Internacional

França anuncia suspensão de ajuda orçamentária ao Níger após golpe de Estado

Estados Unidos e a União Europeia também manifestaram apoio ao presidente deposto e aumentaram a pressão sobre os militares golpistas

Agência O Globo - 29/07/2023
França anuncia suspensão de ajuda orçamentária ao Níger após golpe de Estado

A França suspendeu, neste sábado, toda a ajuda ao desenvolvimento e apoio orçamentário ao Níger após o golpe militar que derrubou, na quarta-feira, o presidente Mohamed Bazoum. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da França "pediu um retorno imediato à ordem constitucional no Níger", juntamente com o restabelecimento de Bazoum ao cargo, eleito democraticamente em 2021.

O presidente francês, Emmanuel Macron, presidirá um Conselho de Segurança Nacional e Defesa sobre o Níger neste sábado, onde 1.500 soldados franceses e mil militares americanos estão destacados atualmente.

Entrevista: Níger era 'último bastião ocidental' na África subsaariana, agora sob influência russa, diz especialista

Reação: Comando das Forças Armadas do Níger apoia golpe, enquanto comunidade internacional exige libertação imediata do presidente

Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) também manifestaram o seu apoio ao presidente deposto e aumentaram a pressão sobre os militares golpistas, a quem a União Africana (UA) exigiu neste sábado que restabeleça a ordem constitucional em até 15 dias.

Desde quarta-feira, militares mantêm Bazoum como refém em sua residência oficial em Niamei, a capital. Dois dias após o golpe, o general Abdourahamane Tiani, que comanda a Guarda Presidencial desde 2011, apareceu na TV estatal para se autodeclarar o novo líder do país. Tiani justificou o golpe afirmando que há uma "deterioração da situação de segurança" no país devido à violência de grupos jihadistas.

A União Africana (UA) e a União Europeia (UE) juntaram-se às condenações internacionais desta tomada de poder, a mais recente na região do Sahel. No total, já são seis governos derrubados por militares na África subsaariana desde 2020: nos últimos três anos foram registradas iniciativas desse tipo no Mali, na Guiné e em Burkina Faso, além de uma tentativa de golpe na Guiné-Bissau.

'Cinturão golpista': com Níger, África subsaariana sofre seis golpes de Estado em três anos

Em comunicado divulgado no sábado, o Conselho de Paz e Segurança da UA "exigiu aos militares que retornem imediata e incondicionalmente aos seus quartéis e restabeleçam a autoridade constitucional, no prazo máximo de quinze (15) dias". O bloco também condenou "nos termos mais fortes possíveis" a derrubada do governo eleito e expressou profunda preocupação com o "ressurgimento alarmante" de golpes militares na África.

Já o chefe diplomático da UE, Josep Borrell, disse em comunicado que o bloco europeu "não reconhece e não reconhecerá as autoridades" por trás do golpe e pediu a libertação imediata de Bazoum, que "continua sendo o único presidente legítimo do Níger".

Após motim: líder do Wagner é visto nas coxias de esvaziada cúpula Rússia-África organizada por Putin

Borrell anunciou a suspensão "indefinidamente e com efeito imediato" de toda a cooperação de segurança com o Níger e o fim da ajuda orçamentária. Ele também indicou que o bloco está pronto para apoiar futuras decisões tomadas pelo bloco regional da África Ocidental, "incluindo a adoção de sanções".

Na sexta-feira, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, garantiu por telefone a Bazoum, que apesar do isolamento tem conseguido receber telefonemas de diplomatas e de vários chefes de Estado, que ele conta com o “apoio inabalável” de Washington.

Antes do anúncio: Presidente do Níger é confinado em residência oficial durante tentativa de golpe de Estado da Guarda Presidencial

Reunião de líderes regionais

Os líderes da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) se reunirão no domingo em Abuja, na Nigéria, para avaliar a situação e as prováveis sanções.

Tiani, de 59 anos, permanecia fora dos holofotes, apesar de uma carreira estelar que o levou a liderar a Guarda Presidencial desde 2011, quando foi nomeado pelo ex-presidente Mahamadou Issoufou.

Fortalezas de sal no Saara: origem de 'cidades perdidas' no Níger é cercada de mistérios

Burkina Faso: golpe no golpe

Em 24 de janeiro de 2022, militares anunciaram na televisão que haviam tomado o poder e deposto o presidente Roch Marc Christian Kaboré. O tenente-coronel Paul Henri Sandaogo Damiba foi empossado como presidente pouco tempo depois, em 16 de fevereiro.

Na noite de 30 de setembro, porém, Damiba foi destituído e o capitão Ibrahim Traoré assumiu como presidente de transição até uma eleição presidencial programada para julho de 2024, que deve permitir que os civis retornem ao poder.

Saiba mais: Americano que ficou refém de grupo terrorista por mais de seis anos é libertado no Níger

Guiné: governo provisório desde 2021

Em 5 de setembro de 2021, um grupo de militares liderados pelo coronel Mamady Doumbouya, responsável pelas Forças Especiais da Guiné, derrubou o governo do presidente Alpha Condé, dissolveu as instituições do país, suspendeu a Constituição e fechou fronteiras, tanto aéreas quanto terrestres. Dois anos depois, um governo provisório continua à frente do Estado.