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Polônia prende bielorrusso suspeito de espionagem para Rússia

A prisão ocorre em meio a um aumento de tensões entre os dois países, com o recente envio de reforço de soldados poloneses à fronteira com a Bielorrússia

Agência O Globo - 04/08/2023
Polônia prende bielorrusso suspeito de espionagem para Rússia

A Polônia prendeu um bielorrusso suspeito de fazer parte de uma "rede de espionagem russa", anunciou nesta sexta-feira o ministro do Interior, Mariusz Kaminski, acrescentando que este homem é a 16ª pessoa presa em conexão com a suposta rede de espionagem. A prisão ocorre em meio a um aumento de tensões entre os dois países, com o envio de reforço de soldados poloneses à fronteira com a Bielorrússia, em resposta ao que Varsóvia diz ter sido uma invasão do seu espaço aéreo, e pelo deslocamento de forças mercenárias do Grupo Wagner, da Rússia, para a região.

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"O bielorrusso Mikhail A. participou do reconhecimento de instalações e portos militares. Também realizou atividades de propaganda para a Rússia", disse Kaminski na rede social Twitter, agora chamada X.

Kaminski havia anunciado na quinta-feira que a vigilância seria reforçada na fronteira oriental com o país.

A movimentação de militares poloneses ocorre também após o país e a Lituânia— que também integra a Otan — terem ameaçado construir barreiras físicas nas fronteiras bielorrussas devido ao temor de um ataque do Wagner. Após um motim fracasso em Moscou, o grupo moveu um grande contingente de paramilitares para o território da Bielorrússia como parte de um acordo com Minsk.

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Na terça-feira, o governo de Varsóvia disse que helicópteros bielorrussos invadiram o espaço aéreo do país durante um exercício militar previamente informado por Minsk. Apesar de o Ministério da Defesa bielorrusso ter negado a ocorrência de qualquer violação, o Ministério da Defesa polonês confirmou o envio de tropas adicionais e helicópteros de combate para a fronteira.

'Guerra híbrida'

Há menos de duas semanas, o presidente russo, Vladimir Putin, advertiu a Polônia de que trataria qualquer "agressão" à aliada Bielorrússia como um ataque ao seu próprio país. A declaração veio após o anúncio de Varsóvia de que haveria reforço na segurança de fronteira.

Autoridades polonesas alertaram anteriormente sobre o início de uma "nova fase de guerra híbrida" após o anúncio do acordo que permitiu a entrada de combatentes do Wagner na Bielorrússia. E também criticaram o auxílio do país vizinho a imigrantes que cruzam a fronteira, apontando o movimento como parte de um plano russo para atacar a Europa.

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Já Moscou vem levantando suspeitas sobre o papel de Varsóvia na guerra na Ucrânia, embora sem apresentar evidências concretas. O chefe do serviço de inteligência estrangeira da Rússia, Sergei Naryshkin, afirmou durante uma reunião que o país obteve informações de que a Polônia planeja assumir o controle das regiões ocidentais ucranianas como resultado de um "pacto de defesa mútua com a Ucrânia e a Lituânia”.

A tensão na região de fronteira entre a Rússia e os países que integram a aliança militar ocidental encabeçada pelos Estados Unidos — e criada no fim da Segunda Guerra Mundial para conter o avanço da influência da antiga União Soviética para o Ocidente — é especialmente sensível no chamado “corredor de Suwalki”, região entre a Polônia e a Lituânia.

Há décadas, a Otan busca meios de conter as pretensões russas neste que é um corredor estratégico — uma faixa de 65 quilômetros que liga o enclave russo de Kaliningrado, que fica entre os dois países, e a Bielorrússia. Após a invasão da Ucrânia, as sanções da União Europeia contra Moscou criaram impedimentos para o transporte de alguns produtos russos para Kaliningrado usando o corredor.

As fricções entre Moscou e a Otan foram amplificadas após o início do conflito na Ucrânia. A tentativa ucraniana de entrar na aliança militar ocidental é amplamente apontada pelo Kremlin como uma provocação que está entre as justificativas para a guerra, apresentada como parte de um plano do Ocidente contra os interesses de Moscou. Em abril, com a entrada da Finlândia na aliança militar ocidental, as fronteiras entre a Otan e a Rússia mais que dobraram em extensão. (Com AFP.)