Esportes
Entrevista: 'Sou atleta, mãe, mulher... Sou muitas coisas', diz Shelly-Ann Fraser-Pryce, que fez retorno triunfal após maternidade
Bicampeã se coloca como exemplo para a nova geração e quer superar marcas aos 36 anos

Você pode escolher por qual grande feito começar a falar da jamaicana Shelly-Ann Fraser-Pryce, uma das maiores velocistas de todos os tempos, já que são oito medalhas olímpicas — três de ouro— e dez títulos mundiais no currículo. Só nos 100m, são dois ouros olímpicos: Pequim-2008 e Londres-2012. E, 15 anos após os Jogos na China, ela segue favorita nos 100m e 200m no Mundial de Atletismo e nos Jogos de Paris.
Mas é o título de mãe que mais orgulha Shelly-Ann atualmente. Não só pelo amor por Zyon, nascido em 2017. Também porque ela voltou da maternidade em nível ainda mais alto. Com 10s60, cravou o terceiro melhor tempo da História quando a criança tinha quatro anos. Dois anos antes, foi a primeira mãe campeã mundial dos 100m, feito que repetiu em 2022 — e pelo qual foi condecorada a melhor esportista do ano pelo prêmio Laureus. Na Hungria, pouco antes da cria soprar a sexta velinha, ela quer o tri como mãe, o hexa da prova na carreira. No domingo, ela correu 11s01 nas eliminatórias. Nesta segunda-feira, disputará a semi e, se avançar, a final, a partir das 15h35 (horário de Brasília), no SporTV 2.
No início do ano, viralizou um vídeo seu correndo contra outras mães numa gincana na escola do seu filho (assista abaixo). Como foi?
(Risos) Foi muito divertido. Era Dia do Esporte, e por conta de competições e da pandemia da Covid, não pude estar em nenhum evento desses em outros anos. Então, foi muito importante para mim, porque eu apareço para todo mundo como uma atleta. Essa foi a hora de aparecer como mãe, e meu filho estava animado. Claro que ele já tinha me visto competir, mas estar na escola dele, com seus colegas, foi muito empolgante. Eu não estava planejando correr, na verdade, mas já que estava lá, né? Foi a corrida mais fácil de que já participei (risos). As mães diziam que iam me vencer, e eu respondia: “OK, sem problemas. Vamos ver”. Foi muito bom.
Zyon curtiu ou teve vergonha da mãe? Acha importante essa integração entre o esporte e a escola?
É importante, claro. Eu ia me sentir mal se fosse até lá e não competisse. Tinham várias crianças, e todas estavam esperando me ver correr, já que muitos nunca puderam ir a um estádio me ver em uma grande prova. Então, eles ficaram orgulhosos, repetindo: “A gente viu a Shelly-Ann correr!”. Amo ser mãe e atleta. E amo quando crianças têm a oportunidade de ver a gente na vida real. Você nunca sabe quem você está inspirando. Foi um privilégio ver os olhares nos rostos das crianças depois que cruzei a linha de chegada. Ficaram pedindo fotos. E é curioso, porque eles me veem todo dia, mas só como mãe, porque sempre deixo meus filhos na escola. Depois disso, sempre que vou eles olham para mim com um sorriso falando: “Oi, Shelly-Ann”. É fofo.
Como atleta, é importante para você essa volta após a maternidade? É uma luta sua?
As pessoas adoram colocar limites em nós como mulheres. Eu tive meu filho e voltei porque pensei: “Quero fazer isso”. Não há limites quando você acredita. Quero inspirar a nova geração de mulheres. Nós não temos medo. Sou atleta, mãe, mulher... Sou muitas coisas! E o nascimento do meu filho me ajudou a perceber isso. Eu posso ser muitas coisas, e hoje aproveito mais cada uma delas.
Você corre em um nível muito alto. Não teve receio de não voltar à melhor forma?
Quando tive meu filho, fiquei nervosa, porque não é algo comum. Não são muitas atletas que têm filho e voltam. Para mim, era uma motivação, porque eu sempre soube que queria voltar.
2022 foi o grande momento?
Sim, acho que 2022 basicamente ofuscou tudo o que fiz antes, porque é algo com que sonhei e pelo qual trabalhei toda a minha carreira. Você sabe que tem a capacidade de executar 10s60. Como velocista, todo mundo quer correr rápido, e você quer quebrar recordes e ganhar medalhas. Para mim, tudo se resumia a consertar minha técnica e aprender ao longo do caminho, e foi algo que fiz no ano passado.
É possível correr abaixo disso aos 36 anos? Ou 37, em Paris?
Ainda não tenho 100 metros sólidos da maneira que sei que posso e estou trabalhando nisso. Se eu for capaz de consolidar essa técnica e ser precisa na forma como executo esses 100, sei que eles serão mais rápidos. Apesar de todas as conquistas, todo ano que começo, meu treinamento é como uma esponja. Tudo é novo. Absorvo o que meu treinador me passa e confio nisso. Reaprendo coisas que aprendi no passado e talvez consiga um resultado diferente porque ainda estou em busca dessa grandeza.
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