Internacional
Piloto dos EUA é acusado de treinar ilegalmente militares da China e corre risco de extradição
Um ex-piloto militar e instrutor de voo dos Estados Unidos que dirigia uma consultoria de aviação na China está sob custódia na Austrália desde outubro de 2022, aguardando um pedido de extradição de seu país natal. A audiência de extradição do militar dos Estados Unidos foi adiada, nesta terça-feira, 25, para novembro, enquanto as autoridades investigam o papel de uma agência de espionagem australiana em sua prisão.
Dan Duggan, nascido em Boston, 54 anos, foi preso pela polícia australiana em outubro de 2022, perto de sua casa, em Orange, Nova Gales do Sul, e desde então luta contra a extradição. O ex-major do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos e instrutor de voo afirma que não fez nada de errado e é uma vítima inocente de uma luta de poder entre Washington e Pequim.
"Este é um sinal, envio de sinal. Não tem nada a ver comigo pessoalmente", disse Duggan à Australian Broadcasting Corp. em um telefonema da prisão de segurança máxima. "Tem mais a ver com o sinal que eles querem enviar no sentido geopolítico", afirmou ele em entrevista transmitida na segunda-feira.
Em uma acusação de 2016 do Tribunal Distrital dos EUA em Washington, DC, aberta no final de 2022, os promotores dizem que Daniel Duggan conspirou com outros para fornecer treinamento a pilotos militares chineses em 2010 e 2012, e possivelmente em outras ocasiões, sem solicitar uma licença apropriada.
Os promotores dizem que Duggan recebeu cerca de nove pagamentos, totalizando cerca de US$ 61 mil (R$ 290 mil) e viagens internacionais de outro conspirador para o que às vezes é descrito como "treinamento de desenvolvimento pessoal".
Duggan serviu nos fuzileiros navais dos EUA por 12 anos antes de imigrar para a Austrália em 2002. Em janeiro de 2012, ele obteve a cidadania australiana, optando por desistir de sua cidadania americana no processo. Ele morou na Austrália de 2005 a 2014, fundando e tornando-se piloto-chefe da Top Gun Tasmania, uma empresa que oferecia voos em um BAC Jet Provost e um CJ-6A Nanchang. Em 2014, ele se mudou para Pequim.
A acusação diz que Duggan viajou para os EUA, China e África do Sul e forneceu algum treinamento para pilotos chineses na África do Sul. Os Estados Unidos têm um tratado de extradição com a Austrália desde 1976.
Piloto pode ter sido atraído para Austrália
Os advogados de Duggan conseuiram no Tribunal Local de Downing Center em Sydney para que a audiência de extradição fosse adiada para 24 de novembro, enquanto aguardam as conclusões sobre a alegação de que Duggan foi ilegalmente atraído da China de volta à Austrália em 2022 para ser preso.
O Inspetor-Geral de Inteligência e Segurança Christopher Jessup, regulador das seis agências de espionagem da Austrália, anunciou em março que estava investigando a alegação de Duggan de que a Organização Australiana de Inteligência de Segurança, conhecida como ASIO, fazia parte de uma manobra dos EUA para extraditá-lo.
Duggan voltou da China para trabalhar na Austrália depois de receber uma autorização de segurança da ASIO para uma licença de aviação. Poucos dias depois de sua chegada, a autorização da ASIO foi removida, o que seus advogados argumentam que tornou a oportunidade de trabalho uma isca ilegal para a extradição dos país parceiro EUA. Eles esperam que as descobertas de Jessup forneçam motivos para se opor à extradição e solicitar sua libertação da prisão sob fiança antes que a questão da extradição seja resolvida.
Os motivos de Duggan para resistir à extradição incluem sua alegação de que a acusação é política e que o crime do qual ele é acusado não existe sob a lei australiana. O tratado de extradição entre os dois países exige que um suspeito só possa ser extraditado por uma alegação que seja reconhecida por ambos os países como crime. O governo australiano está revisando as leis para garantir que ex-militares não possam vender seus conhecimentos aos militares chineses.
Saffrine Duggan, esposa de Duggan e mãe de seus seis filhos, falou a mais de 20 apoiadores que protestaram fora do tribunal por sua libertação. "Eu nunca teria pensado que isso poderia acontecer na Austrália, muito menos em nossa família", disse ela. "Minha família é corajosa e forte, assim como nossos amigos e meu marido, mas estamos todos terrivelmente separados." Ela disse, em fevereiro, que a Austrália mantinha seu marido em condições desumanas.
Dan Duggan disse que os pilotos chineses que ele treinou enquanto era contratado pela escola de aviação Test Flying Academy da África do Sul em 2011 e 2012 - o período abrangido pelas acusações - eram civis, e nada do que ele ensinou foi confidencial. Seu advogado, Bernard Collaery, disse que as marinhas australiana e chinesa estavam envolvidas em exercícios de treinamento conjuntos na época em que Duggan foi acusado de "associar-se ao inimigo".
"É um padrão duplo, é hipocrisia", disse Collaery. "Se a Austrália o extraditar, podemos vê-lo se tornar um peão neste jogo da China. É muito preocupante", afirmou o advogado.
(Com AP)
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