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A gulosa do Santos Dumont

Carlito Lima 10/09/2023
A gulosa do Santos Dumont
Carlito Lima - Foto: Assessoria

O casal sentou-se diante da promotora e da juíza, cada qual com seu advogado. Ele, magro, moreno, cabelos pretos, aparentando 30 anos e tristeza no rosto. Ela, branca, rosto redondo, meio gorda, cabelos pretos ondulados, aparência de 40 anos. A juíza, sem perda de tempo, perguntou.

- O que resolveram na audiência de conciliação?

- Senhora Juíza, resolvemos pelo divórcio, a papelada foi preparada; mas, agora, ela deu para trás e se recusa a assinar. Eu quero me separar. Não aguento olhar a cara, nem ouvir a voz dessa mulher. Respondeu Manezinho.

- Dona Juíza, ele está afobado, precipitado. Eu o trato bem, com carinho, com amor, agora ele vem dizendo essa história de separação. É a mãe dele que bota na cabeça, ele é fraco, dominado pela mãe. Disse calmamente Alzira.

- Quero conversar com cada um separadamente. Dona Alzira saia por favor. Sr. Manoel da Silva, qual o motivo de desejar o divórcio?

- Dra. Juíza, vou contar a história desde que conheci essa maluca. Há dois anos eu vivia bem com minha mãe numa casa no bairro Santos Dumont. Solteiro, trabalhava de encanador e eletricista, fiz curso do SENAC, sou conhecido na região, não falta trabalho. Coloquei uma placa na fachada de minha casa. Numa noite recebi um telefonema pedindo para socorrer com urgência um vazamento numa banheira. Peguei minha moto e fui bater numa bonita casa em um sítio perto. Falei para a mulher que o conserto exigia a retirada da banheira, eu precisaria da ajuda de um pedreiro. No dia seguinte terminei o serviço à tardinha, era sábado. Dona Alzira me pagou o serviço e convidou-me para tomar uma cervejinha, ficamos conversando, bebendo e comendo até mais tarde. Já era noite quando ela dispensou a empregada, passou a chave na porta, retornou e foi me abraçando. A mulher parecia que tinha o cão dentro do corpo, me levou para o quarto. Dormi com ela, fazendo amor toda a noite. Na manhã seguinte me acordei cansado, ela exigiu mais. A partir daquele dia minha vida mudou. A gulosa vivia comendo e me arrastando para cama a todo o momento. Dizia que os pais eram ricos negociantes de Arapiraca, ela morava sozinha em Maceió para estudar. Matriculou-se numa Escola de Enfermagem que pouco frequentava. Não vou mentir, eu estava gostando daquela vida, o único problema era aguentar ir para cama em momentos inimagináveis. Mulher insaciável, gulosa na mesa e na cama. Passei mais de seis meses com a Alzira naquela vida, ela me agradava com presente. Ciumenta não queria que eu trabalhasse, nem que eu tivesse amigos e o absurdo de não visitar minha mãe. Alzira, um dia me deu um carro Honda de segunda mão. Acontece que eu não estava aguentando aquela vida de ciumeira e exigências. Abusado, pensei em acabar aquele namoro quando ela trouxe a notícia, estava grávida. Queria casar de qualquer maneira ou o pai mandaria me queimar. Fiquei sem saber o que fazer, conversei com minha mãe. Embora não gostasse de Alzira, ela ficou feliz na expectativa de ter um neto. Caí na besteira e casei. Durante a gravidez ela me encheu a paciência, mesmo naquela situação queria cama o tempo todo de todos os modos. Afinal Euzebinho nasceu, ela colocou o nome do pai, Euzébio, sem me consultar. Depois que o menino nasceu piorou o inferno. A mulher me tratava aos gritos. Me chamando de fraco, exigindo cama. Ela entregou o Euzebinho aos pais e continuou vivendo como solteira, e dessa vez pegando homem na rua. Não aguentei, fui morar com minha mãe. Alzira me procura quase todos os dias para eu voltar, entra em meu quarto me abraçando. Não suporto ver, sentir o cheiro, ouvir essa mulher. Consultei a um advogado, ele me aconselhou a me divorciar, por isso estou aqui, senhora juíza, obrigue essa mulher assinar os documentos, por favor, eu imploro.

A juíza dispensou o Manezinho e juntamente com a promotora ouviu Alzira que contou uma versão romântica, acusando Manezinho de frouxo, manobrado pela mãe. Apresentou uma enorme lista de presentes que deu desde que o conheceu. A lista começava com carro Honda, 12 camisas Richards, 2 camisas Aviator, 8 camisas Overende, 3 calças Brumer, 2 calças Hombre, 2 pares de tênis Reebok, continuava com inúmeros e pequenos mimos.

Depois do intervalo a juíza reuniu o casal novamente, entregou a Manezinho a extensa lista de presentes com as datas e informou que Dona Alzira assinaria se ele devolvesse aqueles mimos. Manezinho sorriu e prontamente informou.

- Está tudo dentro do carro, até as cuecas velhas eu lavei. Só os perfumes que ela colocava em minhas partes íntimas para cheirar, acabaram-se.

A juíza sentindo o desespero de um homem. Falou à Dona Alzira.

- Duas pessoas não podem viver juntos se uma não quer, assine esse divórcio, minha senhora. Para o bem do casal.

Alzira assinou as três vias e entregou-as à juíza. Quando Manezinho leu o documento assinado, sorriu, olhou para Alzira, chamou-a de bruxa tarada. Saiu do Fórum correndo e gritando.

- Estou livre! Estou livre! Estou livre! -Entrou no primeiro botequim.