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Militares golpistas do Níger acusam França de querer 'intervir militarmente' no país e Alemanha se soma a países que cortaram ajuda

Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) deu ultimato aos golpistas e não descartou o uso da força para restabelecer a 'ordem constitucional'

Agência O Globo - 31/07/2023
Militares golpistas do Níger acusam França de querer 'intervir militarmente' no país e Alemanha se soma a países que cortaram ajuda

Os militares que deram um golpe no Níger, na semana passada, e derrubaram o presidente eleito Mohamed Bazoum, acusaram a França — que foi potência colonizadora e tem tropas no país — nesta segunda-feira, de querer "intervir militarmente". No domingo, líderes dos países da África Ocidental deram um ultimato aos golpistas e não descartaram o uso da força caso a ordem constitucional não seja restabelecida.

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A pressão contra os militares, que tomaram o poder em 26 de julho, é cada vez maior, tanto dos aliados ocidentais como de vizinhos africanos do Níger, um país que estratégico para a luta contra grupos extremistas que atuam na região do Sahel [compreendida entre o deserto do Saara e a savana do Sudão]

Bazoum está detido desde quarta-feira no palácio presidencial. Na sexta-feira, o general Abdourahamane Tiani, chefe da Guarda Presidencial, se autoproclamou o novo líder do país.

Tiani justificou o golpe pela "deterioração da situação de segurança" no país, devastado pela violência de grupos jihadistas como o Estado Islâmico e a Al-Qaeda.

França e Estados Unidos mantêm, respectivamente, 1.500 e 1.100 soldados mobilizados para participar do combate aos extremistas. Os militares que tomaram o poder concentraram as críticas na França, que expressou apoio ao presidente Bazoum.

"Na sua linha de conduta, em sua busca de formas e meios para intervir militarmente no Níger, a França, com a cumplicidade de alguns nigerinos, realizou uma reunião com o Estado-Maior da Guarda Nacional do Níger para obter as autorizações políticas e militares necessárias" para restabelecer Mohamed Bazoum em seu cargo, afirma um comunicado divulgado pela junta.

Em outra mensagem, os golpistas acusaram os "serviços de segurança" de uma "chancelaria ocidental" - sem identificar o país - de utilizarem gás lacrimogêneo, no domingo, em Niamei, a capital do país, contra pessoas que apoiavam a junta, em uma ação que deixou seis feridos. Cat

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'Catástrofe' econômica e social

O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou, no domingo, que ordenaria "represálias de maneira imediata" em caso de ataques contra cidadãos franceses ou contra os interesses do país no Níger.

Os líderes e representantes da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) anunciaram, também no domingo, um ultimato de uma semana à junta militar para restabelecer a "ordem constitucional" e não descartaram o uso da força caso isto não aconteça.

O organismo regional, do qual o Níger é membro, também decidiu suspender todas as transações comerciais e financeiras entre seus integrantes e Niamei, assim como congelar os bens das autoridades militares envolvidas no golpe.

O primeiro-ministro nigerino, Ouhoumoudou Mahamadou, declarou ao canal France24 que as sanções equivalem a uma “catástrofe" econômica e social.

A União Europeia (UE) advertiu, nesta segunda-feira, que os golpistas serão responsabilizados por "qualquer ataque contra civis, funcionários ou instalações diplomáticas". E a Alemanha anunciou a suspensão de cooperação e ajuda financeira a Niamei, dois dias depois do governo francês fazer o mesmo.

Em Moscou, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, pediu moderação e o "restabelecimento o mais rápido possível da legalidade no país".

Depois do Mali e de Burkina Faso, o Níger é o terceiro país da região a sofrer um golpe de Estado desde 2020. Com 20 milhões de habitantes, é uma das nações mais pobres do mundo, apesar de ser rico em reservas de urânio.