Internacional

Rússia ataca porto ucraniano no rio Danúbio e anuncia exercícios militares no Mar Báltico

Última rota para a exportação marítima ucraniana após o rompimento de acordo no Mar Negro, ataques miraram instalações próximas à fronteira com a Romênia

Agência O Globo - 02/08/2023
Rússia ataca porto ucraniano no rio Danúbio e anuncia exercícios militares no Mar Báltico
Rússia ataca porto ucraniano no rio Danúbio e anuncia exercícios militares no Mar Báltico - Foto: Reprodução

A Rússia realizou um ataque com drones nesta quarta-feira contra um importante porto ucraniano no rio Danúbio, próximo à fronteira com a Romênia — e última rota de exportação marítima que restou para Kiev após a revogação do Acordo de Grãos e a tomada do Mar Negro pela Marinha russa em sequência. Horas depois, Moscou anunciou que dará início a exercícios militares no Mar Báltico, cercado por nações que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

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O recente ataque danificou instalações de armazenamento de grãos, um tanque de combustível e prédios administrativos na região de Odessa, no sudoeste da Ucrânia, informou a Promotoria do país nesta quarta. Autoridades do governo e do setor familiarizados com o assunto disseram à Bloomberg que os drones atingiram Izmail, um dos maiores terminais fluviais ucranianos.

"Os terroristas russos novamente estavam atacando portos, grãos e a segurança alimentar global", afirmou o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy no Telegram depois dos ataques. "O mundo precisa reagir. Quando os portos civis são alvos, quando os terroristas destroem deliberadamente até mesmo silos, isso é uma ameaça para todos em todos os continentes."

— O Danúbio é nossa porta de entrada marítima para a Europa e o mundo — afirmou Stanislav Zinchenko, CEO da GMK, think tank econômico com sede em Kiev, em uma entrevista. — Os portos fluviais são agora tão essenciais para a economia de exportação estrangulada da Ucrânia — disse ele, pontuando que o impacto de perdê-los é "difícil de calcular".

Maior rio da União Europeia em comprimento e volume, o Danúbio nasce na Floresta Negra da Alemanha e flui para o sudeste atravessando a Europa Central e Oriental. O curso da sua água conecta a Ucrânia ao mar e a outras oito nações europeias. Embora seus portos não fossem tão utilizados por Kiev antes da invasão russa, nos últimos meses eles foram responsáveis por um terço das exportações agrícolas ucranianas.

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Guerra naval

Moscou intensificou os ataques aos portos do Danúbio desde que saiu, há duas semanas, do Acordo de Grãos, que permitia a Ucrânia exportar commodities agrícolas pelo Mar Negro diante da ameaça de uma crise alimentar global no ano passado. Desde então, qualquer navio estrangeiro que se atrever a navegar pela região poderá ser considerado uma embarcação de guerra, ameaçou o Kremlin na época.

O presidente russo Vladimir Putin defendeu a saída do acordo do Mar Negro culpando os países ocidentais pela crise global de alimentos e acusando-os de "obstruir" as exportações agrícolas da Rússia com as sanções econômicas — apesar dos recordes nos volumes de trigo e da exportação de fertilizantes ter se recuperado aos níveis anteriores à guerra.

O conflito marítimo elevou o preço dos contratos futuros de trigo e de milho negociados no mercado global, atingindo especialmente nações em desenvolvimento na África e na Ásia. O presidente da Romênia, Klaus Iohannis, condenou os ataques como um "crime de guerra", dizendo que eles prejudicam o fornecimento de alimentos para os mais necessitados do mundo.

O ministro das Relações Exteriores da África do Sul, Naledi Pandor, disse na terça-feira que o país estava tentando persuadir a Rússia a voltar às negociações sobre o acordo. Seu homólogo japonês, Yoshimasa Hayashi, afirmou que o Japão "lamenta" o fim da iniciativa de grãos por parte da Rússia e espera trabalhar para que ela seja retomada.

Mas as tensões vem escalando rapidamente na costa sul da Ucrânia. Na manhã de terça-feira, o Ministério da Defesa da Rússia informou que dois de seus navios de patrulha — o Serhiy Kotov e o Vasily Bykov — foram atacados por drones navais ucranianos durante a noite. Segundo o Kremlin, os dispositivos foram interceptados a tempo.

Os militares ucranianos não comentaram a alegação russa. A Ucrânia tem uma frota cada vez maior de barcos de ataque não tripulados e tem repetidamente atacado navios de guerra russos. Kiev têm instado a comunidade internacional para acabar com o que chama de tirania russa no mar.

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Operações no Mar Báltico

A Rússia ainda anunciou nesta quarta que dará início a exercícios militares no Mar Báltico, cercado por membros da Otan: Alemanha, Polônia, Dinamarca, Estônia, Letônia, Lituânia, Finlândia e Suécia, cuja entrada na aliança militar está em processo final de aprovação. De acordo com o Kremlin, 50 navios e dezenas de aeronaves serão mobilizados.

"Os exercícios Sea Shield 2023 começaram no Mar Báltico", disse o Ministério da Defesa em comunicado divulgado no Telegram.

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Segundo o texto, os exercícios buscam "verificar a prontidão das forças navais para proteger os interesses nacionais da Rússia" em uma área de importância operacional. Ao todo, 30 navios de guerra, 20 navios de abastecimento, 30 aeronaves e 6 mil soldados serão enviados para a região.

Desde que a Rússia lançou sua ofensiva na Ucrânia, os países bálticos cerraram fileiras contra Moscou. No ano passado, Moscou perdeu gasodutos estratégicos no Mar Báltico que ligavam seu território à Alemanha após explosões de origem misteriosa. Em resposta, a Europa decidiu cortar sua dependência dos hidrocarbonetos russos para sancionar o país.