A capital da Rússia foi alvo de novos ataques de drones na madrugada desta terça-feira, o segundo em dois dias. De acordo com o Kremlin, os dispositivos foram neutralizados pelo sistema de defesa antiaéreo, mas um deles atingiu o edifício de um bairro comercial em Moscou sem deixar vítimas. Uma operação similar foi interceptada contra navios da Marinha russa no Mar Negro, onde as tensões vêm escalando desde a revogação do Acordo de Grãos no mês passado, que permitia exportações pela região.

O Ministério da Defesa russo classificou a ação como um ato terrorista, apesar de Moscou utilizar drones diariamente contra cidades ucranianas. Segundo o prefeito da capital, Sergei Sbyanin, o dispositivo atingiu o mesmo arranha-céu que havia sido alvo de ataques no último domingo.

"A fachada na altura do 21º ficou danificada, as janelas quebraram em uma área de 150 metros quadrados", informou Sbyanin no Telegram.

Os ataques desta terça são mais um de uma série de operações que tiveram como alvo o território russo — que por muito tempo não sentiu os efeitos da guerra contra o país vizinho. Só este ano, mais de 120 ataques de drones foram registrados na Rússia ou em áreas sob o seu controle, segundo um levantamento da rede britânica BBC.

— Depois do primeiro ataque, todos falaram: 'Não vão atacar o mesmo lugar duas vezes', mas esta manhã acordamos em estado de choque — relatou Anastasia Berseneva, 26 anos, moradora do bairro atingido pela explosão, em entrevista à AFP. — Não sei se vou mudar de endereço, mas acredito que sim.

Assim como nos ataques de domingo, o aeroporto internacional Vnukovo de Moscou foi fechado por alguns minutos, informou a agência estatal de notícias Tass. O Kremlin afirmou que outros dois drones foram destruídos pela defesa aérea na região de Moscou, nos distritos de Odintsóvo e Naro-Fominsk.

Em Belgorod, na fronteira com a Ucrânia, o governador anunciou que a área está novamente sob fogo de artilharia. Nos últimos meses, Kiev tem concentrando seus ataques nas regiões fronteiriças, incluindo também Bryansk, além da península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.

Moscou, localizada a quase 450 km de distância da divisa ucraniana, é um alvo recente. Em maio, uma ação com dispositivos não tripulados causou estragos a diversos edifícios na capital e outra chegou a atingir um prédio do Kremlin.

Embora a Ucrânia ainda não tenha reivindicado a autoria dos recentes ataques — e nem de todos que já foram contabilizados —, o presidente Volodymyr Zelensky já declarou anteriormente que as ações em áreas russas eram "inevitáveis, naturais e um processo absolutamente justo". No domingo, ele anunciou que "a guerra está voltando ao território da Rússia".

Logo após os últimos ataques, o conselheiro do presidente ucraniano, Mykhailo Podolyak, escreveu em seu perfil no Twitter que a Rússia verá "mais drones não identificados" atingirem o país. Segundo ele, a capital russa pode ir "se acostumando rapidamente com uma guerra completa que, por sua vez, em breve se deslocará finalmente para o território dos 'autores da guerra' para cobrar todas as suas dívidas".

Moscou também acusou Kiev de atacar com drones três embarcações russas no Mar Negro, incluindo uma para transporte de civis. Os dispositivos teriam sido lançados de navios ucranianos, que estão proibidos de trafegar na região após a Rússia tomar águas na esteira da revogação do Acordo de Grãos.

Em resposta, autoridades ucranianas declararam que o país não atacou e não atacará embarcações civis no Mar Negro.

— Sem dúvida, essas declarações de autoridades russas são fictícias e não contêm nem um pingo de verdade — disse o assessor de Zelensky à agência de notícias Reuters.

Podolyak, porém, não negou que o país tenha tido como alvo navios da Marinha de Moscou.