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Ka-52 Alligator: o helicóptero russo que interrompe a contraofensiva ucraniana no sul

O modelo, usado atualmente nos combates pesados ​​que ocorrem na região de Zaporizhia, foi aprimorado com um míssil com alcance de 15 mil metros

Agência O Globo - 29/07/2023
Ka-52 Alligator: o helicóptero russo que interrompe a contraofensiva ucraniana no sul

Em terreno plano como o sul e o leste da Ucrânia, em meio a uma guerra de trincheiras em que os avanços dos contendores são contados por metros, o controle aéreo se tornou essencial. É neste ecossistema que a Rússia possui uma arma chave, o helicóptero de ataque Ka-52 Alligator. Usado na guerra na Síria, Moscou o modificou para incorporar as melhorias que suas tropas identificaram no conflito e adaptá-lo às suas operações no território ucraniano, que ainda ocupa após a invasão massiva lançada em fevereiro de 2022. Os novos modelos incorporam um tipo míssil capaz de superar as defesas antiaéreas ucranianas com um alcance de até 15 mil metros.

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O Ministério da Defesa britânico considera este avião de combate – conhecido na OTAN como Hokum – “um dos sistemas de armas russos mais influentes” para contrariar o rufar da contraofensiva lançada por Kiev no sul do país. As forças de defesa ucranianas intensificaram o avanço agonizante nestes dias com tropas treinadas no Ocidente, equipadas com tanques Leopard de fabricação alemã e veículos americanos Bradley.

Tanto o Departamento de Defesa dos EUA quanto o Kremlin reconheceram o reforço dos ataques, graças aos quais as tropas ucranianas conseguiram romper temporariamente as linhas de defesa russas na cidade de Robotyne, nesta sexta-feira. O objetivo de Kiev é abrir uma brecha no corredor que liga o leste ocupado ao sul e à Crimeia para chegar às margens do Mar de Azov, ainda sob controle de Moscou.

É neste cenário de guerra que o helicóptero Ka-52 pode ser a chave para a Rússia parar ou pelo menos desacelerar o avanço ucraniano em Zaporíjia. Fabricada pela empresa russa Kamov, a força aérea russa possui essa aeronave desde 2010 e, três anos depois, foi apresentada internacionalmente no Le Bourguet International Air Show (França), uma das principais feiras aeronáuticas mundiais.

Graças ao seu rotor coaxial —formado por duas hélices que giram em direções diferentes— "possui uma manobrabilidade única que lhe permite realizar manobras de combate dentro de uma área mínima e no menor tempo possível para alcançar uma posição de ataque vantajosa", de acordo com o manufatureiro. Sua velocidade máxima é de 350 km/h e pode atingir uma altitude de 5,5 mil metros. A autonomia ultrapassa os 500 km.

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É uma aeronave blindada de dois lugares em que os pilotos sentam um ao lado do outro, e que possui um sistema de ejeção para eles em caso de ultrapassagem. Pode operar dia e noite e em qualquer tipo de situação climática graças aos seus sensores. Em sua variante básica, possui um canhão de 30 milímetros no lado direito e sob suas asas pode combinar vários tipos de projéteis em suas diferentes configurações: mísseis antitanque, mísseis ar-ar, foguetes não guiados (80 de 80 milímetros ou 10 de 122 milímetros) e bombas de diferentes calibres. Em missões de combate, este dispositivo pode transportar até 12 mísseis ar-superfície do tipo Vijr com alcance de até oito quilômetros para destruir tanques inimigos.

— São aparelhos que podem voar muito baixo, entre 50 e 100 metros de altura, o que os torna praticamente indetectáveis ​​para os ucranianos — explica o analista Guillermo Pulido, da revista Ejércitos. — Dada a superioridade aérea da Rússia, a Ucrânia não pode derrubá-los com seus aviões ou defesas antiaéreas de baixo nível. Além disso, os seus helicópteros de combate são muito mais rudimentares — acrescenta o especialista, que lembra que alguns destes aparelhos estão equipados com dispositivos que permitem desviar os mísseis que eventualmente sejam lançados contra eles.

— O Ka-52 é, em princípio, virtualmente imune a qualquer arma que os ucranianos possam usar contra ele; pode disparar foguetes de distâncias muito maiores do que os mísseis antiaéreos Stinger que os ucranianos têm, então é provável que seja uma boa arma para parar a contraofensiva — diz o analista.

O 305E quase dobra o alcance do Vijr, com um alcance de cerca de 15 quilômetros. É um dispositivo do tipo LMUR (abreviação de Light Multipurpose Guided Rocket, míssil leve multiuso guiado) com uma capacidade operacional e destrutiva muito maior. Aumentando seu alcance, ele carrega uma ogiva de 25kg, três vezes o tamanho dos foguetes anteriores usados ​​com o Ka-52.

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É um modelo bem maior (105kg), guiado por dispositivos óticos ou térmicos e cuja trajetória pode ser modificada em pleno voo via satélite, o que permite que o helicóptero de ataque se separe imediatamente do local de lançamento, mesmo sem ter previamente definido uma meta . Um míssil antiaéreo portátil Stinger, como os fornecidos pelos EUA para Kiev, tem um alcance máximo de cerca de 6 mil metros.

Nestas condições, os serviços de inteligência ucranianos devem desempenhar um papel central, segundo os especialistas consultados. A autonomia dessas aeronaves é muito limitada e é possível, com os meios tecnológicos atuais, conhecer antecipadamente a base de onde partem para suas operações e a trajetória que seguem até que seus objetivos estejam ao alcance. Os especialistas também apontam a possibilidade de usar dispositivos de guerra eletrônica capazes de desviar os novos mísseis que carregam.

Os russos perceberam a vantagem que a montagem desse tipo de munição nos helicópteros lhes dá e já a usaram. "As tripulações do Ka-52 foram rápidas em aproveitar as oportunidades para tentar lançar esses tipos de dispositivos além do alcance das defesas aéreas ucranianas", disse o relatório da inteligência britânica na quinta-feira passada.

Agora, resta saber se as armas fornecidas pelo Ocidente a Kiev são suficientes para que o exército ucraniano continue avançando para o sul, apesar da superioridade teórica que, segundo um de seus principais aliados, o Reino Unido, esses equipamentos militares podem dar a Moscou para parar seus impulsos.