Estados Unidos. Lavrov também acusou os Estados Unidos de usar as Nações Unidas para acusar os países "que, por um motivo ou outro, são inconvenientes para Washington".
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