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De cozinheiro a líder paramilitar: relembre a trajetória de Prigojin em cinco imagens

Chefe do grupo Wagner estava entre os passageiros do avião que caiu nesta quarta-feira

Agência O Globo - 24/08/2023
De cozinheiro a líder paramilitar: relembre a trajetória de Prigojin em cinco imagens

O líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigojin, era um dos passageiros de um avião que caiu nesta quarta-feira, matando todos que estavam na aeronave: três tripulantes e sete passageiros. De acordo com a imprensa russa, todos estavam em um jato da Embraer, modelo Legacy, que voava de Moscou para São Petersburgo

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Nascido em São Petersburgo, perdeu o pai ainda jovem e passou a realizar assaltos no fim dos anos 1980, ainda na era soviética, tendo sido preso pela prática e condenado a 13 anos de prisão, segundo o jornal The Guardian. Prigojin, então, abriu uma barraquinha de cachorro-quente e deslanchou no setor, até adquirir participações em uma rede de supermercados. Em 1995, ele começa a abrir restaurantes próprios, o que lhe permitiu conhecer políticos e agentes da inteligência da Rússia.

A partir de então, aproximou-se cada vez mais dos escalões superiores do Kremlin por meio do seu serviço de buffet, tendo se popularizado como o “chefe de cozinha do Putin”.

Cozinheiro milionário

Prigojin aproveitou a desintegração turbulenta da União Soviética para migrar para a gastronomia de alto nível para a nova elite russa — nela estava Vladimir Putin, que começava a subir no governo de São Petersburgo. O político e ex-agente da KGB tornou-se um de seus principais apoiadores. Uma vez no cargo de presidente, Putin levou o então primeiro-ministro do Japão, Yoshiro Mori, e o presidente dos Estados Unidos na época, George W. Bush, para jantar no luxuoso restaurante flutuante de Prigojin às margens do Rio Neva.

Em 2003, Prigojin providenciou o bufê para o aniversário do líder russo. Daí o apelido (irônico) “chef de Putin”. Desde então, o magnata não esteve longe do Kremlin. E, como é seu padrão usual, se deu bem. Ele se tornou um dos homens mais ricos do país. A Concord Catering e suas outras empresas conquistaram gordos contratos estatais para fornecer serviços a bases militares e alimentar soldados russos, além de instituições, hospitais e escolas.

Seu principal escândalo em solo russo nasceu de uma dessas concorrências públicas — e fonte de seus inúmeros processos judiciais — quando, depois que 130 crianças em idade escolar adoeceram com disenteria, um grupo de pais processou o governo de Moscou e empresas de alimentação vinculadas a Prigojin.

Origem do Wagner

Antes de ser um dos principais alvos dos ataques russos na Ucrânia, a região do Donbass, no Leste da Ucrânia, foi palco do nascimento do grupo de mercenários Wagner, em 2014. Em uma publicação nas redes sociais de sua empresa Concord, no ano passado, Prigojin afirmou que fundou o grupo para enviar combatentes à região, onde separatistas pró-Moscou atuam desde 2014, após a queda em Kiev de um governo aliado da Rússia.

O Grupo Wagner, cuja presença foi documentada nos últimos nove anos em Ucrânia, Síria, Líbia e em áreas de conflito na República Centro-Africana e no Mali, é considerado um exército secreto de Putin. Além de promover os interesses do Kremlin, o grupo também mobiliza mercenários ao redor do mundo. O presidente russo sempre negou que o grupo trabalhe para o Kremlin.

Entre as acusações contra Prigojin está a de comandar a "fábrica de trolls" que interferiu nas eleições presidenciais americanas de 2016, vencidas pelo republicano Donald Trump. Ele também é alvo de sanções do governo dos Estados Unidos, que impuseram o bloqueio de qualquer ativo do empresário em seu sistema financeiro.

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Em dezembro de 2016, o empresário foi recebido no Kremlin em uma cerimônia de homenagem aos "heróis" da Síria e posou para fotos com Putin. As operações do Grupo Wagner são repletas de escândalos, tensões diplomáticas e acusações de abusos, em particular na Síria e na República Centro-Africana.

Bakhmut e a participação na Guerra da Ucrânia

Em maio de 2023, já no cargo de chefe do grupo paramilitar Wagner, Prigojin liderou as tropas que, segundo ele, entre outras conquistas, capturaram Bakhmut, no leste da Ucrânia, cidade que foi palco de combates durante meses. Segundo Prigojin, o grupo Wagner, em seguida, retiraria seus integrantes da cidade, deixando a defesa do município nas mãos do exército russo, ficando à sua disposição para futuras operações em Moscou.

As desavenças com o governo russo, porém, começaram a ficar mais intensas no mês seguinte, quando, em nome do Wagner, ele negou um pedido do Ministério da Defesa da Rússia exigindo que seus mercenários assinassem um contrato formal com o Kremlin até 1º de julho.

Durante meses, Prigojin criticou publicamente o ministro Sergei Shoigu e a liderança militar da Rússia, classificando-os como burocratas incompetentes que estão arruinando as operações na Ucrânia. Na ocasião, o vice-ministro da Defesa, Nikolai Pankov, chegou a anunciar que as mais de 40 “formações voluntárias” que lutam na Ucrânia fora das forças armadas russas regulares seriam obrigadas a assinar contratos com o Ministério para assumir status legal formal.

Durante a guerra, Prigojin aumentou sua popularidade e seu poder de barganha com uma atitude que, a muitas vistas, poderia parecer suicida, de confronto direto às autoridades russas. O papel no campo de batalha, contudo, garantia-lhe a paciência, e por vezes a aquiescência, do Kremlin, principalmente por fazer os trabalhos mais indesejáveis.

Rebelião

A relação do grupo com o governo não foi suficiente para impedir atritos entre os mercenários e a cúpula militar em Moscou. Ao longo da invasão na Ucrânia, Prigojin entrou em confrontações públicas com o comando militar, alegando falta de apoio no campo de batalha e ausência de repasse de munições e suprimentos.

A influência do grupo sobre a ofensiva russa pareceu atingir o pico no final do ano passado, quando Prigojin atacou publicamente os nomeados do Kremlin na Rússia e influenciou na escolha do general que comandou a invasão por meses — Sergei Surovikin, um general de alto escalão com experiência na Síria e visto como um aliado. Atualmente, o comando é ocupado por Serguei Shoigu, desafeto de Prigojin.

O Kremlin tolerou a oposição interna de Prigojin enquanto ele permanecia combatendo, mesmo com análises internas apontando que ele estaria tentando transformar sua projeção em influência política. Em declarações públicas, Vladimir Putin classificou o motim de Prigojin como “uma punhalada nas costas" do país e do povo, prometendo "ações decisivas”, enquanto autoridades russas acusaram o paramilitar de “organizar uma rebelião armada”.

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No fim de junho, antes do cessar-fogo do grupo, o procurador-geral do país anunciou que Prigojin estava sendo investigado por acusações que acarretavam pena máxima de 20 anos de prisão. A TASS, agência de notícias estatal russa, informou que ele havia sido acusado.

Queda de avião

A Agência Federal de Transporte Aéreo da Rússia publicou os nomes de todos os passageiros e membros da tripulação que estavam a bordo do avião da Embraer que caiu na região de Tver nesta quarta-feira, entre eles o de Prigojin. Outros passageiros eram Sergey Propustin, Yevgeny Makaryan, Alexander Totmin, Valery Chekalov e Nikolay Matyuseyev e Dmitry Utkin. Este último, comandante e cofundador do Wagner.

"O voo do jato Embraer-135 (EBM-135BJ) foi realizado de acordo com uma licença de voo emitida na devida ordem", disse a Agência Federal de Transporte Aéreo.