Internacional
O Wagner vai acabar? Entenda os principais desafios para a sobrevivência do grupo após a morte de Prigojin
Analistas acreditam que substituto do líder paramilitar deverá ser apontado pelo Kremlin e nome deve ter ligações com o serviço secreto russo
No dia seguinte da queda do avião onde autoridades russas dizem que o líder do Wagner, Yevgeny Prigojin, e outras nove pessoas — entre elas pelo menos duas outras figuras centrais para as operações do grupo — muitas dúvidas sobre o incidente permanecem no ar. Uma das poucas certezas possíveis no momento, para muitos especialistas, é que o Wagner já não é o mesmo nesta quinta-feira, embora possa sobreviver e se reinventar.
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Analistas dizem que o futuro do grupo, que tem ramificações influentes em regiões da África e Oriente Médio — e teve papel central na ofensiva russa na Ucrânia — vai depender de reposição da capacidade de financiamento e do apetite do Kremlin em apontar novas lideranças fiéis ao presidente russo, Vladimir Putin.
Entenda os principais desafios para a sobrevivência do Grupo Wagner:
Quem vai liderar o grupo?
Vladimir Osechkin, do grupo de defesa dos direitos humanos russo Gulagu.net disse ao Washington Post que os integrantes do Wagner com que ele entrou em contato estavam em estado de choque. Segundo ele, os comandantes do grupo não sabem o que fazer e o que dizer aos seus combatentes.
— Tudo era centralizado em Prigojin e suas conexões — declarou. O ativista também contou ter conversado com fontes ligadas ao grupo que afirmaram ser incomum que tantas lideranças do Wagner voassem em um mesmo avião e que a informação que receberam é de que Prigojin e seus aliados acreditavam estar indo a um encontro sobre um “projeto importante” e que acreditavam “estar de acordo com Putin”.
Desde que as notícias sobre a possível morte de Prigojin começaram a circular, surgiram especulações sobre quem poderia assumir seu lugar. O jornalista Benoît Bringer, autor do documentário “A ascensão do Wagner” (“The rise of Wagner", em inglês), disse à rede britânica BBC que um dos principais candidatos seria o general ligado ao serviço secreto russo (GRU), Andrey Averyanov.
— É provavel que Putin precisasse de tempo para organizar secretamente a transição. Isso poderia explicar porque ele esperou dois meses para se livrar de Prigojin — tambem opinou o documentarista, lembrado o tempo decorrido desde a rebelião frustrada de mercenários liderados por Prigojin contra altas autoridades de Moscou, em junho.
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O jornal britânico Guardian também ouviu analistas sobre a futura liderança do Wagner, para quem parece certo que qualquer nome terá que passar pelo crivo do Kremlin.
Ruslan Trad, analista de segurança do Atlantic Council ouvido pela BBC concorda que o substituto de Prigojin deve vir das fileiras dos serviços de inteligência russos. Mas o especialista vê um desafio para Putin por trás desta escolha: encontrar alguém com condições de financiar o grupo e, ao mesmo tempo, não produzir uma ameaça ao regime de Moscou.
O que acontece com o Wagner na Ucrânia e Bielorrússia?
Desde o motim fracassado que levou as tropas lideradas por Prigojin — e que lutavam na Ucrânia desde o início da invasão, no ano passado — a marcharem em direção a Moscou, o Wagner saiu da linha de frente no teatro de guerra ucraniano. De acordo com analistas, o impacto de qualquer instabilidade do grupo provocada pela falta de uma liderança máxima nos combates na Ucrânia deverá ser mínimo.
Após a fracassada rebelião de junho, em torno de 8 mil mercenários do Wagner foram deslocados para a Bielorrússia, como parte do acordo fechado entre Putin e o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko. Nas últimas semanas, as Forças Armadas bielorrussas divulgaram fotos do que seriam combatentes do Wagner treinando junto a militares do país. No entanto, há informações de que centenas já deixaram a Bielorrússia, alguns desistindo por estarem insatisfeitos com os baixos salários e outros buscando se reposicionar nas frentes em países africanos, segundo o Guardian. O destino dos que ficaram permanece incerto.
3 - Como fica o papel do grupo na África?
Analistas militares acreditam que as consequências da morte dos principais líderes do grupo não devem alterar as atividades dos paramilitares no terreno, pela natureza descentralizada das operações. Mesmo assim, alguns especialistas destacam o papel central das relações de Prigojin com governos e setores dominantes em países onde a influência russa ofuscou a de outras potências, como França e Estados Unidos.
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O braço do grupo no continente africano se fez presente com força especialmente na África Ocidental, onde ocorreram seis golpes de Estado nos últimos anos, sendo o mais recente o no Níger. Em todos, um mesmo roteiro se repetiu, com governos pró-ocidente sendo substituídos por militares mais amigáveis a Moscou. Uma das últimas imagens conhecidas de Prigojin foi um vídeo divulgado em mídias sociais, na segunda-feira, em que ele sugere estar no continente africano. Durante a cúpula Rússia-África, em São Petersburgo, no fim de julho, o líder mercenário foi fotografado em encontros com autoridades.
Logo depois do motim de junho, o Kremlin mandou representantes para alguns países africanos, segundo fontes do governo americano ouvidas por jornais internacionais. A intenção era assegurar os líderes africanos de que o Wagner manteria suas operações — em várias áreas, que vão da infraestrutura aos serviços de segurança e defesa — independentemente do destino de Prigojin. Ruslan Trad, na mesma entrevista à BBC, disse acreditar que o Wagner está tão entranhado nas estruturas de defesa de vários países africanos que o mais provável é que continue a operar sem muita dificuldade. E prevê o mesmo para o Oriente médio.
— Os comandantes na Síria, ou na República Centro-Africana ou no Mali, já tem modelos muito bem implementados e tem liberdade para agir — explica.
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